A mexicana Clara é o mais novo unicórnio latino. Com uma série B de US$ 70 milhões, que chega apenas 7 meses depois da rodada anterior, a companhia se tornou um unicórnio em apenas 8 meses de operação. Com isso, ela se torna a startup latina a atingir o posto mais rápido na história.
O título virou alvo de disputa desde a semana passada quando a JOKR/Daki também atingiu o status, mas em um prazo de 10 meses. A marca de referência anteriormente eram os 18 meses da Loft.
O anúncio também reforça o apetita voraz dos investidores por novos negócios na América Latina – que somou US$ 1,4 bilhão em aportes só em novembro – principalmente as criadas por quem já empreendeu ou já atuou anteriormente no mundo das startups, como é o caso dos mexicanos Diego García e Gerry Giacomán Colyer, fundadores da Clara. Os dois se conheceram quando trabalharam na empresa de patinetes Grin e depois na Grow (que Deus a tenha).
Rodada e operação no Brasil
A rodada da companhia, que tem um cartão de crédito para empresas a partir do qual quer ajudá-las a gerenciar melhor suas despesas, foi liderada pela Coatue. Com a série B, a fintech soma US$ 110 milhões captados.
Os recursos da nova rodada serão usados para investimento em tecnologia e na expansão da operação pela América Latina, a partir do ano que vem. No momento, o alvo é o Brasil, onde a companhia começa a operar de fato a partir de hoje – na semana passada ela fez um jantar de lançamento para clientes em São Paulo. “A gente já sabia que o futuro seria a expansão para o Brasil”, diz Gerry. Segundo ele, Layon Costa, que está à frente da operação, foi contratado do Rappi ainda em dezembro/20, quando a companhia tinha só 20 funcionários, já para estruturar seu início.
O escritório por aqui foi aberto em julho e já conta com 30 pessoas. Segundo Layon, a expectativa é ampliar o número para 50 antes de virar o ano – número que vai representar um quarto do quadro de funcionários da Clara como um todo. Até agora, a equipe vinha preparando terreno para atuar, prospectando os primeiros clientes etc. A partir de hoje, a abertura das contas fica liberada. A expectativa é que os cartões cheguem aos usuários em um prazo de 10 dias. A Clara tem uma licença da Mastercard com a qual pode fazer ela própria a emissão dos cartões, sem a necessidade de subcontratar ninguém. “Fomos de 20 para 150 pessoas no México em 1 ano. O Brasil tem que ser mais rápido do que isso”, diz Gerry.
O uso do cartão é gratuito para os clientes. O modelo de negócios da Clara – assim como o de todas as fintechs de cartão, está baseado na tarifa de intercâmbio, que a taxa que as bandeiras pagam aos emissores pelo volume de transações feitos com os seus cartões.
Atualmente a startup tem 2 mil clientes no México e 10 mil cartões emitidos. Na lista de clientes estão outras startups, como Kavak, Cornershop, Casai e Creditas. O público é o principal alvo da companhia, mais tradicionais também têm buscado pelo seu serviço. “Já temos empresa de transporte, de recrutamento, de RH”, diz Layon sobre o perfil no Brasil. Depois do cartão, a ideia é colocar no ar outros serviços de pagamento com boleto e Pix, por exemplo.
Para se promover, a companhia tem feito um forte investimento em marketing, com destaque para a publicidade no aeroporto de Guarulhos, estratégia tradicionalmente usada por grandes nomes do mercado de tecnologia, como Oracle, SAP e IBM. De acordo com Layon, a Clara tem investido muito na proximidade e no atendimento aos clientes para garantir que eles se fidelizem e permaneçam ativos. “O foco é dar a melhor opção possível”, diz.
Nicho competitivo
A ideia de ajudar empresas a fazer a gestão de suas despesas é um dos motes da Conta Simples (investidora do Startups). O objetivo também vem sendo perseguido, a partir de uma visão mais ampla, do sistema de gestão empresarial, pela Omie, que reforçou a aposta com a compra do banco digital Linker por R$ 120 milhões. “Sempre acreditamos que serviços financeiros e software de gestão estão em uma trajetória de convergência e que o ERP é o novo internet banking”, disse Marcelo Lombardo, cofundador e diretor-executivo da Omie, em comunicado, quando anunciou o acordo.
De acordo com Gerry, a Clara não quer substituir a conta bancária das empresas. “Os bancos não são a competição. Sao aliados, possíveis parceiros. Não acho que tem tanto valor [a Clara se tornar um banco]”, diz. Ele também diz enxergar a companhia se desenvolvendo como um produto individual, não como uma funcionalidade do portfólio de um banco ou de uma outra empresa. “Temos um produto que qualquer empresa pode usar”, diz.