
O boom da inteligência artificial foi – com o perdão do trocadilho – explosivo no segmento jurídico. Nos últimos dois anos, tanto no Brasil quanto no exterior estamos observando um aumento de legaltechs baseadas em IA, automatizando e digitalizando processos que antes eram feitos por humanos. Mas será que os avanços da IA generativa vão substituir os advogados no futuro?
“A IA substitui mãos, mas ela ainda não vai conseguir substituir cabeças no meio jurídico. Então eu sempre falo, se o teu exercício hoje dentro de qualquer escritório é mais em bater teclado do que pensar, tu vai ser um dos primeiros que vai ser substituído”, dispara Layon Lopes, cofundador e CEO do Silva Lopes Advogados, escritório focado em empresas de tecnologia.
Para Lucas Euzébio, sócio e diretor comercial no escritório, a IA está trazendo ganhos operacionais em grande escala para os escritórios e departamentos jurídicos, mas isso é apenas uma parcela pequena do trabalho. “Redigir contrato, redigir minuta é 1% do trabalho que fazemos. A IA sempre vai ser um agente importante pra gente, ela faz todo um serviço mais manual, que é importante, um volume de horas que a gente acaba dedicando para o serviço. A gente produz serviço e serviço é pessoas”, avalia.
Apesar disso, Layon não se furta de apontar casos em que, sim, terão funções em sua área que virarão trabalho de robô. “Se o teu exercício hoje dentro de qualquer escritório é mais em bater teclado do que pensar, tu vai ser um dos primeiros que vai ser substituído”, dispara.
Apesar de sua postura mais humana em meio a um cenário onde empresas como Lexter.ai, Forlex e outras estão lançando soluções para automatizar o trabalho jurídico por meio da inteligência artificial, o Silva Lopes também investiu na tendência. No ano passado, durante o Web Summit Rio, a empresa aportou R$ 1 milhão na Tasklaw, legaltech que utiliza IA para compilar dados e reunir informações de demandas societárias, contratuais e propriedade intelectual. Segundo Layon, o investimento foi um movimento para transformar o que a princípio parecia uma ameaça, em oportunidades.
“Como a gente consegue tornar essa ameaça da IA uma oportunidade? No pior dos cenários, a IA vira um grande flop e a gente vai continuar dependendo do nosso escritório. Na melhor das hipóteses, ou na pior dependendo do ponto de vista, a IA vai bombar, vai pressionar bastante os escritórios para a IA, e a gente já está posicionado dentro desse mercado. Então é uma posição bem estratégica”, avalia o CEO.
Regulação do BaaS
Com mais da metade de sua base de clientes sendo fintechs, incluindo nomes como Asaas, Conta Simples, Swap, Celcoin e outros, outro tema que virou algo recorrente para o Silva Lopes foi o da regulamentação do Banking-as-a-service (BaaS). Recentemente, o Banco Central fez uma consulta pública para sobre proposta de regulamentação dos modelos de parceria para prestação de serviços financeiros ou de pagamento via BaaS.
Em resposta à essa movimentação, as empresas do setor também se mobilizaram e criaram uma associação específica, a ABBAAS (Associação Brasileira de Banking as a Service), para fazer as tratativas com os órgãos regulatórios.
Segundo destaca Layon, o movimento do Banco Central veio no rastro de uma operação da Polícia Federal realizada no ano passado, que desmontou uma organização criminosa que criou fintechs fradulentas utilizando serviços de provedores de BaaS. “Isso foi o estopim para o Banco Central falar, tá, agora eu preciso dar atenção sobre isso”, diz Layon.
“O BaaS democratizou o acesso das startups para oferecer serviços finaceiros, com um go-to-market mais rápido, o que beneficiou o mercado. Mas ele ainda tem pontos ali que ainda precisam ser vistos a nível de regulação para proteger, que é o que o Banco Central busca, proteger o usuário final”, completa Lucas.
Para conferir na íntegra o papo com Layon Lopes e Lucas Euzébio, que também entra em outros assuntos interessantes para quem é founder, como o trabalho dos advogados nas rodadas de investimento e questões como o due dilligence para quem busca investimentos, clique nos links abaixo e confira o MVP #89. Disponível no Spotify e YouTube.