* Maria Laura Saraiva, especial para o Startups
Em 2022, o Brasil teve um crescimento de 60% no número de relacionamentos declarados entre empresas e startups, segundo dados do relatório “Top Open Corps 2022”, elaborado pela 100 Open Startups, plataforma especializada em open innovation. O ranking ainda mostrou que o valor total de contratos de fechados entre corporações e startups neste ano alcançou o montante de R$ 2,7 bilhões, valor equivalente a um ticket médio de R$ 260 mil por negócio.
Em alta no país, o debate sobre os impactos da inovação aberta na transformação de corporações pautou o debate entre Alexandre Castro, gerente de inovação da distribuidora de energia Energisa e Bruno Rondani, fundador e CEO da 100 Open Startups. A conversa fez parte da programação do evento Metamorfose, realizado pela Energisa em parceria com o Startups, na sede da Google for Startups na manhã de terça (25).
O encontro no Google for Startups reuniu fundadores, investidores e nomes do ecossistema de inovação para falar sobre inovação aberta e dados. O evento foi transmitido na íntegra pelo canal do Startups no YouTube e a gravação está disponível neste link.
A junção dos ecossistemas é, para Bruno, talvez a maior fonte de inovação atual. Por isso, ele afirma que a tendência já se mostra solidificada no mercado, embora a cadeia produtiva esteja sentindo os impactos de forma tardia. “Essa adaptação agora é um risco pessoal dos profissionais, não mais da organização”, afirma. Enquanto os executivos se vêm cobrados, talvez pela primeira vez, por elementos incertos que fogem das análises tradicionais do mercado, as startups olham para as mesmas incertezas em busca de novas oportunidades, explica.
Essa quase oposição de regras pode ser fruto de conflitos, alerta Alexandre. Mas apesar das escolas distintas, é importante deixar claro que o setor de inovação está lá para fornecer ferramentas e meios que facilitem a atuação dos executivos de determinado departamento. “Entre todos os impactos do relacionamento com startups, considero a transformação cultural a maior e mais importante delas”, pontua.
No caso da Energisa, o gerente destaca esforços como a recente criação de um programa de mentoria em que executivos são convidados a se aprofundar no dia a dia de startups na tentativa de convergir os dois mundos. Outro exemplo é a expansão desse mindset ao nível de colaboradores, iniciativa que já rendeu frutos internos. “Um dos funcionários que havia criado uma solução improvisada para o campo teve a sua ideia lapidada e transformada em uma ferramenta que foi adotada por todo seu setor. Esse tipo de case é o que vira cultura”, relata.
Inovação que gera impacto
Se por um lado, o investimento em inovação é praticamente sinônimo de resultado no meio empresarial, por outro, há a necessidade de alinhamento de interesses e expectativas entre startups e corporações. Na maior parte dos casos, na prática, a questão não está ligada à rentabilidade direta do negócio, mas sim ao potencial de retorno para a grande empresa, afirmam.
“Empresas como o Uber podem não ter o EBITDA (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização, na tradução em português) positivo, mas ninguém questiona o seu impacto”, coloca Rondani. Comparando o mercado de venture capital com o de open innovation, o CEO diz que as métricas de desempenho se mantêm semelhantes em ambos os modelos. “Continuamos tendo uma média de 100 negócios que integram o portfólio, dos quais 10 apresentam algum bom resultado e 1 apresenta um resultado extraordinário, que paga a conta”, afirma.
Em sintonia com essa necessidade de alinhamento, surgem novas formas de recrutamento e match entre os ecossistemas. Nesse caso, quanto mais as empresas se debruçarem sobre as dores do mercado e suas próprias demandas, melhores serão os resultados para ambos os lados, conclui a dupla. Dessa forma, muito além do pitch, torna-se crucial a conexão e troca de feedbacks pelas partes interessadas.