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Mulheres e jovens sofrem mais com exaustão no trabalho, aponta Zenklub

A startup publicou a segunda edição de seu índice de bem-estar corporativo, que revela o estado do adoecimento mental em empresas

Mulheres e jovens sofrem mais com exaustão no trabalho, aponta Zenklub

Mulheres e jovens são os públicos que mais sofrem com pressão em diversos aspectos da saúde mental no ambiente de trabalho, como exaustão. O dado é de uma pesquisa sobre o bem-estar corporativo publicada hoje (24) pela healthtech Zenklub.

Com base em contribuições de 500 trabalhadores registrados de empresas brasileiras dos segmentos de indústria, serviços e comércio, a segunda edição do estudo foi conduzida em março deste ano. A ferramenta utilizada foi um questionário de 31 perguntas, desenvolvido por times de educação corporativa, medicina e psicologia em parceria com psicometristas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em uma escala de 0 a 100, o estudo analisa nove facetas da saúde mental no ambiente de trabalho: relacionamento com líderes, relacionamento com colegas, conflitos, exaustão, preocupação constante, desconexão do trabalho, volume de demanda, autonomia e participação e clareza das responsabilidades. A média nacional de bem-estar é 61,7, frente a 74,0 entre as empresas que investem em saúde mental.

Entre os aspectos analisados, a pesquisa revela que mulheres tiveram os piores resultados nos aspectos exaustão (53,3), preocupação constante (47,3) e em termos de volume de demanda (37,3). Nestas facetas, quanto menor o índice, melhor o resultado. Na comparação com homens, a diferença média entre as facetas analisadas é de de cerca de 9 pontos.

Profissionais mais jovens também enfrentam mais problemas de saúde mental no ambiente corporativo. Segundo o estudo da Zenklub, pessoas entre 25 e 34 anos tiveram os piores índices de exaustão (52,6), ao passo que pessoas de 45 a 70 anos apresentaram melhores resultados em todos os aspectos comparáveis, especialmente quando estão em cargos de liderança.

Por outro lado, quando o assunto é a tríade de demanda, controle e função, que se referem a eficiência na organização da rotina de trabalho, mulheres tem um melhor resultado (55,4 versus 49,6). Neste aspecto, onde problemas podem incluir um volume de entregas em um volume superior ao da jornada de trabalho, colaboradores da faixa etária de 44-70 anos também tem melhores resultados.

Em termos de habilidade de desconexão do trabalho, que se refere ao respeito às jornadas de trabalho e pausas, os trabalhadores consultados geraram uma média de 42,0. Aqui, atitudes e comportamentos que podem indicar problemas incluem ficar em alerta mesmo quando o colaborador não está trabalhando, ou o envio de cobranças para o outro dia, deixando a pessoa que recebe a mensagem com a sensação de que não pode descansar.

A exaustão (que é um dos principais aspectos do burnout e incluem aumento do sentimento de negativismo sobre o trabalho e redução da eficácia profissional) e a preocupação constante (que não conseguem se desconectar do trabalho e se sentem culpados em tirar folga ou férias) representam 69% do índice de bem-estar do trabalhador brasileiro, ou seja, são os dados que mais impactam na média nacional de 61,7.

Segundo o índice, o estado atual da saúde mental no trabalho no Brasil sugere que empresas precisam fazer mais para chegar no que seria uma jornada de melhoria, acima de 78,2.

Para prevenir o adoecimento mental entre colaboradores – já que o burnout agora é considerado uma doença ocupacional – empresas tem buscado o apoio de healthtechs ativas em áreas como terapia online e conteúdo focado em saúde mental, como a própria Zenklub, além de outros players como a Vittude e Beetouch. Para atender demandas de públicos específicos, como a base de pessoas negras colaboradores de empresas, startups como a AfroSaúde estão se movimentando na frente B2B.

Qual é o cenário nas startups?

O número de novos negócios com foco em saúde mental só cresce, mas quando o assunto é como o próprio ecossistema de startups lida com questões de saúde mental, a coisa muda de figura. O segmento é percebido por especialistas como um dos mais vulneráveis ao estresse, pois envolve pressão por resultados, lucros, responsabilidade, produtividade e uma gestão infalível de tempo.

Em abril deste ano, o Startups conduziu uma pesquisa sobre o tópico de saúde mental em novas empresas de base tecnológica. De acordo com o levantamento, 40% acham que startups são melhores em cuidar da saúde mental de colaboradores, enquanto 36% acreditam que elas são um pouco melhores neste quesito, e 24% acham que startups são tão ruins quanto ambientes de trabalho tradicionais.

Outra pesquisa, feita a pedido do Startups pelo Festa da Firma, perfil de memes corporativos no Instagram, também investigou opiniões sobre o tema de saúde mental.

Dos cerca de 4mil respondentes que disseram trabalhar em startups, 55% afirmaram que não tem acesso a iniciativas voltadas à saúde mental no trabalho, e 85% gostariam que seus empregadores dessem mais atenção a esta área, enquanto 67% afirmaram que sua saúde mental está sendo afetada por conta do trabalho.

Na caixinha de respostas da pesquisa, profissionais falaram sobre o efeito do trabalho no bem estar psicológico. “É tudo para ontem e a saúde mental fica para depois”, disse um dos respondentes. “Foi trabalhar em uma startup que destruiu minha saúde mental”, desabafou outro.

Respostas também mostraram que, se por um lado a agilidade e liberdade para atuar são valorizadas, a falta de diretrizes claras, além de muitas cobranças e constantes mudanças, podem gerar efeitos negativos.

Entre os pontos levantados por líderes do ecossistema de startups sobre o tema, estão a busca por uma cultura que equacione a natureza do negócio com a necessidade de proteger a saúde mental das pessoas, bem como maior segurança psicológica e flexibilidade na jornada de trabalho.