
Desenvolver e escalar deep techs é um desafio em qualquer lugar, mas ganha ainda mais obstáculos no Brasil. Em um país em que os investidores estão acostumados com o ritmo e os retornos das fintechs, apoiar startups que buscam soluções complexas para problemas complexos acaba sendo pouco atrativo. A organização sem fins lucrativos Wylinka busca ajudar as empresas a superar essas e outras dificuldades, conectando universidades, startups, governos e comunidades.
Fundada pela bioquímica Ana Carolina Calçado em 2013, a Wylinka nasce da sua percepção de que faltava foco no processo de geração de inovação a partir da ciência.
“Quando eu estava na universidade, topei com a possibilidade de estágio em inovação. Na época, essa coisa de fazer inovação a partir da ciência era muito nova, e eu sentia que queria fazer outras coisas com esse conhecimento científico que fossem além da produção acadêmica. Fui trabalhar numa consultoria de inovação e percebi que a falta de foco nesse mercado atrapalhava”, conta a CEO da Wylinka em entrevista ao Startups.
A organização sem fins lucrativos começa com três fundadores e um time de conselheiros. Hoje, possui uma equipe de mais de 30 pessoas.
O trabalho da Wylinka consiste em diferentes frentes, como capacitação – levando para cientistas o olhar o empreendedorismo. Ao longo de 12 anos, a instituição capacitou mais de 12 mil pesquisadores, professores e estudantes em todo o país.
Além disso, formou 1.788 agentes de inovação, apoiou 225 instituições, impulsionou 4.070 soluções e negócios, construiu 1.430 conexões entre ciência e mercado e mapeou 1.462 tecnologias.
Por meio da Wylinka, Ana busca encontrar saídas colaborativas para o problema do financiamento das deep techs.
“O mercado, especialmente o brasileiro, não resolveu ainda o problema de que existe pouco capital disponível para o nível de incerteza versus capital que é faz parte da construção de uma deep tech. No início, algumas ainda conseguem investimento via fomento público, e existe um mercado para aquelas que estão em estágios mais avançados. Mas existe um gap, em que o produto já não é mais pesquisa, já está aprovado em bancada, precisa ir a campo ser testada em ambiente real, ter cliente, ver se escala, e por isso não é o campo habitual do fomento público. Mas ainda tem incertezas demais para o mercado ser considerado atraente como investimento de venture capital”, explica.
A organização atua para aproximar governo, investidores e academia, criando pontes que permitem o desenvolvimento de mecanismos como o blended finance, que combina recursos públicos, privados e filantrópicos para viabilizar projetos. “Essas incertezas são gerenciáveis. Quando o investidor entende que pode investir passo a passo, com ferramentas de decisão mais estruturadas, o risco deixa de ser um impeditivo e passa a ser uma oportunidade de aprendizado e impacto”, explica Ana.