Quem ouviu Romero Rodrigues falar durante o Emerging Giants Day, da KPMG, na noites de quinta-feira (10) poderia até julgar que managing partner da gestora Headline tem uma visão pessimista sobre o atual momento do mercado. Mas esse não é o caso.
“Mesmo com tudo o que está acontecendo, eu estou otimista. Temos um número enorme de companhias que estão completamente prontas para o IPO”, disse ele para uma plateia de mais de 130 fundadores, fundadoras e executivos do ecossistema de inovação. O encontro na sede da Big Four marcou o início do novo ciclo do programa, que vai apoiar 14 companhias de alto crescimento ao longo dos próximos 12 meses.
IPOs em vista
Romero enxerga uma possível reabertura da janela de IPOs para 2025. Essa possibilidade está ligada ao cenário macroeconômico global. Mais especificamente ao ciclo de queda de juros nos EUA, que começou em setembro, mas ainda não foi suficiente para destravar o mercado.
E tem bastante coisa parada. Depois de mais de 140 aberturas de capital de empresas de tecnologia apenas em 2021, o número de IPOs no mundo caiu drasticamente. Foram apenas 14 empresas que realizaram IPOs nos últimos três anos.
Para quem quer acessar o mercado privado, o cenário ainda é desafiador. Até a Moove, empresa de lubrificantes da gigante Cosan, teve que cancelar sua oferta inicial de ações por resistência do mercado. Na avaliação de Romero, a ressaca ainda deve perdurar pelos próximos 12 ou 18 meses.
Isso não significa, entretanto, que depois disso, o setor de venture capital deverá viver um momento de euforia parecido com o que foi registrado em 2021 e 2022, com captações recordes em todo o mundo. “Nunca vamos voltar aos níveis de 2021”, diz Rodrigues. “E se voltar, é hora de vender.”
Depois de embolsarem mais de US$ 9,7 bilhões em 2021, as startups brasileiras levantaram menos da metade deste montante no ano seguinte. A soma dos investimentos em 2022 foi pouco superior a US$ 4,4 bilhões. No ano passado, o montante somou “apenas” US$ 1,9 bilhão, segundo dados do Distrito.
Cisne negro
Romero classificou o cenário atípico de 2021 como um “cisne negro”. “Tivemos 180 bancos centrais imprimindo dinheiro ao mesmo tempo”, afirmou. “Isso causou uma inflação de todos os ativos e fez com que muitas empresas levantassem mais dinheiro do que precisavam.”
Se tá ruim no mercado em geral, a Headline parece conseguir remar na direção contrária. No mês passado, a matriz da gestora no Vale do Silício informou ao mercado que levantou US$ 865 milhões para um novo fundo de growth. O objetivo é investir em startups ao redor do mundo com cheques entre US$ 20 milhões e US$ 70 milhões e em rodadas de Série B.
Questionado sobre como esses recursos seriam aplicados por Diogo Garcia, líder do programa Emerging Giants, Romero disse que o primeiro aporte do novo fundo deve ser feito na América Latina. No Brasil, a Headline tem um fundo voltado ao early stage com quase R$ 1 bilhão em parceria com a XP.
Se captar dinheiro parece uma missão complicada neste momento, Rodrigues diz que esta pode ser a hora certa para que as startups foquem esforços em trabalhar outros aspectos do negócio. Um deles, em especial: o propósito do negócio. “Fortaleça a cultura do time e o propósito”, aconselha.