Depois de um 2023 focado mais na eficiência do que no crescimento do negócio, agora a Buser está pronta para pisar novamente no acelerador – mas com parcimônia. A plataforma de viagens de ônibus acaba de chegar à marca de 11 milhões de clientes cadastrados e espera crescer o faturamento em 30% em 2024, mantendo margens positivas mês a mês e uma expansão cada vez mais sustentável.
“Muitas empresas tiveram que fazer o dever de casa no último ano. No caso da Buser, mudamos a visão e paramos de olhar só para o crescimento e aumento de receita para focar na geração de caixa e na rentabilidade da operação”, afirma Marcelo Vasconcellos, cofundador da Buser, em conversa com o Startups. Após uma série de mudanças estruturais, otimização de processos e redução de custos – incluindo duas levas de demissão em massa – a companhia conseguiu o seu primeiro fluxo de caixa positivo semestral, de R$ 10 milhões.
“Saímos de uma queima expressiva e começamos a gerar caixa ao longo de todo o segundo semestre de 2023”, revela Marcelo. Embora a Buser ainda não esteja oficialmente no breakeven, o executivo diz que alcançar a lucratividade do negócio já está “no horizonte”. “Estamos gerando caixa há vários meses seguidos – isso quer dizer que a Buser está se pagando. Foi graças à virada de chave de 2023 que conseguimos parar de queimar caixa, nos colocando em uma posição muito boa junto aos investidores. Conseguimos demonstrar eficiência e isso já é um primeiro importante marco para nós”, pontua.
O redirecionamento do negócio, somado ao boom das férias e das viagens de verão, fez com que a plataforma transportasse cerca de 1 milhão de passageiros entre dezembro e janeiro – 15% a mais que no mesmo período do ano anterior. No Carnaval, o volume médio de viajantes também cresceu no mesmo ritmo, mas em algumas rotas chegaram a saltar 50% entre uma semana e outra. Já na semana antes do feriado, as buscas por viagens de ônibus no site e aplicativo aumentaram 30% na comparação com 2023.
Aproveitando o aumento da demanda, o plano da Buser é retomar a expansão em 2024 respeitando os aprendizados do último ano. “Estamos voltando a olhar para o crescimento, porém vamos fazer isso com parcimônia, priorizando o crescimento moderado e sem queima de caixa. O mercado de investimentos ainda está lento, sem aquela chuva de dinheiro que houve no passado. Fizemos um trabalho difícil no ano passado e agora temos mais tranquilidade para pensar no longo prazo”, avalia Marcelo.
Crescimento sustentável
A expansão será um pouco diferente do que a Buser fez em outros tempos. Se antes o grande objetivo era chegar em novas cidades, agora o foco é fortalecer a operação onde a empresa já atua e possui alta demanda, especialmente na região Sudeste e no Paraná, onde voltou a operar em 2023. “Crescer onde já somos conhecidos é mais fácil e barato, enquanto a entrada em novas praças exige um investimento maior em marketing, mídia e divulgação”, explica Marcelo.
A expectativa é lançar 60 novos trechos nos próximos meses, ligando principalmente Minas Gerais a cidades fluminenses. Além disso, a companhia pretende oferecer mais horários e grupos em rotas clássicas como RJ – SP e BH – SP, e chegar a duas novas cidades no Paraná: Foz do Iguaçu e Cascavel.
Segundo o cofundador da Buser, esse crescimento será feito com recursos próprios, sem a necessidade de uma nova rodada de investimentos. “Desde que começamos a gerar caixa, estamos bem mais tranquilos. Obviamente, seguimos conversando com o mercado e investidores, mas não há perspectivas para uma captação este ano. Como fizemos o dever de casa bem feito, temos paciência, esperando o mercado dar uma melhorada nesse aspecto”, afirma.
A rodada mais recente foi uma série C anunciada em junho de 2021. O aporte de R$ 700 milhões foi liderado pela LGT Lightrock, com participação de Iporanga Ventures e antigos investidores como Softbank, monashees, Valor Capital Group, Globo Ventures e Canary. Embora não revele o seu valuation, a Buser está entre as 12 startups brasileiras com maior chance de se tornarem os próximos unicórnios, segundo o Distrito.
Questionado sobre os planos do IPO, Marcelo reforça o que já havia dito no ano passado, com uma possível abertura de capital em 2027 ou 2028. “O IPO é um caminho natural. À medida que a empresa cresce e se torna mais relevante, esperamos dar alguma saída para nossos investidores. A perspectiva se mantém, mas hoje o foco é crescer, tornar o negócio sustentável e olhar para isso só mais para frente”, finaliza.