Parece que a “mágica” de Adam Neumann, o excêntrico fundador da WeWork, está longe de acabar. Mesmo com a fama esbanjadora que fez a WeWork afundar – e levar dezenas de bilhões do SoftBank junto – anos atrás, ele continua com investidores interessados. Tanto que a Flow, sua última empreitada no setor imobiliário, acabou de levantar uma nova rodada.
Em entrevista à Bloomberg, Adam revelou que sua proptech captou mais US$ 100 milhões com a já investidora Andreesen Horowitz (a16z) e outros nomes não revelados, em um deal que coloca a Flow em um valuation de US$ 2,5 bilhões, mais do que dobrando seu valor de mercado. Em 2022, a companhia captou US$ 350 milhões a um valuation de US$ 1 bilhão. Com a nova rodada, a participação da a16z sobe de 20% para 25%.
A Flow talvez seja melhor entendida como o mais recente esforço de Adam Neumann em editar seu próprio passado. Se a WeWork se propôs a reinventar o conceito de escritório, a Flow mira algo ainda mais ambicioso: transformar o jeito como as pessoas vivem, com uma experiência residencial “verticalmente integrada”, onde tecnologia, design, hospitalidade e comunidade se encontram sob o mesmo teto — e, claro, sob uma narrativa de estilo de vida.
A proposta da Flow é ambiciosa: transformar um prédio — ou, cada vez mais, um bairro inteiro — em um ambiente de moradia adaptável, com tecnologia embarcada, que funcione mais como um produto do que como uma simples propriedade. Tudo isso se apoia em uma plataforma de software que pretende administrar prédios inteiros com o mínimo de intervenção humana.
“Nossa plataforma nos coloca em melhor posição do que qualquer outro no setor para aproveitar os saltos sísmicos proporcionados pela IA”, declarou ele, afirmando que a Flow já está colhendo resultados concretos. Segundo Adam, na Arábia Saudita, as propriedades da empresa já estariam sendo operadas “sem nenhum sistema externo de gestão imobiliária”.
Como todo bom megalomaníaco, Adam já tem planos de expansão em escala para a Flow, e até já entrou no assunto de um possível IPO. “Tenho certeza que essa é uma companhia que podemos tornar pública um dia. Mas ainda somos uma empresa jovem, com dois anos de mercado. Não vamos nos apressar”, disse Adam na entrevista.
Vale lembrar que IPO é um assunto que não deu muito certo quando ele estava à frente da WeWork. Entre 2013 a 2018, a WeWork esteve entre as empresas mais badaladas do mundo, empolgando grandes investidores. Neste rol está o CEO da SoftBank, Masayoshi Son, que colocou US$ 5 bilhões na empresa cuja proposta era “mudar a mentalidade do mundo” – sendo que a WeWork era, essencialmente, uma empresa de espaços de coworking.
Depois de ser avaliada em US$ 46 bilhões, a empresa despencou em valor às vésperas de sua oferta pública de ações (IPO), em meio à publicação decepcionante de documentos sobre o negócio, e a descoberta de práticas internas pouco confiáveis.
Atualmente, a Flow opera no sul da Flórida, Nova York, Riad e Palo Alto, com promessas de fluxo de caixa positivo em 2025. Difícil prever se o plano tem chances de dar certo, mas se tem alguém capaz de convencer investidores a financiar um recomeço luxuoso com cara de espiritualidade urbana, esse alguém se chama Adam Neumann.