Thomaz Guz e João Campista, co-fundadores da Lugui | Foto: Divulgação
Thomaz Guz e João Campista, co-fundadores da Lugui | Foto: Divulgação

Veterano no universo das proptechs, o empreendedor Thomaz Guz agora quer colocar agentes de inteligência artificial para fazer o trabalho pesado da burocracia imobiliária. Essa é a ideia por trás da sua nova empreitada, a startup Lugui, fundada no final de 2024, e que tem se diferenciado por usar o WhatsApp como principal canal para análise de inquilinos.

O nome Thomaz Guz já é conhecido no mercado. Em 2017, ele fundou com o sócio Fabio Bertini a startup Uotel, de estadias por temporada, que se propunha a ser uma alternativa ao Airbnb. Em 2020, a proptech foi comprada pela Loft e mudou de nome, passando a se chamar Nomah. Em 2022, a Nomah anunciou uma fusão com a mexicana Casai, e, em 2023, a empresa resultante da fusão encerrou suas atividades, após ter atraído investidores como Andreessen Horowitz e Monashees.

Com o fim da empresa, Thomaz, que ainda tem participação na Loft, decidiu tirar um período sabático que incluiu viagens aos Estados Unidos (começando com uma visita ao SXSW, em Austin, no Texas), além de Ásia e Europa.

“A questão dos agentes de IA estava começando a ser explorada em diversas indústrias nesses países e comecei a olhar para diferentes teses. O mercado imobiliário é enorme, fragmentado, burocrático, e passei a olhar para o mercado de locação, onde 70% das operações ainda são manuais. Minha visão foi: e se pudéssemos transformar esse mercado com os agentes de IA, fazendo com que um processo que leva semanas leve 20 minutos?”, conta Thomaz.

No início de 2025, Thomaz conheceu João Campista, especialista na construção de agentes autônomos e ex-Itaú e Akad, que se tornou co-fundador da Lugui.

Apesar de ser relativamente recente no mercado, a startup já conquistou investidores relevantes. A rodada anjo da Lugui levantou cerca de R$ 1,5 milhão com executivos experientes de empresas como Microsoft, Nubank e Mercado Livre. Além disso, nomes do próprio setor imobiliário se envolveram: Ernani Assis, da Remax, e Admar Cruz, ex-Casa Mineira e QuintoAndar, apoiaram a ideia. A empresa também faz parte do programa AWS Activate, da AWS Startups, e recebeu US$ 25 mil em créditos para sua infraestrutura.

Paralelamente, a Lugui vem atraindo clientes estratégicos, como as imobiliárias Auxiliadora Predial, Cardinali e Guaíra, que juntas administram mais de 20 mil unidades.

A proposta da Lugui é resolver de forma automatizada e ágil o processo de análise de inquilinos. Através de agentes no WhatsApp, corretores enviam um CPF ou CNPJ — por mensagem, voz ou até foto — e recebem, em questão de segundos, um relatório com score de crédito, histórico jurídico, protestos e alertas, tudo consolidado e pronto para a tomada de decisão.

Por trás desse trabalho está uma camada tecnológica sofisticada: a startup se conecta a bases públicas e privadas, como Serasa, Receita Federal, cartórios e tribunais. Os agentes conversacionais funcionam por meio de grandes modelos de linguagem (LLMs), como os da Google, Anthropic e OpenAI, mas o diferencial da Lugui é justamente sua infraestrutura de integração própria, que transforma dados brutos em relatórios prontos para uso.

Graças a essa arquitetura, a Lugui já tem tração rápida. Segundo Thomaz, o número de análises passou de 50 em junho, na data de lançamento do programa, para 2 mil análises em outubro.

A startup também está prestes a lançar dois novos agentes que reforçam seu portfólio. Um deles automatiza a coleta de documentos, guiando o inquilino pelo WhatsApp para enviar CNH, comprovantes e demais arquivos, já organizados para a imobiliária. O outro é voltado à emissão de certidões, reduzindo a poucos segundos um processo que tradicionalmente toma horas e depende de múltiplos portais.

“Com a Lugui, o robô entra em contato com o inquilino e começa o processo de coleta, inclusive com lembretes automáticos para que a pessoa envie os documentos. Depois, retorna para a imobiliária com a análise pronta. Isso resolve a dor do corretor, do administrativo e do inquilino, que hoje tem que preencher vários formulários. Não existe algo assim no mercado”, conta o fundador.

Para Thomaz, a ideia é reduzir as tarefas administrativas, que hoje tomam cerca de 50% do tempo dos corretores, e com o uso da tecnologia podem passar a ocupar apenas 5% a 10%, liberando esses profissionais para captação, relacionamento e vendas.

“A IA está dando início a uma nova onda do mercado imobiliário. Se fosse há cinco anos atrás, soluções como essas não seriam possíveis”, aponta.