Quando anunciou um aporte de R$ 210 milhões, em maio do ano passado, a australiana Stake, plataforma de investimento em ações nos EUA, tinha uma expectativa de chegar ao fim de 2021 com uma base de 100 mil clientes em sua operação brasileira. O número não foi atingido – a fintech terminou o ano com 40 mil investidores brasileiros na plataforma.
“Tínhamos uma meta ambiciosa, ficamos muito motivados no começo, com GameStop, por exemplo. Foi um aprendizado”, reconhece Paulo Kulikovsky, COO da Stake, em entrevista ao Finsiders. “Ainda estamos aprendendo como o brasileiro investe lá fora, como é a aversão a risco.”
Aumentar a base é importante, claro, mas não é o principal alvo da fintech, que desembarcou no Brasil em outubro de 2020 e desde então enfrenta uma acirrada competição com outras plataformas que permitem ao investidor brasileiro aplicar ações nos EUA.
“Queremos, sim, chegar a 100 mil [clientes], mas mais do que atingir um número simplesmente, nosso objetivo é ter uma operação sustentável no negócio”, diz Paulo. “Estamos mais preocupados em ter maneiras de fazer com que o cliente tenha contas com tamanho mais significativo na plataforma”, complementa.
A Stake vai começar a oferecer negociação de criptoativos no último trimestre do ano, com uma “proposta competitiva”, com lançamento simultâneo no Brasil e na Austrália. É tudo que Paulo pode comentar neste momento sobre a iniciativa, que chega num contexto de extremo aquecimento do mercado cripto mundo afora. “Sou o último na fila [a oferecer cripto], mas vamos vir com uma proposta competitiva”, garante o executivo, sem abrir detalhes.
A fintech também planeja colocar novas funcionalidades para melhorar a experiência do investidor na plataforma, como tem feito em sua operação de origem, na Austrália. Desde janeiro, por exemplo, a Stake passou a oferecer aos investidores australianos a possibilidade de aportar recursos em ações na bolsa de valores local, complementando a oferta das bolsas norte-americanas.
“Vamos trazer mais algumas ordens avançadas neste próximo trimestre. Além de outras melhorias de produtos que a concorrência não tem, e que podem ser mais diferenciais”, diz Paulo. Uma dessas melhorias é o limite de horário para que o dinheiro depositado esteja disponível na conta para investimento. “Vamos permitir que isso aconteça dentro do pregão no dia.”
Questionado sobre a adição de produtos e serviços bancários na plataforma – um movimento feito por uma de suas principais concorrentes, a Avenue Securities –, Paulo diz que a Stake mira outros produtos, mas ainda não há definição no curto prazo para entrar em banking. “No futuro, todas as plataformas vão oferecer todas as soluções, e não vai dar para fugir de banking e outros instrumentos que sejam interessantes. Não é ‘se’, e sim ‘quando’.”
As campanhas de marketing são uma frente importante de investimento da Stake para este ano, e é natural dado o desafio de ampliar a base de clientes no país. “Estamos fazendo pesquisas para entender melhor quem é nosso consumidor. Tem um oceano gigantesco para navegar”, diz Denise Abramovici, head de marketing Latam da Stake.
O público da fintech hoje é basicamente formado por homens entre 35 e 40 anos, que já são experimentados em investimentos, querem diversificar a cesta de aplicações financeiras e gostam de tecnologia. “Não falamos com ‘beginners’. São pessoas que têm mais facilidade com investimentos e novas ferramentas, porque a plataforma é ‘self-service’. Não trabalhamos, hoje, com intermediários”, explica a chefe de marketing da fintech.
Expansão adiada
A Stake também decidiu colocar o pé no freio nos planos de expansão para outros países na América Latina e na Europa. “Descartamos sair expandindo para América Latina. Vamos focar nos países em que estamos. Mas não descartamos fazer a expansão internacional em 2023”, afirma Paulo. Hoje, além da Austrália e do Brasil, a fintech atua na Nova Zelândia e no Reino Unido.
A empresa não abre números da operação local, como o volume de ativos sob custódia (AuC) ou a participação do Brasil no negócio como um todo. Ao todo, a Stake tem mais de US$ 1,2 bilhão em AuC e se aproxima de 500 mil clientes nas quatro operações. A fintech terminou o ano passado com mais de US$ 8 bilhões em ativos transacionados em Wall Street.
Atualmente, a equipe no Brasil soma 36 pessoas e deve chegar a 50 ainda este ano. Com um modelo híbrido – combinação de trabalho presencial e home office –, a fintech tem posições no Cubo Itaú, mas com o aumento do time vai para um escritório próprio. O espaço, na Vila Madalena, na capital paulista, está previsto para ser inaugurado em julho.
Mercado
A Stake não é a única a apostar na tese de que o investidor brasileiro busca diversificar sua cesta com produtos no exterior. A Avenue Securities, de Roberto Lee, levantou R$ 150 milhões em agosto do ano passado em um aporte liderado pelo SoftBank Latin America Fund. A plataforma vem ampliando o portfólio de produtos e serviços, como conta corrente em dólar, cartão de débito e cripto.
A Nomad, lançada em novembro de 2020, nasceu abrindo conta corrente para brasileiros nos EUA, e nos últimos meses incrementou a oferta com produtos e serviços como investimentos e remessas internacionais. Em julho do ano passado, a fintech liderada por Lucas Vargas captou R$ 100 milhões em um aporte coliderado pelos fundos de Venture Capital Monashees e Spark Capital.
Desde novembro do ano passado, o Inter também permite que seus investidores aportem recursos em ações nos EUA. Vale lembrar que o banco digital comprou no ano passado a fintech norte-americana Usend para pavimentar sua expansão internacional, iniciando o movimento pelo país do Tio Sam.
Na lista de players de olho no investidor brasileiro que quer investir no exterior, os nomes incluem, ainda, Passfolio e Sprout.
“Ainda não é um mar vermelho, mas também não é oceano azul. Em todos os lugares tem concorrência. O que precisa fazer é um produto que tenha fãs, que te apoiam, que consiga ganhar tração”, diz Paulo, da Stake.