Primelis
Daniel Topper, CEO da Primelis no Brasil (Foto: Divulgação)

A Primelis, martech francesa especializada em performance digital e inteligência de marca, acaba de chegar ao Brasil em um momento de expansão internacional acelerada. Após consolidar operações na Europa e registrar forte tração nos Estados Unidos, onde o escritório aberto há cinco anos já responde por cerca de 40% da receita global, a companhia escolheu o Brasil como seu primeiro ponto na América Latina.

Com receita anual aproximada de US$ 40 milhões, mais de 300 clientes ativos e equipes distribuídas entre França, Estados Unidos, Israel, México e Panamá, a Primelis reúne cases globais com marcas como Crocs (onde ajudou a reduzir mais de 70% dos custos de mídia mantendo a performance) e Galeries Lafayette, além de Dyson, Slack, Stripe e Copa Airlines.

A expansão da scale-up é apoiada por um investimento do fundo Sagard, de valor não divulgado, que desde 2024 vem impulsionando a abertura de novos mercados.

A Primelis no Brasil

A operação brasileira será liderada por Daniel Topper, executivo com mais de 17 anos de experiência em tecnologia e e-commerce, com passagens por Loggi, Zarpo e Mirakl. Segundo ele, a decisão de estrear na América Latina a partir do Brasil foi guiada por dois fatores principais: o tamanho do mercado e seu grau de maturidade.

“O Brasil aparece no topo dos rankings depois dos Estados Unidos quando olhamos para número de empresas, investimento em marketing digital e potencial de adoção das nossas ferramentas”, afirma.

Ele acrescenta que o comportamento do mercado brasileiro se aproxima mais dos padrões norte-americanos e europeus do que de outros países, o que reduz barreiras de adaptação tecnológica. “O Brasil é mais parecido com os EUA do que China, Índia ou Japão. Em marketing digital, as lógicas são semelhantes e temos poucas coisas para adaptar em termos de tecnologia”, diz.

O mercado local de agências e consultorias digitais é competitivo, e o próprio Topper reconhece a intensidade dessa disputa. Ainda assim, ele afirma não atuar em um mercado ‘winner takes all’. “A gente não quer ter 100% do market share. Inclusive, trabalhamos em parceria com agências de todos os portes”, pontua.

Para o executivo, o diferencial da Primelis está no modelo tech + serviços. A companhia combina elementos de uma consultoria tradicional com tecnologia proprietária, desenvolvida internamente por um time de engenheiros e cientistas de dados. “Nossa visão é ir além dos serviços das agências. Desenvolvemos nossos próprios produtos, adicionando uma camada tecnológica ao trabalho que muitos players fazem apenas via consultoria”, diz Topper.

Parte da operação no Brasil será dedicada a adaptar nuances do mercado local aos seus algoritmos. Entre os pontos que já estão sendo incorporados estão o parcelamento sem juros como mecanismo central de conversão, a agressividade competitiva em setores como varejo e serviços financeiros e a velocidade das tendências brasileiras em e-commerce e fintech.

Além da adaptação técnica, a Primelis pretende criar um polo de talentos brasileiros. “O país tem um mercado de talentos grande e muito forte. Queremos usar esses profissionais para atender clientes locais, mas também para alguns clientes lá fora, levando as competências que vemos no Brasil para outros países”, afirma Topper.

A operação será inicialmente remota, com um pequeno time já sendo estruturado para o início de 2026.

Projeções de crescimento

A Primelis não abre metas específicas para o país, mas indica que o Brasil deve ter participação relevante no novo ciclo de expansão global. “Nos próximos dois ou três anos, queremos que o mercado brasileiro tenha peso real na receita da empresa”, diz Topper.

No plano consolidado, a Primelis tem como meta atingir € 100 milhões em faturamento nos próximos três anos e realizar 70% de suas vendas fora da França em um horizonte de dois a três anos, tendo o Brasil como uma das peças-chave desse movimento.

Embora a empresa mantenha a cultura de startup, Topper afirma que a Primelis já opera em um estágio de scale-up, impulsionada pela presença global, pelo time de cerca de 200 colaboradores e pelo ritmo acelerado de inovação.

“Temos pouca burocracia e muita agilidade, com novas funcionalidades lançadas semanalmente. Ao mesmo tempo, somos uma empresa lucrativa há anos e temos o apoio do fundo Sagard, o que contribui para a trilha de crescimento sustentável. É o melhor dos dois mundos”, resume.

A expansão é sustentada por uma estratégia de aquisições que amplia as capacidades e a presença global da companhia. A mais recente foi a compra da Omny AI, startup especializada em otimização de vendas na Amazon. Desde sua criação, em 2012, a Primelis já adquiriu quatro empresas.

Tecnologia no centro

A Primelis afirma não utilizar ferramentas de prateleira, apoiando os clientes com um stack proprietário desenhado para otimizar resultados com incrementalidade real.

Entre as principais soluções está o Signal, um SaaS de bidding inteligente em tempo real que analisa milhares de páginas de resultados do Google, combinando dados de mídia paga e orgânica. A plataforma identifica onde é possível reduzir investimento sem perda de eficiência, a partir de sinais de concorrência, cliques e conversões. Segundo a empresa, marcas globais chegam a reduzir entre 40% e 70% dos custos de mídia mantendo a performance.

Outra solução é o Outrank, focado em ampliar a visibilidade orgânica não apenas no Google, mas também nos novos motores de resposta baseados em IA, como ChatGPT, Perplexity e Gemini. “A tecnologia identifica como a marca aparece nas buscas dos LLMs, quais os principais concorrentes e como ela poderia se destacar mais”, destaca Topper. “A tecnologia entende como os robôs navegam no site, e ajudamos a empresa a construir arquitetura e conteúdo para subir nos rankings desses LLMs de forma orgânica.”

Segundo o executivo, o tráfego vindo de LLMs corresponde a apenas 3% a 7% da audiência das marcas atualmente. Ainda assim, ele observa que o impacto tende a crescer rapidamente. “Ainda é embrionário, mas tem se tornado cada vez mais importante. A marca que não estiver presente nesses canais vai se tornar invisível para alguns públicos. O custo de não estar lá pode ficar insustentável daqui a alguns anos”, diz.