Quando pensamos em Hotmart, a primeira coisa que vem à mente são infoprodutos. Foi em cima deste modelo de negócios que a startup mineira cresceu e se tornou um unicórnio brasileiro, somando mais de 30 milhões de usuários e 580 mil produtos digitais oferecidos em cerca de 200 países. Entretanto, agora a companhia pretende cruzar uma nova fronteira: a dos produtos físicos.
Segundo destaca a empresa, agora os criadores de conteúdo poderão oferecer dentro da plataforma da Hotmart não só itens como cursos e ebooks, mas também complementar suas estratégias com itens físicos, como apostilas, squeezes, livros, colecionáveis, maquiagens e outros.
Em conversa com o Startups, o CEO da Hotmart, João Pedro Resende, revelou que essa já era um plano antigo da companhia. “É uma coisa que eu sempre achei que a gente iria fazer em algum momento, mas agora foi o momento correto, até porque a gente já tem todo o restante da infraestrutura pronta”, explica JP.
Além de fornecer o canal de vendas e pagamento dentro da página dos criadores de conteúdo, a Hotmart também se reponsibilizará pela parte logística, já fazendo a ponte com os Correios e permitindo, por exemplo, a impressão de etiquetas de envio e rastreamento dos pedidos sem sair da plataforma da companhia. “Hoje as ferramentas ainda são muito espalhadas. Tem pedaços de soluções em diversos lugares e falta conveniência. Essa integração de estar tudo no mesmo lugar facilita muito a vida dos criadores”, pontua o CEO.
Demanda dos creators
Aliás, por falar em facilitar a vida, a decisão por incluir a venda de produtos físicos também era algo demandado por boa parte dos clientes da empresa. Em uma pesquisa feita em 2023 com clientes pequenos e médios da Hotmart com mais de 500 creators brasileiros, cerca de metade dos respondentes disse já vender ou planejar vender produtos físicos.
Inclusive, na avaliação de JP, a criação deste novo canal tem como alvo um público novo para a Hotmart. Segundo o CEO, nem todo produtor de conteúdo na internet tem o tempo ou fala sobre assuntos que rendam infoprodutos como cursos ou e-books. Entretanto, por meio de produtos físicos é possível criar uma forma extra de monetização em cima de sua audiência.
“Tem influenciadores que falam de seu cotidiano, e é difícil criar infoprodutos em cima disso. Uma solução viável é você ter um produto físico que conversa bem com sua comunidade. Por exemplo, um creator de viagens, em vez de produzir um guia, pode vender bolsas, ou mochilas, produtos que façam sentido com seu público”, explica.
A novidade já está no ar há algumas semanas, com um roll out inicial com mil criadores, mas segundo a Hotmart, vários deles já estão vendo resultados. Juliana Lescher, dona da Juju Scrapbook, já possuía uma loja física e e-commerce e vendia um curso online na Hotmart. Com o novo canal de vendas, Juliana decidiu vender itens para scrapbook como adesivos, papéis e carimbos também por meio da Hotmart e teve um acréscimo de mais de 80% na sua receita.
All-in-one
Por falar em receita, com a novidade a Hotmart quer abrir uma nova avenida de crescimento – o que segundo JP, guarda um potencial do “tamanho de outra Hotmart“. Entretanto, segundo o CEO, o plano é ir com calma, abrindo a solução aos poucos para crescer com sustentabilidade e mantendo uma boa experiência de uso.
“Eu acredito que essa é uma oportunidade é que, em 5 ou até 10 anos pode ser extremamente relevante para a gente. Tô falando disso até se tornar metade da nossa receita, e mais adiante eventualmente superar produtos digitais”, pontua JP Resende.
De acordo com o CEO, a venda de produtos físicos é mais um passo em sua estratégia crescente da companhia em ser uma plataforma all-in-one para quem cria conteúdo. Depois de virar unicórnio em 2021 com uma rodada de US$ 130 milhões, a empresa fez várias aquisições para adicionar diferentes produtos e formas de receita. Entre elas estão a Teachable, a startup de soluções para landing pages Klickpages, Wollo, de soluções para monetização de infoprodutos, e a eNotas, de emissão de notas fiscais.
Com a expansão de portfólio, a companhia também conseguiu estender seu faturamento em novas direções. Segundo JP, atualmente, um quarto da receita da empresa junto aos criadores já provém do modelo de assinaturas, e segundo o CEO, com a chegada de recursos em áreas como IA, isso deve ser ampliado.
Por falar em inteligência artificial, no começo deste ano, a Hotmart retornou às compras ao levar a Reshape, plataforma que usa IA para transcrição e edição de vídeos, geração automática de legendas e tradução para outros idiomas. Segundo JP, tanto a compra da Reshape, quanto novidades quanto a venda de produtos físicos, dão um horizonte animador de crescimento para a companhia.
“A gente tá sempre perseguindo lucratividade de dois dígitos e crescimento de dois dígitos. É um desafio cada vez maior manter isso, mas por outro lado o mercado tem crescido também. Então a gente continua abrindo avenidas de crescimento, desde suportar mais idiomas e vender produtos físicos. O que eu quero dizer é que a taxa de crescimento pode ser ainda maior nos próximos anos. Comum é você e diminuir a taxa de crescimento à medida que fica maior, mas a gente já subverteu isso outras vezes na nossa história, e podemos fazer de novo”, finaliza.