A fintech de financiamento baseado em receita (que é diferente de venture debt) a55 fechou uma rodada de R$ 92,8 milhões (US$ 17 milhões). O aporte foi liderado pela Movile e marca o 1º investimento da dona do iFood – que não quer ser vista apenas dessa forma, mas sim como uma “investidora de longo prazo em empresas de tecnologia” – em uma companhia que não tem relação tão direta com os seus negócios. Anteriormente ela tinha investido na Zoop e na criação da MovilePay.
A rodada também contou com a participação da Mouro Capital (antigo Santander Innoventures) que começou a investir na a55 em uma rodada de US$ 7 milhões feita em 2020. Em 2021 a fintech fez uma captação de equity e dívida de US$ 35 milhões.
Com os novos recursos, a a55 pretende ampliar sua carteira de clientes, reforçando sua operação no Brasil e também no México, onde começou a atuar em 2020. A companhia já atendeu 500 clientes e originou R$ 300 milhões desde o início de suas operações em 2018.
A carteira hoje está muito concentrada em empresas de tecnologia com receita recorrente e tem crescido no segmento de comércio eletrônico. Só no 3º trimestre de 2020 foram originados mais de R$ 30 milhões em créditos para uso em capital de giro, compra de estoque e marketing digital. Isso tem sido feito por meio de parcerias com plataformas como Galax Pay, Loja Integrada, Magis5 e BWC. Segundo André Wetter, cofundador e presidente da a55, a ideia é buscar clientes de assinatura e recorrência em outros segmentos.
No lado do produto, o plano é ampliar a oferta para além do crédito e virar um fornecedor de serviços financeiros que ajudem as empresas a crescerem, tendo como base o relacionamento e o conhecimento da operação desenvolvido a partir da concessão de crédito.
“Éramos uma empresa de crédito que estava desenvolvendo uma inteligência de crédito com dados alternativos. Agora chegou a hora de dar o próximo passo, expandir mais o mercado, atingir mais empresas”, diz Hugo Mathecowitsch, CEO e cofundador da a55.
Segundo Hugo, o plano é chegar até o fim do ano com R$ 1 bilhão em créditos concedidos e uma carteira total de R$ 500 milhões. Ele acrescenta que uma parte dos recursos usados nas operações virá da atual rodada. Apesar de o uso de equity para esse tipo de operação não ser o mais indicado, ele explica que assumir esse risco acaba sendo uma exigência do mercado. Além de ser uma oportunidade de ganho com o spread das operações.
De acordo com ele, a Movile vai ajudar muito no processo de estruturação dessas operações e também na captação de novos fundos. A companhia também será importante nessa fase de expansão por conta de sua experiência na América Latina, em mercados como marketplaces, jogos e consumo, além de todo conhecimento em desenvolvimento de tecnologia. “Queremos alavancar o nosso fin usando muito o tech, automatizando tudo o que desenvolvemos até agora”, diz Hugo.
Dentre as possibilidades previstas está o uso da infraestrutura de banco como serviço da Zoop. “Mas só vamos fazer se fizer sentido, não queremos forçar nada”, diz Fábio Massuda, diretor de estratégia e investimentos da Movile.
Na avaliação de Fábio o cenário macroeconômico está complicado. Mas as ofertas da a55 têm uma clara oportunidade de crescimento. Isso porque em um ambiente volátil, a tendência é que os negócios busquem caminhos alternativos para financiar suas operações. “A demanda tende só a crescer. Especialmente porque o mercado é pouco atendido”, avalia.
Para Hugo, a estratégia de criar produtos que ajudam as empresas a crescer deixa a a55 mais confortável mesmo diante do cenário de aumento de juros, que encarece a concessão de crédito. Se a gente entrega crescimento, mesmo sendo mais caro, é fácil de pagar porque é nítido o que sobra no bolso”, diz.