Porto Digital
Heraldo Ourem, diretor de inovação e competitividade empresarial do Porto Digital (Foto: Divulgação)

O Porto Digital entrou em uma nova fase. Um dos principais polos de tecnologia e inovação do país, o parque recifense está reformulando suas estratégias de fomento a startups, com o objetivo de ampliar seu impacto social e econômico. A meta é ambiciosa: atrair mais empresas para o ecossistema e, assim, gerar mais empregos em tecnologia.

Com cerca de 21 mil profissionais atuando em 475 empresas embarcadas – incluindo Deloitte, Bradesco e Solar Coca-Cola -, o Porto Digital pretende chegar a 50 mil pessoas nos próximos 15 a 20 anos. Para isso, a estratégia inclui descentralizar operações, fortalecer programas de formação e estimular o surgimento de negócios mais maduros em Pernambuco e em outros estados.

De polo local a ecossistema em rede

Segundo Heraldo Ourem, diretor de inovação e competitividade empresarial do Porto Digital, a instituição tem se adaptado às transformações do mercado e ao novo perfil das startups. “Há 20 anos, o desafio era atrair empresas intensivas em ciência e conhecimento, com infraestrutura capaz de equilibrar hardware e software. Hoje, o foco está em reduzir a distância entre as startups e seus mercados, que no Brasil são majoritariamente B2B”, explica.

Essa nova abordagem inclui o redesenho dos programas de aceleração, com batches que reúnem de 50 a 60 startups e foco em capilaridade regional. O Porto Digital, que nasceu no Recife, vem expandindo sua atuação para outros estados, como Goiás, e para municípios do interior pernambucano, conectando diferentes vocações produtivas – do polo portuário do litoral sul às confecções do Agreste e à agroindústria do Sertão.

“A ideia é descentralizar e dar capilaridade aos programas, levando oportunidade para quem está fora da capital, mas sempre com um olhar voltado para problemas reais de mercado”, reforça Heraldo.

O objetivo, segundo ele, não é apenas replicar o modelo recifense, mas adaptar os programas às demandas específicas de cada território, gerando oportunidades de emprego e renda. Para se ter uma dimensão do impacto, no último ano o faturamento das empresas do distrito de inovação cresceu 14%, alcançando R$ 6,2 bilhões.

O parque tem direcionado esforços para dois setores estratégicos: indústria 4.0 e healthtechs. Ambos, de acordo com o executivo, concentram alto potencial de impacto e refletem demandas urgentes da economia.

Na indústria 4.0, o foco está em aproximar startups das cadeias produtivas locais, incentivando soluções que aumentem a competitividade. Já na área da saúde, o Porto Digital aposta em um conceito de “saúde global”, que engloba desde a prevenção de doenças até a melhoria na gestão do atendimento.

“Temos uma população que envelhece e uma capacidade limitada de ampliar o atendimento. A tecnologia será um fator-chave para resolver isso. Startups de saúde têm um papel enorme nesse processo”, afirma Heraldo.

Mais empresas, mais empregos, mais impacto

Com o olhar voltado para 2026, o Porto Digital quer atrair grandes corporações e fortalecer startups nascidas em seu ecossistema. A estratégia combina três frentes: atrair empresas relevantes, criar e escalar negócios locais e oferecer suporte contínuo para startups em fase de crescimento.

“Queremos mais empresas orbitando o Porto Digital e, consequentemente, mais pessoas trabalhando com tecnologia. É inclusão produtiva na prática: gerar emprego e renda para quem mais precisa”, afirma Heraldo.

A ambição é transformar a inovação em um instrumento de desenvolvimento regional e social. E, nesse sentido, o Porto Digital busca mostrar que o futuro do trabalho e da tecnologia pode – e deve – ser construído também fora do eixo Rio-São Paulo.

Inovação e inclusão na prática

Para Heraldo, o Rec’n’Play, evento anual em Recife promovido pelo Sebrae, Porto Digital e Ampla, simboliza a nova fase de conexão com o público jovem e de inclusão produtiva. Com painéis, hackathons e atividades abertas a estudantes e pessoas de todas as idades, o festival busca quebrar padrões históricos de exclusão no ecossistema de inovação, promovendo diversidade de gênero, classe e origem social.

O diretor destaca que a gratuidade do evento permite que jovens e futuros empreendedores compreendam que a tecnologia é uma oportunidade de carreira e transformação social. “O futuro é feito de gente. A gratuidade faz com que as pessoas entendam que é pra elas, permitindo à cidade abraçar o evento. Aqui é oportunidade real, não apenas uma festa”, afirma.

Heraldo ressalta que, assim como o Porto Digital, o Rec’n’Play cumpre um papel estratégico no ecossistema: formar novos talentos, gerar demanda concreta para soluções inovadoras e aproximar jovens de problemas reais de mercado. “A inovação não se faz sem o povo. Ter a capacidade de aprendizado de forma dinâmica, perene e ao longo de toda a jornada é fundamental”, conclui.