O desenvolvimento do mercado de venture capital no Brasil é notável com os cheques enormes destinados a empresas conhecidas como Nubank, Loft e QuintoAndar. Mas essa maturidade também está abrindo espaço para apostas em teses e modelos de negócios novos que poderiam ser considerados pouco atraentes uns anos atrás.
Um exemplo disso é a rodada seed de US$ 1 milhão que a recém-criada RunOps acaba de receber. Não conhece a RunOps? Pois é, vai vendo.
A companhia nasceu oficialmente em janeiro por iniciativa do engenheiro de software Andrios Robert. Seu primeiro produto ataca uma dor enfrentada por desenvolvedores ao redor do mundo. Em termos leigos, de quem não fala DEV, a ideia é permitir o acesso seguro a bancos de dados sem a necessidade de processos burocráticos de aprovação e liberação. Com as políticas definidas, os desenvolvedores fazem a solicitação dos acessos e as equipes de operação recebem todas as informações necessárias tendo apenas que aprovar ou não o pedido.
Ou seja: uma tecnologia brasileira voltada aos bastidores do mundo da tecnologia que pode ser usada no mundo todo. Uma história que lembra muito a da Rocket.Chat.
Early days
O negócio da RunOps está tão no início que nem tem uma interface gráfica: usa linha de comando e Slack. Segundo Andrios, a ideia é usar parte dos recursos para da rodada para desenvolver essa cara do produto. Outra parte será usada para a adição de novos recursos. Em uma 2ª fase, daqui uns 6 meses, a ideia é fazer um esforço comercial mais forte. Hoje a equipe conta apenas com Andrios e mais um desenvolvedor.
“As ferramentas que existem atualmente para fazer esse tipo de controle de acesso foram desenhadas para o mundo em que desenvolvedores e operações trabalham de forma separada. A RunOps é uma das poucas que suportam o modelo de DevOps [no qual quem desenvolve também opera]”, diz Andrios. Com ambição global, a companhia nasceu com sede nos EUA e falando inglês.
Talvez por isso mesmo tenha atraído como investidores apenas nomes internacionais: Valor Capital, Global Founders Capital (GFC), Y Combinator, Liquid2, Quiet Capital e Share Capital.
Hoje, seu sistema está integrado com 30 ferramentas. Até o fim do ano a meta é chegar a 100 – cobrindo 90% das necessidades dos desenvolvedores.
O modelo de negócios é baseado e uma assinatura por usuário. Hoje, são 300 desenvolvedores usando, sendo 100 pagantes. Em 18 meses a ideia é chegar a 1,8 mil. Entre seus clientes a RunOps tem as fintechs Dock e Magnetis.
História curiosa
A história da companhia é curiosa. O negócio, foi, na verdade, a 2ª opção de Andrios ao decidir empreender. Depois de sair da fintech Pismo no meio de 2020, ele montou uma outra empresa, a Decimals, uma API para consolidação de dados de pagamentos. Foi com ela, aliás, que ele fez sua inscrição na Y Combinator. Duas semanas antes de fazer a 1ª entrevista do processo de seleção, ele mudou os planos e passou a investir na RunOps. “O ciclo de venda da Decimals se mostrou muito longo”, conta.
A conversa de 10 minutos com os sócios da YC foi um caos. Na 1ª metade, Andrios ficou falando sobre a RunOps e as perguntas eram sobre o que aquilo tinha a ver com Decimals. Quando percebeu o que estava acontecendo, ele reforçou: eu mudei tudo, esquece a Decimals.
Enquanto a seleção acontecia a RunOps ganhou sus primeiros clientes e o papo de Andrios colou. A startup foi umas das 9 brasileiras que participaram da turma do 1º trimestre de 2021 da YC. “O potencial de escala é muito grande. A visão é ser a ferramenta padrão para desenvolvedores acessarem recursos na nuvem”, reforça o fundador.
Hoje, são 40 milhões de pessoas envolvidas com desenvolvimento e operações no mundo, número que tem crescido com a demanda por mais e mais tecnologia dentro das empresas.