Empreendedor veterano em tecnologia para o setor imobiliário, Roberto Nascimento percebeu uma coisa: segundo ele, a maioria das startups do segmento focam na inovação só até a hora da venda. Entretanto, segundo ele, após o aperto de mão entre proprietário e comprador, existe uma jornada que a maioria das proptechs ainda não atende – e é este o foco de sua nova startup, a PipeImob.
Ah, e quando eu falo veterano do mercado, isso não quer dizer pouco. Na virada dos anos 2000, ele foi um dos fundadores do portal que viria a se tornar um dos maiores do país – a Zap Imóveis, marca que hoje é controlada pelo Grupo OLX. Depois disso, ele foi cofundador em outro negócio do segmento – o marketplace de financiamento imobiliário Kzas, que foi comprado pela Creditas no ano passado.
A ideia para o novo negócio já estava na cabeça de Roberto há tempos, mas durante o último ano, enquanto encaminhava a sua saída da Creditas com a conclusão da venda da Kzas, o empresário descobriu que já tinha uma startup pensando no que ele estava pensando.
“Ouvi de conhecidos do mercado que tinha uns meninos começando um negócio chamado PipeImob. No começo deu até um pouco de inveja, pois ele tiveram a ideia que eu queria fazer e já estavam com a empresa rodando”, disse Roberto, com um sorriso no rosto, em entrevista ao Startups.
Os dois meninos em questão são Danilo Herrero e Olavo Piton Junior, que criaram a PipeImob como uma solução complementar de outro negócio que tinham – eram proprietários de franquias da imobiliária Re/Max. Entretanto, com a chegada de Roberto como sócio e investidor, a PipeImob foi “refundada” como uma solução voltada ao mercado imobiliário como um todo – e Roberto passou a ser o CEO.
O que antes era uma operação que tinha três funcionários e atendia 60 clientes, em questão de meses expandiu para mais de 20 colaboradores e nos últimos 12 meses transacionou R$ 1,4 bilhão em Valor Geral de Vendas (VGV), além de gerar R$ 35 milhões em comissões. “Para o ano que vem, a meta é bater R$ 1 bilhão mensal em valor transacionado”, completa Roberto.
Resolvendo a papelada
Conforme explica Roberto, o trabalho da solução da PipeImob começa depois que o acordo de compra e venda é fechado. “Feito o acordo, começa todo um processo, bastante burocrático. Só para ter uma ideia, em média, esse processo envolve o envio e validação de aproximadamente 39 documentos, e tudo isso é feito ainda de forma muito artesanal nas imobiliárias, usando planilhas, email e WhatsApp”, pontua o CEO da proptech.
Para simplificar o processo, a PipeImob criou uma espécie de solução de workflow da venda de um imóvel, centralizando tarefas e incluindo recursos como geração de contratos, integração com cartórios e plataformas de CRM das imobiliárias, com informações que podem ser acessadas pelas imobiliárias, corretores, compradores e vendedores dos imóveis. “Criamos uma esteira digital que começa com a assinatura eletrônica da proposta, passando pelo controle de todos os documentos necessários para finalizar o processo”, explica Roberto.
Segundo o executivo, este foco na parte transacional também se estende ao aspecto financeiro da venda. Para isso, a PipeImob firmou uma parceria com a fintech Asaas para colocar dentro de sua plataforma recursos de embedded finance, automatizando processos como conciliação de pagamentos e repasses a corretores.
“Estamos falando da parte onde passa o dinheiro, de um mercado que movimenta cerca de R$ 1 trilhão, e muitas imobiliárias ainda fazem isso na base da planilha. Nós atendemos essa dor, ajudando imobiliárias a ficar na venda e no atendimento, e não tanto no backoffice”, dispara o empresário.
Parcerias e investimentos
Para seguir o ritmo de crescimento em 2024, o plano da PipeImob é ambicioso: firmar parcerias com grandes grupos imobiliários em cada estado e capitalizar em cima do buzz que isso pode trazer. Um exemplo desta estratégia está em andamento no Rio Grande do Sul, onde a proptech fechou contratos com a Auxiliadora Predial e Foxter, dois dos nomes mais conhecidos do mercado local. Nomes de calibre internacional como a Re/Max e KW (Keller Williams), também estão na carteira de clientes, reforçando a estratégia.
“É um efeito dominó. Falando para outras marcas regionais que conquistamos as principais do mercado local, podemos crescer a base de forma orgânica”, afirma Roberto, admitindo que seu histórico no setor torna mais fácil sentar à mesa com as grandes imobiliárias.
Já falando de investidores, as imobiliárias também tem sido importantes parceiras na empreitada de Roberto e seus sócios. Até o momento, a empresa captou aproximadamente R$ 3,5 milhões em pré-seed, pegando cheques menores de donos de grupos imobiliários. “Tê-los como sócios neste estágio tem sido positivo, pois trazem novos clientes, gerando um retorno melhor do que se fôssemos apenas fornecedores”, explica o executivo.
Entretanto, o plano para a PipeImob é encarar o mercado de venture capital em um futuro próximo, buscando uma série A com um possível reaquecimento do cenário de investimentos. “A expectativa (de rodada) é para o fim de 2024, mas se chegar uma proposta bacana antes, que nos ajude a acelerar, melhor ainda”, finaliza Roberto.