Expansão

O plano da Endeavor para ter 50 decacórnios em 2035

Rede de apoio ao empreendedorismo quer se tornar auto-sustentável e aumentar seus investimentos com o fundo Endeavor Catalyst

Anderson Thees, diretor da Endeavor no Brasil (à esq,), e Linda Rottenberg, fundadora e CEO da organização, durante encontro com empreendedores em São Paulo
Anderson Thees, diretor da Endeavor no Brasil (à esq,), e Linda Rottenberg, fundadora e CEO da organização, durante encontro com empreendedores em São Paulo | Beto Lima/Divulgação

De uma conversa informal em um táxi na argentina a uma rede global com presença em 100 países, 50 empresas que valem mais de US$ 10 bilhões no portfólio – sendo 10 no Brasil – e mais de US$ 1 bilhão de ativos sob gestão. Essa é a trajetória que a Endeavor quer percorrer até 2035, quando completar quase quatro décadas de existência. “Estamos bebendo do nosso próprio remédio e sonhando grande”, disse Linda Rottenberg, cofundadora e CEO da rede de apoio ao empreendedorismo, durante conversa com jornalistas ontem em São Paulo.

Em visita ao Brasil depois de um hiato de quase oito anos, ela apresentou a visão para a próxima década da instituição. O plano é dividido em quatro pontos: a criação de seis hubs para apoio a empreendedores e ao ecossistema; ampliação do apoio dado a empreendedores que fazem parte da rede; reforçar o “efeito multiplicador” dos empreendedores e as bolhas, ou máfias originadas a partir das empresas que fazem parte da rede; e reforçar os investimentos feitos pelo fundo Endeavor Catalyst.

Linda destacou os resultados positivos no ecossistema alcançados desde o nascimento da instituição em 1997. Foram 345 empresas investidas, sendo que 94% ainda estão operando. 58 delas têm valor de mercado superior a US$ 1 bilhão, 26 fizeram uma venda para outra companhia e 11 foram para um IPO.

No Brasil, o terceiro país a receber uma operação, depois da Argentina e do Chile, a Endeavor tem 47 investimentos e colocou no dicionário a palavra empreendedorismo (literalmente). Na lista de negócios apoiados estão Wellhub (antiga Gympass) Pismo, Brex, Cabify, Kavak, dLocal, Globant, Alura e QI Tech.

Em sua nova fase, a Endeavor que se aproveitar desse histórico e ganhar mais visibilidade. “Temos sido uma história pouco contada. Mas temos a responsabilidade de sonhar grande e dividir isso com o mundo”, disse ela.

Apesar de ter como um dos objetivos de longo prazo ter 50 empresas que valem mais de US$ 10 bilhões, Linda afirma que a ideia é ressignificar o conceito de sucesso, dando menos ênfase escala e os ganhos financeiros, e olhando mais os efeitos para a sociedade.   

Globalização sob ataque

O plano de expandir os número de escritórios de 46 para 100 em uma década chega no momento em Donald Trump assume a presidência dos EUA com a sua bandeira de America First. A doutrina vem acompanhada de incentivos para investimento no país e de ameaças de punição e aumento de tarifas para quem não dançar conforme a música.

De acordo com Linda, a globalização está sob ataque – e o próprio sistema capitalista também, de certa forma. Para ela, isso só reforça o posicionamento da Endeavor de ser uma rede de confiança e apoio para quem está na jornada de desenvolvimento de um negócio.

Em uma avaliação inicial, Linda acreditava que os empreendedores iriam se assustar com o discurso de tarifas e sanções de Trump. Mas depois ela percebeu que a avaliação foi de que o governo será pró-negócios, o que é positivo. Outro ponto que reduziu o impacto é o fato de os EUA já não serem a principal referência em todos os assuntos como já foi no passado.

Ela também disse acreditar que a política de atração de novos investimentos para a maior economia global não deve reduzir o apetite por negócios em outras regiões do mundo. Pelo contrário. Como os ganhos e melhores oportunidades tendem a ficar concentrados em algumas poucas casas de grande porte, a tendência é que haja um aumento na busca por alternativas fora dos EUA. “Venham ver o resto do mundo, pessoal”, brincou Linda.

Endeavor Catalyst

E a Endeavor pretende ser um desses investidores ativos nos próximos anos. Nos próximos meses a instituição começará a captar seu novo fundo, o Endeavor Catalyst V. O objetivo é levantar US$ 300 milhões para fazer investimentos que ficam na média de US$ 2 milhões em negócios liderados pelos empreendedores que fazem parte da rede.  

Apesar da atual dificuldade dos fundos em levantar dinheiro de investidores, Linda disse acreditar que a captação não enfrentará dificuldades. Segundo ela, o fundo IV, lançado há três anos, ficou oversubscribed, e já tem gente fazendo fila para entrar no novo veículo.   

Depois do V, a Endeavor pretende manter a cadência de levantar mais US$ 300 milhões a cada três anos. Nesse ritmo, em 2035, a organização chegará a US$ 1,5 bilhão sob gestão. Hoje são US$ 540 milhões.

Linda destacou que não pretende ampliar o tamanho de cada novo fundo para não cair no problema de excesso de dinheiro, que pode levar a reduzir a barra de seleção de novos investimentos. “O grande erro dos fundos novatos foi levantar muito dinheiro, o que fez com que eles tivessem que colocar muitos recursos em alguns empreendedores”, avaliou.

Diferentemente de outros fundos de venture capital que trabalham no modelo de 2% de taxa de administração e 20% de remuneração na venda de participação nas investidas (carry) – o chamado 2 com 20 –, o Catalyst opera no formato 50/50, que dá metade do retorno para os investidores, e a outra metade para a própria Endeavor.

Da parte da organização, metade fica com o escritório local e a outra metade vai para a matriz. Da fatia da Endeavor, ainda é tirado 1% como bonificação para a equipe local como forma de reconhecer o esforço e estimular a geração de novos bons negócios. “Estamos criando um novo modelo e virando um exemplo nós mesmos”, disse.

Brasil

Maior escritório da Endeavor, o Brasil recebeu altos elogios de Linda. Segundo ela, os empreendedores locais têm uma característica importante de ajudar, e aceitar, que as novas gerações tenham mais sucesso que eles. “Em alguns países as pessoas ficam ressentidas com o fato de alguém mais novo receber mais atenção que eles”, contou.  

Os planos para o país dentro da meta de 2035 ainda estão sendo detalhados. Mas um dos objetivos é ter pelo menos uma dezena de decacórnios no país, segundo Anderson Thees, que assumiu o comando da operação há cinco meses. “A próxima coisa que as empresas têm aprender é como crescer além de onde estão hoje. Algumas já são internacionais. Mas temos que ajudá-las a serem maiores e globais”, disse Anderson.