A pandemia não acabou oficialmente, mas o avanço da vacinação e o relaxamento das medidas de isolamento estão trazendo, ou em alguns casos já trouxeram, a vida para um patamar mais próximo do usual. “Não vemos mais o impacto no negócio. A prestação de serviços já está normal”, avalia Eduardo L´Hotellier, fundador e presidente do GetNinjas ao Startups.
Segundo ele, a categoria de eventos é uma das que tem mais se destacado, com crescimento de 112% na comparação com o ano passado e deve apresentar um recorde este ano. O destaque vai para a realização de casamentos – incluindo o dele próprio, organizado com fornecedores que ele buscou no GetNinjas.
Ontem à noite a companhia apresentou os números do 3º trimestre. Foi a 3ª divulgação desde o IPO em maio. Entre julho a setembro, ela apresentou uma receita líquida de R$ 16,3 milhões, um crescimento de 43% na comparação com o mesmo período do ano passado.
3º trimestre
Impulsionada pela visibilidade trazida pelo IPO e pelos investimentos feitos desde então, o número de pedidos avançou 17%, para 1,36 milhão. Já o de profissionais ativos cresceu 89%, para 205 mil. “Crescemos o número de profissionais, melhoramos os economics, a receita por solicitação. Temos um melhor matching, mais clientes e mais profissionais”, destaca Eduardo.
Uma das estratégias da companhia tem sido ampliar o número de categorias dentro da plataforma. Atualmente são mais de 500, sendo que nenhuma representa mais de 5% do negócio. O GetNinjas também está no caminho de acrescentar serviços financeiros à sua plataforma. O primeiro passo nesse sentido é o Proteção Ninja+, uma espécie de seguro para a qualidade de um serviço prestado. Se ele não estiver de acordo, a companhia garante a substituição do profissional sem custos adicionais, com valor limitado a R$ 1 mil. Eduardo enfatiza que o objetivo não é virar uma fintech. “A ideia é ter isso como um elemento do melhor marketplace de serviços”, diz.
Prejuízo e queda nas ações
Na última linha, no entanto, o resultado foi um prejuízo de R$ 10,7 milhões, que reverteu um lucro de R$ 1,35 milhões apurado um ano antes. O rombo foi causado pelo aumento de mais de 3 vezes nas despesas, que saltaram de R$ 9,7 milhões para R$ 29,7 milhões.
De acordo com a companhia isso aconteceu porn conta do aumento no número de funcionários, que passou de 123 para 222 em 1 ano, com contratações nas áreas de tecnologia, produto, atendimento aos clientes e marketing. Houve também um impacto de R$ 735 mil por conta do plano de outorga de opções de ações que a companhia possui.
O desempenho foi mal-recebido e as ações da companhia operam em queda de mais de 2%. Não que o GetNinjas já não esteja acostumado com isso. Hoje, a companhia vale R$ 420 milhões, quase 3 vezes menos que os R$ 1,04 bilhão do IPO. Descontada a inflação, o valor da empresa é menor do que em 2015, quando ela era 50 vezes menor, destaca Eduardo, que fala disso numa boa. “Fala tranquilo porque é um problema de liquidez do mercado, não da empresa”, reforça, se referindo à necessidade de fundos de se desfazerem de posições em empresas de seus portfólios em momentos de demandas de saques de investidores.
Para Eduardo, essa desvalorização da companhia abre a oportunidade para que investidores pessoas físicas invistam no negócio por sua possibilidade de valorização.
Dividir o pão
Na semana passada, o Nubank apresentou o prospecto de seu IPO com uma oferta de dar ações para seus clientes. Perguntado se o GetNinjas poderia fazer algo parecido tendo em vista a relação que tem com seus prestadores de serviços, ele diz que isso foi cogitado na época do IPO, mas que a ideia foi deixada de lado
A avaliação na época foi que seria muito complicado vender essa ideia junto com o processo de listagem de uma empresa que ainda precisava ser explicada ao mercado. Ele também destacou a questão legal que precisaria ser trabalhada. “O Nubank ficou 3 meses conversando com a B3 para montar o programa deles”, destaca. Segundo Eduardo, a ideia de dividir o pão e trazer os prestadores de serviço como sócios não está descartada. Ele cita o exemplo da australiana AirTasker, que fez isso e deu certo.
O fundador acrescenta, entretanto, que o movimento não está no radar para o curto prazo. “Sentido faz. Mas como operacionalizar?”, completa.