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O que falta para o mercado de venture capital realmente bombar no Brasil

Embora seja um mercado muito aquecido no país, a modalidade de investimento ainda é desconhecida por muita gente

Uma pessoa em cima de um touro e várias notas de dólar - Startups

Os investimentos em startups tiveram um crescimento impressionante nos últimos anos aqui no Brasil. Entre 2018 e 2021, o montante aplicado pulou de US$ 1,5 bilhão para US$ 10 bilhões.

Mas apesar de, para quem está envolvido nesse mercado, parecer que todo mundo já sabe do que se trata venture capital, valuation, SaaS, CAC, LTV e toda a sopa de letrinhas envolvida nesse métier, a verdade é que não é bem assim. Mesmo na Faria Lima tem gente que ainda não conhece essa classe de ativos e suas oportunidades.

“É uma indústria relativamente nova, com cerca de 10 anos e casos de sucesso mais concretos aparecendo nos últimos 3 ou 5 anos. Faltam exemplos de empreendedores que representem o cara bem-sucedido vindo do mundo tecnologia. Lá fora o capitalismo tem nomes como Bill Gates e Steve Jobs”, avalia Jose Pedro Cacheado, sócio da gestora Norte Ventures.

Ele acrescenta ainda uma outra questão: a barreira da língua. Praticamente todos os termos relacionados a esse mercado estão no idioma da Rainha, que apenas 5% da população brasileira fala. “Tem pouco conteúdo em português sobre o assunto”, completa. (será que eu deveria mudar o nome do Startups para Empresas Nascentes.com.br ou Iniciantes.com.br?). 

Desconhecimento e interesse

O desconhecimento – e o interesse por – venture capital ficou claro em uma pesquisa feita em um grupo no Telegram (pois é, não tem só bobagem no aplicativo) do VC Latam Summit, evento gratuito que acontece virtualmente até quarta-feira.

A amostragem foi pequena, apenas 54 pessoas, mas contou com a participação de um público instruído. A enquete, que permitia a escolha de mais de uma opção de resposta, mostrou que 48% dos participantes gostariam de aprender a investir em venture capital.

Já 40%, sequer sabia o que era essa modalidade. Interessantemente, 14% da amostra disse que nem sabia que pessoas físicas poderiam investir em venture capital, enquanto 7% classificaram a categoria como muito arriscada.

Entre os patrocinadores do evento estão nomes conhecido do mundo das startups e da tecnologia, como Tembici e Mercado Bitcoin. Mas um nome chama a atenção: o J.P. Morgan.

Segundo Pedro Juliano, Head de Investment Banking no Brasil, executivo com 24 anos de experiência no mercado financeiro, a participação faz parte de um esforço iniciado ano passado para se posicionar nesse segmento tendo em vista o grande aumento no volume de investimentos e do interesse dos clientes. “Esse é um mercado que está muito aquecido, com nomes interessantes emergindo como resultado. Nós identificamos esse movimento, e decidimos investir tempo e recursos através da plataforma global do banco, dando o suporte necessário a esses clientes durante toda sua trajetória de crescimento”, diz.

Mais acessibilidade

Gustavo Araújo, cofundador e presidente do Distrito, diz acreditar que ainda faltam opções para quem quer acessar o mercado como investidor, tanto nos aportes em empresas mais iniciantes (early stage) quanto nos negócios mais maduros.

No 1º grupo, há alternativas como crowdfunding, grupos de anjos, investimento direto na empresa, ou como sócio de fundos early. No caso das empresas mais desenvolvidas, as escolhas ficam entre ser sócio direto de fundos, a busca por fundos de fundos ou fundos de venture capital distribuídos em plataformas como BTG ou XP. “O mercado deveria evoluir nas duas pontas e em todos esses veículos para uma maior distribuição e acessibilidade”, avalia.  

Gustavo faz uma comparação com o mercado de criptomoedas. “Qualquer pessoa pode comprar bitcoin em uma corretora. Mas quando a Hashdex lançou os fundos dela, muitos investidores entraram pela 1ª vez nesse mercado por meio desses produtos distribuídos em plataformas de investimento. ETFs de empresas tech abertas em bolsa (como os da ARK Invest) poderiam facilitar também a entrada em cestas de empresas”, acrescenta.

Segurança e longo prazo

Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) o volume total de investimentos das pessoas físicas brasileiras somou R$ 4,5 trilhões, um crescimento de 7,2% na comparação com 2020.

A renda fixa perdeu espaço por conta da queda de Selic, saindo de 71,4% em 2020 para 58,1% ano passado. No mesmo período, a renda variável ampliou sua fatia de 9,5% para 20% do total.

Ao mesmo tempo, os chamados investimentos alternativos, que incluem private equity e venture capital, somaram R$ 53,8 bilhões, um crescimento expressivo, de 128%, puxado, especialmente pela aceleração no venture capital, mas ainda uma fatia pouco expressiva do quanto os brasileiros investem.

Com o atual ciclo de alta dos juros, a tendência é que a busca por segurança volte a crescer, mas o assunto diversificação de investimentos já entrou no radar, o que deve fazer com que a ideia de ganhar mais no longo prazo com a busca de ativos alternativos se mantenha atrativa.