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Remessas e câmbio: o legado do Pix para os pagamentos internacionais

O sucesso do Pix elevou as expectativas dos consumidores por agilidade e transparência, impulsionando mudanças no mercado de pagamentos internacionais

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Transferências internacionais
Transferências internacionais

A forma como lidamos com dinheiro, especialmente em operações internacionais, mudou radicalmente nos últimos anos. O avanço tecnológico, aliado à crescente digitalização e à popularização de soluções como o Pix, elevou as expectativas dos consumidores em relação à rapidez, praticidade e transparência nas transações financeiras. Nesse novo cenário, remessas e operações de câmbio passaram a exigir abordagens mais eficientes, conectadas e centradas na experiência do usuário, tanto no varejo quanto no mercado corporativo.

O tema foi destaque no segundo dia do Febraban Tech 2025. Em painel mediado por Eduardo Abreu, vice-presidente de Novos Negócios da Visa, Glauber Mota, CEO da Revolut no Brasil, e Bruno Luigi Foresti, diretor de tesouraria do OURI Bank, discutiram como o ambiente regulatório vem redesenhando o mercado financeiro e de que forma a evolução tecnológica está impactando o comportamento do consumidor, especialmente nas transações de câmbio e nas remessas internacionais.

Foi unânime entre os executivos: a tecnologia trouxe uma nova lógica para as transferências para fora do país. “Hoje é possível fazer transações de forma instantânea, com taxas mais baixas e muito mais conveniência”, destacou Glauber Mota. Ele comparou a transformação no mercado de câmbio ao que ocorreu com o Pix no Brasil, observando que o mesmo padrão de agilidade e facilidade já é esperado pelos consumidores também nas operações com moedas estrangeiras.

Apesar dos benefícios, o executivo alertou que a transparência deve ser prioridade nesse processo. “Independente da alíquota do IOF, é essencial que o cliente entenda o custo total efetivo da operação. Há riscos que, para quem é da área, estão claros, mas que, para o cliente final, muitas vezes acabam escondidos. Como resultado, quem está buscando economizar no preço final não leva em consideração certos pontos importantes e pode acabar ficando na mão”, pontuou Glauber.

Outro ponto forte da fala de Mota foi a defesa do compliance como pilar desde o início da operação. Para ele, tratar questões regulatórias como parte do frontoffice é uma escolha estratégica que traz retornos no longo prazo. “Ainda subestimam a importância de começar a fintech ou instituição financeira já alinhada ao compliance regulatório. Tentar cortar caminho com uma solução que vai à margem da resolução para facilitar o processo é arriscado. É fundamental fazer o compliance de forma escalável desde o início. Apesar dos custos e do esforço, o preço se paga no fim das contas e se torna diferencial competitivo”, afirmou.

Experiência do cliente é a nova fronteira

Bruno Luigi Foresti trouxe a perspectiva de quem atende majoritariamente o mercado B2B. A base do OURI Bank é composta, em grande parte, por empresas exportadoras e importadoras, que têm nas operações de câmbio uma obrigação, não uma escolha. Por isso, segundo ele, o foco tem sido melhorar a experiência do cliente ao longo de toda a jornada.

“Com o Pix, as pessoas se acostumaram com a instantaneidade. Agora querem o mesmo no câmbio. Atendimento rápido, solução de problemas e transparência viraram padrão”, disse. Foresti reforçou que o preço pode até ser o fator de entrada, mas o que o que fideliza é a facilidade, segurança e clareza no processo.

Segundo ele, o preço pode até ser o fator de entrada, mas não é o que garante a permanência. “O cliente pode até entrar na sua empresa pelo preço. Uma parcela até permanece por isso. Mas o grande diferencial é outro. Muitos estão dispostos a pagar um pouco mais por um produto que ofereça facilidade, rapidez, boas features e segurança. O benefício acoplado à solução impacta muito”, completou.

Foresti também comentou sobre o papel das criptomoedas no mercado financeiro. Segundo ele, apesar do apelo por serem mais rápidas, eficientes e menos burocráticas, ainda é preciso cautela quanto ao aspecto regulatório. Para o executivo, à medida que os frameworks legais amadurecem, as criptos podem deixar de ser vistas como ameaça e passar a ser incorporadas como ferramentas nos processos das instituições, especialmente em áreas como a gestão de tesouraria.

Glauber Mota, CEO da Revolut Brasil, compartilha de uma visão semelhante. Para ele, o impacto das criptomoedas no sistema financeiro dependerá diretamente da forma como são integradas ao mercado. “Se as criptos forem utilizadas para cortar caminho [e burlar a regulação], são uma ameaça. Mas se forem utilizadas adequadamente como infraestrutura, são uma oportunidade”, concluiu.