OpenAI (Imagem: Shutterstock/JarTee)
OpenAI (Imagem: Shutterstock/JarTee)

Para manter sua máquina de queimar dinheiro funcionando — ou, melhor, concretizar seus ambiciosos planos de construção de inteligência artificial — a OpenAI negocia um aporte de US$ 10 bilhões com a Amazon. O movimento chama atenção não só pelo tamanho do cheque, mas por envolver duas rivais diretas no mercado de computação em nuvem: a AWS, da Amazon, e a Microsoft, principal acionista da OpenAI, com cerca de 27% de participação.

A recente reestruturação da empresa, que passou a operar sob um modelo for profit (ou seja, com fins lucrativos), abriu caminho para a entrada de novos investidores e tornou viável buscar dinheiro até mesmo junto a concorrentes da sua maior investidora individual.

O problema é que essa máquina deve continuar queimando por algum tempo. No último ano, o Startups noticiou que a OpenAI começaria a ter lucratividade somente em 2029, mas projeções mais atuais, como a do HSBC, indicam que a dona do ChatGPT não será lucrativa nem sequer em 2030, mesmo em um cenário extremamente otimista de crescimento, no qual seus serviços alcançariam cerca de 44% da população adulta mundial.

Para sustentar essa expansão, a OpenAI ainda precisaria levantar ao menos US$ 207 bilhões (cerca de R$ 1,1 trilhão na cotação atual) adicionais em capacidade de computação, em um modelo de negócios que hoje gasta muito mais do que fatura.

Ou seja, o sucesso estrondoso do ChatGPT não resolveu — e nem chegou perto de resolver — a equação financeira da empresa. Pelo contrário: quanto mais usuários, maior a conta de data centers, chips e energia, mantendo a dependência de aportes bilionários e empurrando a lucratividade para um futuro cada vez mais distante.

O que muda com a chegada da Amazon ao jogo?

Para a Amazon, o interesse não está em “salvar” a OpenAI do vermelho, mas em usar justamente essa queima acelerada de dinheiro como uma espécie de alavanca estratégica.

Isso porque um eventual aporte bilionário viria acompanhado da adoção dos chips Trainium (processadores desenvolvidos pela própria Amazon para treinar e rodar modelos de IA em larga escala) e de mais contratos de longo prazo com a AWS, transformando o apetite quase infinito da OpenAI por computação em demanda garantida para a infraestrutura da varejista.

Há pouco mais de um mês, a OpenAI assinou um contrato de sete anos, no valor de US$ 38 bilhões, para comprar serviços de nuvem da Amazon, o que na época ajudou inclusive a melhorar a reputação da big tech, que vinha ficando para trás de rivais como Microsoft e Google na corrida pela IA.

Investir na criadora do ChatGPT e um dos principais players atualmente no segmento de IA Generativa também é uma cartada estratégica da Amazon, que tem buscado se posicionar como referência em agentes autônomos e chips para IA.