Quando visitou o Brasil pela 1ª vez em 2016, o americano Charley Moore, fundador da lawtech Rocket Lawyer, achou o país um lugar vibrante, mas avaliou que aquele não seria o momento para desembarcar por aqui. “Não estava clara a regulação para assinatura digital e tudo mostrava que seria muito difícil expandir”, lembra ele em entrevista exclusiva ao Startups.
Seis anos, e uma pandemia depois, a hora chegou. Depois de quase um ano montando as bases para sua atuação no país, a companhia deu o pontapé para os negócios por aqui nesta semana. “A pandemia mudou muita coisa. Mostrou que o Brasil ficaria para trás se o sistema legal continuasse exigindo presença física para tudo. Esse é o mundo para o qual a Rocket Lawyer foi criada. E o Brasil está pronto para isso”, diz.
Criada por Charley em 2008, a companhia presta serviços legais no mundo digital incluindo modelos de documentos para empresas e pessoas físicas, aconselhamento jurídico, assinatura e arquivo digital de documentos. Ela oferece os modelos de forma gratuita, e os assinantes – que pagam R$ 79,90 por mês – podem tirar dúvidas com especialistas.
A ideia é democratizar o acesso à Justiça oferecendo formas para que isso aconteça. “130 milhões de brasileiros não têm acesso à Justiça porque não têm contratos que regem suas relações”, diz Rafael Steinhauser, presidente do conselho da companhia na América Latina.
Atualmente são 130 famílias de contratos, que abrangem assuntos como casamento, divórcio, herança e prestação de serviços. Também estão disponíveis guias jurídicos, que trazem orientações sobre determinados assuntos. O objetivo é ter 300 famílias de contratos e guias legais até o fim do ano que vem.
Pode isso, Arnaldo?
Já sei exatamente o que você está pensando, porque foi o que eu pensei: isso significa substituir o trabalho de um advogado e vai dar xabú com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), certeza! Michel Cury, vice-presidente e gerente geral da Rocket Lawyer para a América Latina, que também é advogado e membro do comitê de startups da OAB, garante que não. “Não somos contra advogados, nem competimos com eles. Somos complementares”, diz.
Mark Edwards, chefe global de produtos da companhia, conta que o receio sobre a possível competição também aconteceu quando a companhia desembarcou na França, que tem um sistema legal parecido com o do Brasil.
Segundo ele, pouco depois de a operação começar o mercado percebeu a complementariedade e como a democratização ajuda o mercado. “A Rocket Lawyer é uma ferramenta muito interessante principalmente para os advogados mais novos, que ainda não têm uma clientela formada. O trabalho de explicar o funcionamento e as vantagens é bem fácil de fazer”, diz Michel.
Rocket Lawyer acelerada
Para Mark, o Brasil tem potencial para se tornar a 2ª maior operação da companhia, ultrapassando o Reino Unido, nos próximos 12 meses.
Não só porque temos 3x mais gente que o reinado de Charles III, mas também porque a aceitação da oferta tem sido muito alta. “É o nosso mercado de crescimento mais acelerado. Fizemos muito progresso em 4 meses de testes abertos. Temos algumas milhares de pessoas visitando o site. Serão 500 mil até o ano que vem”, estima.
Além dos serviços jurídicos, a Rocket Lawyer vai lançar em breve uma nova oferta, uma espécie de marketplace de cartórios. Ali, as pessoas poderão fazer, do computador ou do celular, o pedido de diversos tipos de documentos. Michel explica que hoje, muita coisa já está digitalizada, mas pouca gente sabe disso e, por isso, ainda acaba indo fisicamente a um cartório. O marketplace vai facilitar isso.
Mas não é só isso…
Vender para os brasileiros é bom, mas a Rocket Lawyer quer mais. A ideia é transformar o país em um hub de desenvolvimento de tecnologias. “Estamos contratando engenheiros de software que estão desenvolvendo para o Brasil e para o mundo, prestando serviços para a empresa globalmente também”, diz Rafael. Atualmente a operação no país tem cerca de 20 pessoas.