Criada em 2020, a startup de delivery AppJusto nasceu para oferecer taxas e regras mais justas para entregadores e restaurantes. A ideia era gerar impacto social positivo na gig economy (de trabalhadores autônomos, como no caso dos entregadores) e oferecer uma alternativa para o monopólio do delivery de restaurantes, hoje concentrado nas mãos do iFood com aproximadamente 80% do mercado. Porém, os planos foram interrompidos: a plataforma anunciou nesta sexta-feira (6) a suspensão de suas operações.
“É com muito pesar que informamos a suspensão das operações do AppJusto”, disse a companhia em um post no LinkedIn. “Nossas estratégias de crescimento e captação de recursos infelizmente não foram bem sucedidas. Sem o fluxo de caixa e equipe adequados, chegamos ao limite do que poderíamos fazer e entendemos que a suspensão das operações se faz necessária agora.”
O AppJusto chegou a levantar mais de R$ 1,8 milhão em uma oferta de equity crowdfunding na plataforma Kria, em 2022. A captação atraiu 939 investidores – um número recorde da modalidade no Brasil. Na época, a plataforma já tinha cerca de 17 mil entregadores cadastrados, dos quais 3 mil já foram aprovados na capital paulista, e mais de 300 restaurantes em operação (de um total de 900 cadastrados).
Desde a sua fundação, o AppJusto realizou mais de 70 mil entregas, que geraram ganhos 38% maiores para entregadores e mais de R$ 1 milhão em economia de taxas para restaurantes, contribuindo com os ODS 8 (trabalho digno e crescimento econômico) e 10 (reduzir as desigualdades). “Tem sido uma construção coletiva, com objetivo de disponibilizar uma tecnologia que aumente os ganhos ao invés de ser um intermediário que explora”, pontua.
As operações foram pausadas por tempo indeterminado. Embora não revele os próximos passos, a startup deixa um convite para players e lideranças que queiram ajudar a acender as luzes novamente. “Se você fizer parte de alguma organização que acredita no impacto e na viabilidade do projeto, queremos falar com você. Seguimos acreditando na importância de combater o monopólio e a precarização do trabalho, usando a tecnologia para criar negócios sociais justos”, diz a empresa, em nota.
As “vítimas” do monopólio
A suspensão das atividades do AppJusto marca mais um episódio na guerra dos serviços de delivery no Brasil. A lista de “vítimas” inclui o espanhol Glovo, que encerrou as operações por aqui em 2019, o Uber Eats, que deixou o país no início de 2022, e o 99Food, que encerrou as operações no Brasil em 2023.
Em 2021, o Uber Eats e o Rappi entraram com um processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra o iFood, com acusações de práticas “anti-competitivas”. O Rappi questionou os contratos de exclusividade firmados entre o iFood e alguns restaurantes, e o Uber Eats alertou que o iFood tinha exclusividade com 55% dos restaurantes Top 100 do Brasil e 6 das 10 maiores pizzarias da cidade de São Paulo.
Dois anos depois, o Cade firmou um acordo com o iFood que limita a exclusividade nos contratos entre o iFood e seus restaurantes parceiros. “Acreditamos na importância da intervenção do órgão em casos como esse para garantir um ambiente competitivo saudável, favorecendo o mercado como um todo e, especialmente, os restaurantes e consumidores”, destacou o Rappi, em nota enviada ao Startups na época.