A fintech MovilePay, que pertence ao grupo Movile (dono do iFood), dispensou mais de 40 funcionários na última semana. O Startups apurou que a redução é resultado de uma reestruturação interna da holding: a MovilePay está sendo integrada às operações do iFood, que já era o seu principal cliente. Em março, por conta deste processo, a companhia já tinha dispensado cerca de 100 pessoas.
Há duas semanas, o então presidente da MovilePay, Daniel Bergman, publicou um texto no LinkedIn comunicando que estava deixando as operações da fintech, sem dar detalhes do motivo de sua saída. “Essa semana deixarei a MovilePay. Empresa que comecei junto com pessoas incríveis em 2018. Fica um pedaço dela comigo, e deixo um pedaço meu com ela”, escreveu. O Startups apurou que quem assumiu a operação foi uma vice-presidente do iFood. Daniel assumiu como vice-presidente de inovação e clientes da fintech Bulla.
Em entrevista ao Startups em agosto/21, quando anunciou a captação de um FIDC de R$ 200 milhões, o agora ex-presidente da MovilePay disse que a ambição era se tornar a maior fintech do Brasil, com 100 milhões de contas. “Quero ser maior que o Nubank e o PagSeguro juntos”, projetava Daniel.
Razão dos cortes
“Disseram que havia uma reestruturação e por isso ocorreram os desligamentos, que era necessário que [o corte] fosse feito”, disse um ex-funcionário da MovilePay ouvido pelo Startups. Outro funcionário demitido afirma que a justificativa foi “mudança de estratégia por parte dos diretores”. “Com isso, alguns projetos que estavam em andamento foram descontinuados e todos os envolvidos foram mandados embora”, explicou.
O Startups procurou a Movile em busca de mais informações sobre as movimentações, mas a companhia não retornou a solicitação. Mesmo sem um anúncio oficial, o site da MovilePay já apresenta a fintech como uma solução de cartão, crédito e conta digital do iFood.
A notícia das demissões chega em meio ao cenário turbulento no mundo das startups, resultado das altas taxas de juros, inflação crescente incertezas políticas e do ambiente macroeconômico. A Movile se junta à lista de unicórnios como Loft, Ebanx, VTEX e Facily, que somadas demitiram mais de 1.300 pessoas nos últimos meses.
Segundo uma pessoa próxima à operação, a movimentação na MovilePay não está diretamente ligada a este cenário. A motivação principal seria mesmo a redução de redundâncias. Mas o corte teria sido ampliado em razão da situação do mercado para permitir uma maior redução de custos.
A Movile já fez ajustes no iFood e também na empresa de jogos Afterverse. Em junho, a companhia anunciou um corte de 20% do quadro – cerca de 60 funcionários de um total de 270.
ATUALIZAÇÃO: Após a publicação da matéria, a Movile e a MovilePay enviaram um posicionamento para o Startups comentando as movimentações:
“A MovilePay está reestruturando algumas áreas em busca de maior eficiência e foco para o negócio. Infelizmente o processo de priorização e de revisão levou ao desligamento de algumas pessoas e à desaceleração de novas contratações. Esse movimento não tem relação com o iFood, que sequer é acionista da empresa. A fintech informa ainda que Thomas Barth, na empresa há cerca de três anos, foi promovido a COO e está à frente da companhia. Durante quase quatro anos Daniel Bergman liderou a companhia, ajudando-a a crescer até se tornar uma fintech relevante. Agradecemos sua dedicação e desejamos boa sorte no novo desafio”, disse a MovilePay, em nota.
“A Movile, enquanto investidora de longo prazo, dá autonomia para que as investidas tomem as decisões que considerem acertadas sobre o seu negócio. No entanto, é importante ressaltar que o contexto global vem demandando, de maneira mais intensa, ajustes de planejamento e repriorização de iniciativas em empresas de todo o mundo, sendo necessário, em algumas situações, o redimensionamento de equipes. A Movile reforça, ainda, que segue acreditando e apoiando as companhias que fazem parte do seu portfólio”, disse a holding, em nota.