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Pânico nas bolsas: aversão a risco pode piorar cenário para VC

Queda generalizada nas bolsas pode ter sido temporária, mas risco de recessão global e seca de IPOs preocupa analistas

Bolsas. Foto: Canva
Bolsas. Foto: Canva

A segunda-feira começou agitada no mercado de capitais global, com quedas generalizadas nas bolsas de valores. Ao longo do dia, as baixas foram amenizadas conforme os investidores se acalmavam, mas diversos fatores contribuem para que a aversão a risco continue até o fim do ano, prejudicando o cenário para o venture capital local.

Mas, afinal, o que aconteceu com as bolsas hoje? Foi a tal da tempestade perfeita. Na última sexta-feira, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou o relatório de empregos, chamado de payroll, que apontou para dados preocupantes do mercado de trabalho americano. Foram criados 114 mil vagas em julho, muito abaixo das expectativas de analistas, que era de 185 mil, e dos resultados de junho, quando foram criados 206 mil postos de trabalho.

Esse dado é importante porque um mercado de trabalho aquecido é um dos fatores que levariam o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, a reduzir as taxas de juros no país.

Para completar, na última quarta-feira (31) o Japão elevou as taxas de juros ao maior nível em 16 anos (de 0% a 0,1% para o intervalo de 0,15% a 0,25%), o que levou investidores a venderem ativos para financiar as perdas com o carry trade do iene, a moeda japonesa.

Isso tudo, somado a balanços financeiros mais fracos das empresas de tecnologia divulgados na semana passada, fez com que os investidores corressem para vender suas ações e realizar lucros.

Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, o desespero registrado pela manhã foi um “exagero”.

“Houve diversos fatores que contribuíram, mas não tem nenhuma grande paúra no mercado, nenhum grande estresse, acho totalmente exagerado. Você teve uma realização de lucros normal no setor de tecnologia depois de todas as altas que foram observadas nos últimos 12 meses. Você teve, sim, o payroll, gerando um receio de que a economia americana esteja desacelerando mais rápido do que se imaginava. E a elevação das taxas de juros no Japão que, isso sim, afetou as operações de carry trade, fortalecendo o iene, e isso tende a afetar as empresas japonesas, que tradicionalmente são muito mais dependentes das exportações”, avalia.

O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, encerrou a segunda-feira em queda de mais de 12%. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones caiu 2,60%, enquanto o S&P 500 recuou 3% – as maiores quedas desde 13 de setembro de 2021. Em Nasdaq, onde as ações de empresas de tecnologia costumam ser negociadas, a queda foi de 3,43%.

No Brasil, o Ibovespa encerrou o dia próximo da estabilidade, com queda de apenas 0,46%, a 125.269 pontos.

E no venture capital?

Apesar de boa parte das quedas terem sido aliviadas ao longo do dia, para o venture capital, a instabilidade e aversão a risco podem atrapalhar a captação de recursos.

“O cenário macroeconômico é sempre uma preocupação, pois afeta o movimento das taxas de juros. Isso impacta diretamente a dinâmica de captação de recursos e investimentos em inovação e startups. O mercado de IPO está fechado há quase três anos e só deve reabrir com a queda das taxas de juros”, afirma Carlos Simonsen, cofundador da Upload Ventures.

William, da Avenue, lembra que as eleições nos Estados Unidos este ano vão gerar volatilidade do mercado. Apesar de o último dado do PIB americano apontar para um crescimento de 2,8% este ano, é possível que haja uma desaceleração mais acentuada nos próximos meses. Para ele, uma “aversão a risco em nível global não ajuda em nada o venture capital”.

“Por mais que os juros caiam, esses riscos de uma recessão global acabam não sendo bons para esse mercado específico”, diz.

Carlos destaca que, embora seja um cenário “extremamente desafiador” para captação de recursos e mais complexo em termos de competição por capital, o mercado de VC “apenas retornou aos níveis históricos médios da região, não sendo uma situação atípica no longo prazo”.

“Quanto às estratégias de saída, não é recomendável que os fundadores se preocupem com variáveis fora de seu controle. É mais produtivo concentrar-se no desenvolvimento do produto e em como expandir a própria startup”, aconselha.