
O IPO costuma ser visto como o destino final das startups, mas será mesmo que toda empresa de tecnologia precisa estar listada na bolsa? Marcelo Bentivoglio, co-fundador e CFO da QI Tech, acredita que não. A empresa brasileira de infraestrutura bancária e financeira se tornou unicórnio no ano passado, e continua focando em crescimento, mas de forma estratégica.
Em entrevista ao Startups durante o South Summit Brazil 2025, Marcelo conta que a abertura de capital continua nos planos da QI Tech, mas não a qualquer custo. O executivo participou de dois painéis nesta quarta-feira (09), IA em Fintechs: tendências e inovações que estão moldando o setor financeiro e Building the next era of the capital markets.
“O plano de IPO é sempre um plano. E a gente entende o IPO como uma transação financeira. A gente não entende o IPO como uma saída do negócio. A gente não está construindo uma companhia para sair dela. E existem momentos em que o IPO é melhor para captar, e momentos em que é pior. Hoje, o cenário macro é muito ruim”, afirma Marcelo, ressaltando que, mesmo com condições mais favoráveis, a estreia em bolsa não é uma certeza.
Segundo ele, o mais provável, caso a QI Tech precise de recursos no curto prazo, seria buscar um investimento privado, com venture capital ou private equity.
“O mercado melhorando nos incentiva a fazer uma captação via IPO. Só que eu não vou captar dinheiro se eu não tiver o que fazer com o dinheiro. Hoje, eu não tenho nada a fazer com o dinheiro. Então, hoje não faria sentido fazer um IPO. Seria um IPO por ego. E isso nós não vamos fazer”, diz.
Após encerrar o ano de 2024 com cerca de R$ 700 milhões em receita, a QI Tech planeja crescer pelo menos 60% este ano, alavancada principalmente pelo carro-chefe da casa, o crédito. Em 2023, a startup de Banking-as-a-Service (BaaS) adquiriu 100% da corretora Singulare, responsável pelos FIDCs que financiam o crédito que é oferecido pelos clientes da QI Tech. A startup, por sua vez, fornece a infraestrutura bancária.
A transação levou um ano para ser aprovada pelo Banco Central e a QI Tech finalmente assumiu as operações em novembro do ano passado. Agora, está em fase de integração.
Segundo Marcelo, existem oportunidades para aquisições em outras áreas, como câmbio, seguros, processamento de cartões de crédito, mas não há planos concretos de novos M&As para este ano, a princípio.
Além do crédito, a QI Tech tem apostado no lançamento de novos produtos utilizando inteligência artificial.
“A gente tem times especializados desenvolvendo IA para combater fraude, por exemplo. Dentro do antifraude, eu tenho um time que foca em reconhecimento facial. Tenho um outro time que foca em análise de documentos, análise de RG, de CPF. Isso tudo são produtos que a gente abre para o mercado”, explica o CFO.
Internamente, a empresa também usa IA para ganhar mais eficiência e produtividade, com o uso de assistentes como ChatGPT pelos times de marketing, além de Copilot, pela equipe de desenvolvimento.
Apesar de ter atingido o patamar de unicórnio, tão sonhado por muitas startups, Marcelo conta que pouco mudou do ponto de vista da rotina do negócio, desde que se tornaram parte da “big league”.
“Não muda nada. A verdade é que você acorda no dia seguinte e vai trabalhar. Foi legal a transação, agora a gente precisa retornar esse dinheiro. Muita gente olha para a captação como um prêmio, eu olho como um compromisso. Eu captei US$ 300 milhões, agora preciso retornar esses US$ 300 milhões. Mas para o time é muito legal, porque valoriza o currículo dizer que trabalha em um unicórnio”, brinca o CFO da QI Tech.