Assim como o ecossistema de startups e venture capital, o mercado de M&As passou por um período difícil nos últimos anos, com queda nos números de transações e no valor das operações. Mas, apesar de o cenário ainda ser longe do auge registrado em 2021 e 2022, parece que o pior já passou, aponta Kauê Pires, sócio da FZF Capital.
A boutique de M&A foi responsável por operações como a venda da Flexpag para o Serasa Experian (2023) e a aquisição da CobranSaaS pela Celcoin (2024). Focada 100% em negócios de tecnologia, a FZF Capital possui uma taxa de 80% de transações bem-sucedidas, patamar acima da média do mercado, segundo o sócio.
“O que a gente vê em M&A de tecnologia, é que quando se entende profundamente as duas pontas, os negócios saem por valores muito superiores, porque nós conseguimos entender as operações do comprador e do vendedor, e como a aquisição adiciona valor aos negócios da corporação do ponto de vista estratégico”, explica Kauê.
Dados levantados pela FZF Capital mostram que o mercado de M&As no Brasil tem se recuperado, com uma alta de mais de 100% no volume anunciado em 2025 (até março), na comparação com 2024, até o mesmo mês. Foram R$ 1,3 bilhões em volume nos três primeiros meses deste ano, contra R$ 600 milhões no mesmo período do ano passado.
Já m relação ao número de operações de M&A, a alta foi de mais de 87% – foram 58 transações de janeiro a março de 2025, contra 31 no primeiro trimestre de 2024.
“A ressaca aconteceu entre agosto de 2023 e agosto de 2024, quando achamos que atingimos a mínima. A pior parte da ressaca já passou, e tudo indica que estamos voltando. Em fevereiro e março tivemos mais de 20 transações, e esses costumam ser meses fracos no Brasil”, aponta o executivo.
Segundo ele, as taxas de juros ainda em patamares elevados atrapalham a aceleração desse mercado. A taxa básica de juros (Selic) está em 14,25%, maior patamar desde o governo Dilma, e a projeção do mercado é que chegue a 15% até o final do ano.
Em geral, as transações de M&A independem do ambiente macroeconômico, já que têm papel estratégico para os negócios. No entanto, Kauê afirma que as taxas de juros altas acabam interferindo na precificação dos ativos.
“A empresa vale o lucro dela trazido a valor presente a uma taxa de desconto. Se o dinheiro está dormindo a taxa de mais de 10% ao ano, se eu pago mais do que isso pelo ativo, estou perdendo dinheiro. Deixar o dinheiro parado vale mais a pena. Ou, para quem precisa levantar uma dívida para fazer a aquisição, o custo dessa operação fica mais caro”, explica.
Outro desafio é convencer as empresas de que os valuations registrados em 2021 e 2022 não irão se repetir. “Tem gente que quer vender a empresa pelo que outros founders venderam em 2021. Até entenderem que os valuations não vão voltar ao que eram, leva tempo, e enquanto isso as transações ficam paradas”, acrescenta o sócio da FZF Capital.
A assessoria de M&As também levantou dados sobre a evolução das rodadas de investimento, registrando aumentos na casa de 60% tanto em volume transacionado, quanto em número de captações.
“O que a gente observa é que depois de grandes crises o mercado de tecnologia tende a ter uma ressaca, mas depois volta. Já passamos pelo pior e agora estamos nos recuperando”, diz.