
O jogo da inteligência artificial é jogado em dois campos distintos e interdependentes. Um é o do desenvolvimento dos modelos e das aplicações que funcionam em cima deles. O outro é o da infraestrutura sobre a qual tudo isso funciona.
Com acesso fácil a energia, espaço e talentos, o Brasil é um bom candidato a receber uma parte dos investimentos bilionários que estão sendo direcionados à construção de centros de dados. Só é preciso equacionar a questão dos impostos. E isso parece estar avançando. “O Redata pode ser um catalisador para que a gente mude o jogo”, disse Leandro Vieira, vice-presidente de inteligência artificial e nuvem para a América Latina da Oracle, em conversa com o Startups durante o AI World, em Las Vegas.

O programa anunciado pelo Governo Federal no começo de setembro prevê incentivos como isenção de PIS/Pasep, Cofins e IPI na aquisição de equipamentos importados ou produzidos no Brasil
Em contrapartida, as empresas terão de aportar 2% do valor dos produtos adquiridos no mercado interno ou importado em investimentos em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação. O recurso será aplicado em programas prioritários de apoio ao desenvolvimento e adensamento industrial da cadeia produtiva de economia digital.
Elas também terão que disponibilizar para o mercado nacional no mínimo 10% da capacidade de processamento, armazenagem e tratamento de dados. No caso de empreendimentos instalados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a política prevê a redução de 20% dessas duas obrigatoriedades.
A estimativa é que o programa atraia investimentos da ordem de R$ 2 trilhões, o equivalente a US$ 300 bilhões, ao longo de uma década. É muito, mas ainda uma fatia pequena do crescente bolo. Para efeito de comparação, só o projeto Stargate, capitaneado por OpenAI, Oracle e SoftBank, promete investir US$ 500 bilhões nos próximos quatro anos nos EUA.
Para Leandro, ao equilibrar a questão dos tributos, é possível pensar no Brasil e outros países da américa Latina como hubs globais para atividades como o treinamento de modelos. “Grande parte dos clientes hoje podem ter essas cargas rodando em qualquer lugar do mundo nessa fase. Se não há uma exigência de fazer localmente, ele pode rodar em qualquer região do mundo que entregue o menor custo-benefício”, contou.
Hoje a Oracle tem duas regiões de centro de dados instaladas no Brasil. Na América Latina existem outras cinco, sendo duas no México, duas no Chile e uma na Colômbia. De acordo com Leandro, essa capacidade atende a demanda atual da companhia.
*O jornalista viajou a Las Vegas a convite da Oracle