31,8 milhões. Esse foi o número de linhas do Excel que Daniel Shiraishi precisou para fazer todos os cruzamentos possíveis de remuneração de 9.248 procedimentos realizados por um grupo de 50 médicos. Algo impossível de ser gerenciado manualmente.
O experimento feito em 2020 validou a tese que ele e Sergio Campangna vinham construindo desde 2017. “Meu irmão que é médico foi morar em Dourados (MS) e queria voltar para São Paulo depois de 6 meses porque tinha dificuldade em gerenciar as contas e receber. Fui entender melhor o cenário e vi que essa é uma dor muito grande. Os médicos cuidam de uma empresa e não sabem disso, não têm conhecimento sobre gestão. E muitas vezes pagam caro para quem se oferece a organizar os seus recebíveis”, diz Shiraishi.
Deste trabalho nasceu a Fin-X, uma healthtech que se propõe a automatizar esses cálculos, melhorando a remuneração dos médicos em até 30%. “O médico pode ter 5, 6 fontes pagadoras com cálculos malucos e diferentes prazos de recebimento. Não é razoável”, diz. Voltando ao caso do irmão, ele conta que, fazendo uma melhor gestão dos recebíveis, ele passou a trabalhar um período a menos às sextas e ganha 20% mais.
O negócio, que começou a operar oficialmente em 2018, já conta com 2,5 mil médicos cadastrados e acaba de receber seu primeiro cheque: de R$ 500 mil do Fundo Anjo, da DOMO Invest. O valor é composto por recursos do fundo – lançado pelo BNDES em 2019 e gerido pela DOMO – somado ao de coinvestidores.
Segundo Franco Pontillo, sócio da DOMO e responsável pelo Fundo Anjo, este é o primeiro aporte em uma companhia da área da saúde. “Ninguém entrou nesse fogo cruzado, na complexidade do cálculo da remuneração médica. O que tem no mercado é mais o prontuário, a dinâmica do agendamento da consulta”, diz.
Em 2020, a Fin-X fechou contrato com um hospital do interior de São Paulo, e rodou pilotos em uma grande operadora de saúde. No momento, a lista de conversas conta com 15 nomes, sendo 6 em estágio mais avançado, diz Shiraishi.
O foco das vendas está nos hospitais, mais especificamente no agendamento de cirurgias – importante fonte de renda para os hospitais e um dos elos mais complicados da cadeia médica, que ficou ainda pior durante a pandemia. “Os hospitais perderam 50%, 60% das receitas, precisam recuperar isso. E os médicos fica desconfiado porque não sabe se as coisas estão sendo feitas da forma mais organizada”, diz Shiraishi.
Segundo ele, os recursos do aporte vão ajudar a empresa no desenvolvimento do produto e em manter as operações ao longo do ano. A equipe de 10 pessoas não deve crescer muito, por enquanto. O principal desafio no momento, para ele, é ganhar credibilidade e confiança dos médicos, operadores e hospitais. Para fazer isso, a companhia montou um conselho médico formado por nomes reconhecidos do mercado – alguns inclusive, investidores da companhia.
Além do produto de gestão, a Fin-X tem um esforço na área educacional, a Fin-X Educa, para ajudar os médicos a entenderem melhor sobre remuneração, gestão e leis como a LGPD. Detalhe: com médicos falando para médicos.
Nos planos de crescimento, Shiraishi enxerga a criação de novos produtos e, em algum momento, a inclusão de serviços financeiros, como a antecipação de recebíveis, transformando a Fin-X em uma healthfintech – ou seria uma finhealtthtech?