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Momento é complicado para empreender por conta dos juros, diz Abílio Diniz

Em conferência do banco Credit Suisse, o empresário afirmou que tal decisão depende da disposição e momento de quem vai empreender

Foto: Gustavo Brigatto
Foto: Gustavo Brigatto

Para conter o avanço da inflação, os bancos centrais de todo o mundo tiveram que aumentar os juros. Mas o remédio tem seus efeitos colaterais negativos. E um deles é tornar a vida de quem quer empreender mais difícil. Ainda mais no Brasil. “Os juros reais são quase o maior do mundo. É muito pesado para empreender”, disse o ex-GPA e atual vice-presidente do conselho do Carrefour, Abílio Diniz.

Ele participou hoje pela manhã da conferência anual do banco Credit Suisse em São Paulo. O painel foi mediado por João Camargo, fundador do grupo Esfera e presidente do conselho da CNN, e contou com a participação de Rubens Menin, presidente do conselho da MRV, do banco Inter e dono da CNN.      

Questionado pelo Startups se seria o caso de não empreender por conta do momento, Abílio disse que essa decisão depende muito da disposição e do momento de quem vai se lançar nessa jornada.  

Se vale de alguma coisa, apesar de toda a celeuma de demissões e contenção nos investimentos, a opinião deste Startups continua sendo de que nunca houve melhor momento para empreender, ou investir em novos negócios que tenham a tecnologia como base de suas operações. O mundo não vai ficar menos digital, nem mais simples nos próximos anos e décadas. As oportunidades estão aí para serem abraçadas.

Menin reforçou o coro dos juros altos dizendo que, em 50 anos empreendendo, não viu muitas os juros reais na casa dos 8%. “Isso é muito. Sangra as famílias, as empresas”, avaliou. Para ele, o medicamento é correto, mas o tempo do tratamento não pode ser muito longo para não matar o paciente.

Nos EUA, o FED já dá sinais de que o ciclo de aumento nos juros pode ter se encerrado. Aqui no Brasil, ainda não há uma manifestação clara. Abílio disse acreditar na independência do Banco Central e que a equipe liderada por Roberto Campos Neto tem todas as condições técnicas para avaliar quando será o momento de corrigir a rota.  

Para Menin, não adianta fazer essa redução na marra. É preciso criar as condições para que isso aconteça, fazer o dever de casa interno. E isso passa por pontos como a reforma tributária, reforma administrativa, controle de gastos e endividamento do governo e segurança jurídica e política no país.

Para Rubens e Abílio, o momento é de união, de criar um pacto social que permita que o Brasil aproveite fortalezas como o mercado interno grande para concretizar a promessa que foi feita quando a sigla BRICS estava em alta.  Os dois foram unânimes em dizer que o Brasil é o país com melhores oportunidades no atual momento.

“O primeiro mundo é aqui. Temos tudo do primeiro mundo aqui e não deve nada a ninguém”, disse Abílio. Ele destacou que há muito dinheiro no mundo e ele quer vir para o Brasil. Mas é preciso saber atraí-lo. E isso passa pelas questões do dever de casa interno. Abílio disse não ter medo do atual governo e se classificou como um liberal com tendências keynesianas. Menin também foi em uma direção parecida, dizendo que é fundamental aumentar a participação da iniciativa privada nos investimentos, mas que, em um país como o Brasil, o estado precisa ter um papel na redução das desigualdades.