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Para Eurasia, autocratas são ameaças maiores que a Covid em 2023

Consultoria de risco colocou Vladimir Putin e Xi Jinping como as grandes ameaças para 2023. Brasil não entrou na lista de riscos

Rússia e China
Foto: Canva

Alguns dos seres humanos mais poderosos do planeta serão um risco maior à humanidade que a pandemia de Covid-19. Esta é a conclusão do relatório da consultoria internacional Eurasia sobre quais são as ameças que têm mais potencial para provocar sérias turbulências em nossas vidas em 2023.

Para os analistas da Eurasia, os dois maiores riscos globais para o ano que está começando são representados pelos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping. Segundo o presidente da consultoria, Ian Bremmer, ambos têm um poder imenso nas mãos, e podem criar uma série de instabilidades. “Putin não será deposto, e a Rússia não tem capacidade de ganhar a guerra com a Ucrânia nas formas mais tradicionais. E se ele não aceitar a derrota, pode partir para o uso de armas de destruição em massa”, explicou durante conversa virtual com jornalistas.

Para o executivo da Eurasia, existe a chance da guerra se ampliar e ter a participação direta dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aumentando ainda mais a chance de materialização de um temor que estava “congelado” desde o fim da Guerra Fria e da União Soviética, no final da década de 1980.

Na visão da Eurasia, Putin é capaz de instalar mísseis nucleares mais perto da Ucrânia, e mostrar isso para o mundo inteiro. “O uso da força nuclear pela Rússia é improvável. Mas aumentam os riscos de erros e acidentes. E ao contrário do que aconteceu na Crise dos Mísseis em Cuba, na década de 1960, desta vez, Putin não conseguirá voltar ao caminho pré-guerra”, diz a consultoria.

No caso da China, o maior risco apontado pela Eurasia é o nível de poder que foi dado ao presidente Xi Jinping após o último congresso do Partido Comunista, que prorrogou sua presença no cargo pelo menos até 2027.

Além do terceiro mandato seguido, a grande influência de Xi junto aos membros do Partido faz com que os poderes dados a ele como presidente se tornem quase ilimitados. E a Eurasia aponta que o mandatário chinês parece estar basicamente perdido.

“Ele saiu de uma política bastante restritiva em relação à Covid-19, a chamada Covid Zero, para uma repentina abertura total. Por isso, a China pode bater a marca de 1 milhão de mortos, com centenas de milhões infectados”, comenta Bremmer.

Tudo isso enquanto a China adota um caminho de não fornecer informações sobre o que acontece no país. “Sempre houve restrições, mas antes tínhamos acesso a alguns dados que davam uma ideia mais próxima sobre a China. Agora, não sabemos nada do que está acontecendo lá”, reforma o presidente da Eurasia.

E o Brasil?

Antes de começar a listar os riscos globais para 2023, Bremmer citou alguns “alívios” em relação ao que se esperava para o ano passado. E citou o Brasil entre eles.

Além de não ser citado diretamente dentro da lista de 10 maiores riscos para o mundo neste ano, a democracia brasileira, segundo Bremmer, “conseguiu sobreviver, assim como a americana fez nos tempos de Trump”. Ele faz referência a algumas declarações do agora ex-presidente Jair Bolsonaro questionando a transparência das eleições e algumas pressões por um golpe militar por parte de seus apoiadores.

E o passo seguinte, segundo ele, é que o Brasil tenha um papel global importante em alguns assuntos, como mudanças climáticas e as desigualdades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Tecnologia e democracia

Sobre a democracia nos Estados Unidos, Bremmer acredita que a polarização vista no Brasil nas eleições de 2022 está muito presente por lá. Esse é um dos riscos listados como top 10 para este ano pela Eurasia, inclusive. “Podemos ter uma escalada na violência política neste ano. Há muita tensão, principalmente dentro dos estados”.

Ele faz um destaque para a mudança de papel norte-americano na geopolítica global. “Antes, os Estados Unidos eram considerados exportadores de democracia. Agora, nós exportamos ferramentas para movimentos anti-democráticos”.

Bremmer se refere principalmente às redes sociais, nomeando o nono maior risco em 2023 como “Tik Tok Boom”. Para a Eurasia, estes instrumentos servem para dar vasão a um maior radicalismo da chamada “Geração Z”, nascida a partir da segunda metade da década de 1990, provocada pela ineficiência dos líderes globais em responder à crescente insatisfação das pessoas.

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Riscos econômicos

Por fim, há uma maior preocupação com aumento da inflação global e com uma possível crise energética, especialmente na Europa.

Para Cliff Kupchan, presidente do conselho da Eurasia, preços e juros altos, juntamente com recessão global, podem provocar sérias convulsões sociais em vários países. “E aí podemos ter guinadas populistas, principalmente em países com eleições presidenciais à frente, como Turquia, Argentina e Polônia”.

Argentina e Turquia enfrentam um cenário de inflação próxima a 100% ao ano, com governos de perfis diferentes, mas que enfrentam crises econômicas e sociais gravíssimas.

Ameaças 2023

Confira abaixo a lista dos 10 principais riscos para 2023 listados pela Eurasia. O material completo pode ser baixado no site da consultoria.

  1. Vladimir Putin
  2. O poderoso Xi
  3. Armas de destruição em massa
  4. Efeitos da inflação
  5. O Irã encurralado
  6. Crise de energia
  7. Desenvolvimento global interrompido
  8. Os EUA divididos
  9. A explosão do Tik Tok
  10. Crise de água

*Por Renato Carvalho, especial para o Startups