A frase “não falta dinheiro para bons projetos” é um clássico no mundo do venture capital. Especialmente em momentos de menos euforia, como o atual. Por mais que seja um bordão batido – afinal, o que raios é um bom projeto? –, ele se mostra válido em momentos como a rodada da Latú Seguros.
Nunca ouviu falar dessa startup? Pois é, tá aí meu ponto. A companhia recém-criada – nasceu em julho/22 – acaba de captar US$ 6,5 milhões em uma rodada pré-seed (sim, você leu certo) com medalhões do mercado. A captação foi liderada pela Monashees liderou junto com a Charles River Ventures (CRV) e contou com a participação da ONEVC, da Latitud e da SVAngels.
Também participaram fundadores como Simon Borrero, Sebastian Mejia e Felipe Villamarin, do Rappi; Santiago Suarez e Daniel Vallejo da Addi; Enrique Villamarin, da Tul e Igor Mascarenhas da Pier.
O que a Latin American Tech Underwriters se propõem a fazer é oferecer seguros para médias e grandes empresas, mas não com um abordagem tradicional de proteção contra eventuais riscos, mas como uma alavanca de crescimento. Por exemplo, um seguro de cibersegurança que dê garantias a um grande cliente de que não terá problemas ao contratar os serviços de uma empresa menor.
A ideia é incentivar a coragem. “É difícil tomar risco se você não tem proteção para algumas coisas”, diz a colombiana Paola Neira, fundadora da insurtech.
A companhia tem 8 pessoas, contando os 3 fundadores e está em estágio pré-operacional, ainda desenvolvendo seu produto para venda. A ideia é lançá-lo nos próximos meses.
Mas por que tanto dinheiro?
Paola é uma representante da Rappi Mafia, tendo trabalhado no desenvolvimento de tecnologias centrais para o crescimento do aplicativo de entregas. Ela também tem passagens pelo WeWork e The Abraaj Group, um fundo de investimento de Dubai. Só aí, você já tem metade da resposta para a pergunta acima.
Administradora de um fundo de amigos do colégio que faz empréstimos para pequenas empresas na América Latina, ela percebeu, durante a pandemia, um aumento na procura por apólices para fazer negócios com grandes empresas. E também a dificuldade para consegui uma. “É mais fácil fazer algoritmos de previsão de vendas do que conseguir esses seguros”, brinca. Ela então decidiu criar uma solução para o problema.
“Hoje esse é um processo muito manual, leva muito tempo para ser feito e, por isso, só pode ser feito para grandes empresas. Quando você faz com software, você pode ter escala e precisão”, diz. O plano é da Latú é usar intensivamente a tecnologia para uma avaliar os riscos na hora de conceder a apólice e para gerenciar os riscos depois.
Segundo ela, o potencial de mercado é gigantesco. Nos EUA e na Europa, 7 de cada 10 empresas têm pelo menos 3 apólices. Na América Latina, menos de 20% tem pelo menos uma. Segundo Paola, o plano é começar pelo Brasil e, em um ano e meio, começar a expansão para o resto da região.
Entrar nesse mercado não é fácil. Vender seguro sendo uma empresa novata? Sem passar segurança para o cliente? Daí vem a segunda parte da resposta para o tamanho da rodada: é preciso ter um caixa recheado para tranquilizar potenciais clientes.
Atuando no modelo de barriga de aluguel – em parceria com seguradoras tradicionais – a fundadora diz que ainda avalia se será necessário ter uma licença própria para operar. “A ideia é de acrescentar ao mercado. Não de tirar de ninguém. Por isso a visão de parcerias”, diz.
Sobre as perspectivas de crescimento da Latú em um cenário macro ainda cheio de incertezas, Paola diz acreditar que a proposta da Latú é atraente porque representa uma redução de potenciais riscos e custos futuros. “Não é um gasto, é um investimento”, diz. Pelo valor do cheque confiado a ela, os investidores da companhia têm a mesma avaliação sobre o negócio.