Ao mesmo tempo que o ecossistema de startups é inovador, disruptivo e com potencial de crescimento, também é um ambiente em que se assumem riscos. Entre o momento de validar um MVP e ganhar tração há muito chão para percorrer. E é nessa estrada esburacada que muitas startups acabam ficando pelo caminho.
É o caso da Dei um Tempo, cujo aplicativo ajuda quem quer se livrar de hábitos indesejados, como tabagismo, alcoolismo e consumo de carne. Escrevemos sobre ela em novembro/21. Bom, após 2 anos de operação, a startup de Marcos Tartuci vai deixar de existir. Em um post “em luto” publicado em seu LinkedIn na semana passada, o fundador anunciou “ter perdido sua startup para uma doença muito comum na infância deste tipo de organização: a falta de recursos”.
Como no Startups prezamos pela transparência ao retratar a realidade do ecossistema – seja com a fanfarra das rodadas de investimento, ou com o peso das más notícias, conversei com Marcos para entender melhor o que aconteceu com a Dei um Tempo e os planos dele daqui pra frente.
O fantasma do B2C
No Brasil, o modelo B2B sempre foi maior em termos de números de negócio e preferência pelos investidores. Atenta a isso, a Dei um Tempo até tentou expandir seu modelo para empresas, mas não vingou. O próximo passo era levantar R$ 1 milhão para ganhar tração e atrair mais usuários, como contei em detalhes em novembro/21.
Segundo Marcos, foram mais de 50 reuniões com investidores apresentando a iniciativa em busca dos recursos. “O B2C no país só é atraente se for um projeto envolvendo uma melhoria de algo que fez muito sucesso, ou quando é algo pioneiro no Brasil. Meu conselho como um empreendedor que não fez sucesso com sua startup é: não faça seu projeto B2C no Brasil, faça no exterior”, argumenta.
Prejuízos e decepção a parte, Marcos leva consigo alguns aprendizados, como liderar um time de tecnologia e desenvolver novas formas de pensar, por exemplo. Mas o principal deles tem a ver com dinheiro. “Alguém que sai de uma cadeira de executivo para criar uma startup tem que estar muito preparado financeiramente, não só para apostar no negócio, mas para ficar sem remuneração. Coloquei muito no projeto (R$ 1 milhão) e não me preocupei com o quanto precisaria para sustentar o negócio por muito tempo e a mim mesmo”, comenta.
O projeto continua
“Não faz sentido jogar fora tudo o que fizemos. Vamos tentar eternizar o projeto de alguma forma, com baixo custo”, diz Marcos. Segundo ele, o app sairá do ar em 60 dias. Depois disso, a ideia é disponibilizar gratuitamente todo o conteúdo para uma área logada no site da Dei um Tempo, sem precisar sustentar um aplicativo ou um time de tecnologia.
Com quase 30 anos de experiência nas áreas comercial, marketing e gestão no varejo, educação e serviços, Marcos segue agora em busca de recolocação no mercado. E apesar dos pesares, não descarta a possibilidade de no futuro criar uma outra startup. É isso, a cada tombo, um recomeço. Desistir, jamais.