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Sirius trabalha para ser a maior instituição de ensino tech da América Latina

Fundada por Felipe Matos, a edtech é especializada em formação em inteligência artificial e ciência de dados

Inteligência artificial
Foto: Canva

A Sirius tem planos ambiciosos de se tornar a primeira faculdade do mundo especializada em formação em inteligência artificial (IA). Lançada em 2022 por Felipe Matos, atual vice-presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), a startup opera como uma edtech para formação de profissionais na área de tecnologia. Ao Startups, o executivo falou sobre as recentes conquistas da empresa e os próximos passos de sua expansão.

Parte importante desse processo é uma aceleração em Miami pela Techstars, uma das maiores aceleradoras do mundo responsável por investir em mais de 3.300 startups early-stage. A Sirius foi uma das 9 escolhidas entre as 900 que se inscreveram na turma mais recente do programa, e a única representante brasileira dentre as selecionadas.

“Tem sido muito intenso. Na primeira semana, já falamos com mais de 40 mentores. Estamos muito satisfeitos e, ao mesmo tempo, sendo bastante desafiados”, diz Felipe. Para criar o negócio ,ele se juntou aos co-fundadores Rafaela Herrera, Fernando Americano e Arnobio Morelix, CEO da edtech desde agosto de 2022.

Os desafios, segundo Felipe, andam de mãos dadas com as oportunidades. No fim de 2022, a edtech foi reconhecida como instituição de ensino superior pelo Ministério da Educação (MEC). A Sirius já nasce como uma faculdade 100% digital, criada para apoiar o mercado, com foco em profissionais que não são da área de tecnologia, mas com certeza serão afetados pelos avanços da inovação. 

“O mundo está passando por uma revolução comparada ao que foi o surgimento da internet e do smartphone. Uma 3ª onda com IA e ciência de dados que vai transformar o mundo do trabalho. Vamos entrar em uma era em que haverá muita educação, mas pessoas sem as habilidades necessárias para esse novo contexto”, afirma. Ele cita como exemplo jornalistas, profissionais do marketing, vendas, operações e recursos humanos, que precisam aprender a combinar as novas tecnologias com suas áreas de conhecimento para tornar os trabalhos muito mais produtivos.

Muito já tem se falado sobre o ChatGPT, um chatbot da OpenIA que usa inteligência artificial para geração de textos. Na área da comunicação, o Buzzfeed demitiu 12% de sua força de trabalho e anunciou que vai utilizar ferramentas da OpenAI para produzir seus textos. O próprio Startups já recorreu à ferramenta para escrever conteúdos para SEO. E na Colômbia, um juiz pediu ajuda ao robô para definir um caso sobre o direito à saúde de uma criança autista, fazendo perguntas ao sistema para sustentar a sua decisão.

Fundadores da Sirius
Felipe Matos, Rafaela Herrera, e Arnobio Morelix, cofundadores da Sirius. (Foto: Divulgação)

Regulada, mas inovadora

Com a autorização do MEC, a Sirius se torna uma faculdade-startup regulada pelo governo federal, buscando inovação ao mesmo tempo em que precisa seguir as diretrizes do órgão responsável. Felipe não vê isso como um grande problema, e sim como uma oportunidade.

“Falamos com muitas pessoas que acharam que ficaríamos amarrados, mas descobrimos que muito do que elas entendem como limitações são simplesmente costumes do setor, não necessariamente algo imposto pelo MEC. O órgão determina que as faculdades precisam ter áreas de conhecimento e avaliar o progresso do aluno. Mas não diz que precisa ter prova, uma grade formal ou ser dividida em semestres. Em nenhum momento estabelece que precisamos fazer como todo mundo já faz. Há muito espaço para inovar no regulado”, pontua.

Para o executivo, essa é a chance de criar um negócio do zero no ambiente digital e sem as muitas amarras que instituições tradicionais têm. Ser quem a Sirius quiser, mas seguindo as restrições regulatórias”, pontua. A startup ainda está se adaptando, e contratou um representante regulatório para cuidar da parte de compliance e deixar adequar a estrutura às regras do MEC.

Buscando investimento

Além de mentorias, workshops, networking e masterclasses, cada empresa selecionada para a aceleração da Techstars recebe um investimento inicial de até US$ 120 mil. E as startups ainda podem aumentar o cheque atraindo outros investidores durante o pitch no Demo Day, que será realizado no dia 11 de maio.

Em agosto de 2021, a edtech concluiu uma captação de R$ 5 milhões para iniciar suas operações. Participaram da rodada investidores como Garan Ventures, Rafael Assunção e Camila Farani, além dos empreendedores Rodrigo Cartacho (Sympla), João Selarin (TotalVoice/Zenvia) e Gustavo do Valle (Decorado), e de executivos de empresas do Vale do Silício como Twitter, Zoom, Zendesk e Intercom.

Felipe não revela o quanto espera levantar ao final da aceleração, mas espera que o aporte já ajude na captação seed. “Estamos olhando para investidores internacionais, fazendo o movimento de tornar a Sirius uma empresa global. Com o investimento da Techstars estamos mais preparados para acessar fundos norte-americanos”, pontua.

A primeira turma da pós-graduação, lançada no início do ano, conta com 20 alunos. A expectativa é multiplicar a base de estudantes em mais de 10 vezes em 2023, além de ampliar a oferta de cursos. “Nossa visão é bastante ousada: ser a maior instituição de ensino superior de tecnologia da América Latina. Sabemos que para isso há muito trabalho e precisamos mandar bem na parte dos custos, ampliando rapidamente”, diz Felipe.

Se na escola tradicional os alunos assistem às aulas e fazem exercícios em casa, na Sirius a proposta é o inverno. Acessar o conteúdo sozinho e praticar com o apoio dos professores e colegas de turma. Não há uma grade de disciplinas, e sim entregas e desafios, muitas vezes criados em parceria com empresas como Ambev, Sebrae e Payface.

“As organizações definem alguns desafios para que os alunos resolvam. Eles têm a oportunidade de trabalhar problemas reais do mercado, e as empresas conseguem resolver essas questões. Muitas delas, inclusive, contratam os estudantes depois da graduação, pois já estão capacitados e conhecem a companhia”, conta o fundador. Em 2023, a Sirius deve ampliar essa parceria com empresas empregadoras.