No momento atual, a CredAluga tem pouco do que reclamar. Com um crescimento de 200% nos últimos 12 meses, a fintech não levou nem um ano para evoluir da rodada seed para a Série A. A nova captação foi de R$ 60 milhões, liderada por um novo investidor – a Provence Partners, “megafundo familiar” que conta com mais de 50 famílias cotistas e já aportou em marcas como Nomad e Wellhub.
O investimento, que também contou com a participação dos fundos que entraram na rodada seed de R$ 22 milhões- Caravela Capital, Honey Island by 4UM e Norte Ventures – será destinado à expansão comercial e ao fortalecimento da rede de imobiliárias parceiras. Outra parte do aporte vai para o desenvolvimento de novos produtos, com foco em funcionalidades baseadas em inteligência artificial.
Atualmente, a CredAluga tem cerca de 1,3 mil imobiliárias em sua rede parceira e já emitiu mais de 30 mil contratos de garantia locatícia (Fiança CredAluga e Fundo CredAluga) por meio do modelo B2B2C.
De acordo com o fundador e co-CEO da fintech, Daniel Santos, esse número ainda é uma fração pequena do mercado endereçável. “Estimamos que existam de 15 mil a 20 mil imobiliárias no país que queremos ter em nossa base. A gente quer crescer dez vezes nos próximos quatro a cinco anos”, destaca.
Embora a Fiança CredAluga ainda represente a maior parte dos contratos, o co-CEO tem planos ambiciosos para o Fundo CredAluga, lançado no início do ano. Criado em parceria com a fintech Kanastra, trata-se de um fundo de renda fixa em que o locatário compra cotas, utilizadas como garantia para o aluguel.
Hoje, o fundo já reúne cerca de 500 cotistas, com mais de R$ 30 milhões sob gestão, mas o plano da CredAluga é ambicioso, querendo chegar à marca de R$ 1 bilhão em aplicações até o fim de 2027.
“É um tipo de produto previsto desde 2005 na Lei do Inquilinato, mas nenhuma empresa havia tirado do papel até então. Estamos com uma ótima aceitação desse produto, que vem nos ajudando a nos posicionar como empresa inovadora no mercado e a atrair o interesse de grandes imobiliárias”, afirma Daniel.
Planos de inovação
Um dos focos da nova rodada está na tecnologia mais quente do momento: a inteligência artificial. No último ano, a fintech já implementou melhorias desse tipo em sua plataforma interna, em áreas como análise de risco de inadimplência, verificação de documentos e bots de cobrança. “Isso nos ajudou muito a ganhar produtividade e crescer a receita sem precisar investir em contratações”, pontua Daniel.
Agora, o plano é levar mais recursos de IA para a “ponta”, nas imobiliárias, em processos como gestão e verificação automatizada de contratos. “Daqui para frente, o que conquistamos de eficiência interna com IA queremos entregar para as imobiliárias parceiras”, explica o co-CEO.
Para ele, a visão de inovação da CredAluga mantém sempre as imobiliárias no centro da estratégia. “Nós, como player que investe em tecnologia, acreditamos que é possível ajudar o mercado a se desenvolver ajudando a imobiliária a se desenvolver. Esse é o nosso caminho, ao invés de achar que elas vão deixar de existir e tudo será online”, destaca.
Crescimento sustentável
Apesar de ter fechado duas captações em menos de um ano, Daniel mantém os pés no chão. De acordo com o co-CEO, a estratégia não é embarcar em crescimento desenfreado, mas construir de forma sustentável, mantendo as margens saudáveis que o negócio já possui.
“Essa captação é suficiente para a gente não precisar captar mais. Isso não significa que não vamos captar, mas se fizermos será para acelerar, não para sobreviver”, afirma. Para ele, a lógica de startups que ficam reféns da próxima rodada já se provou arriscada. “O empreendedor precisa da tranquilidade de que o modelo para de pé sozinho.”
Para Marcelo Mitre, sócio da Provence Partners, um diferencial e atrativo da CredAluga na hora de investir foi a excelência operacional da empresa. “Ela tem um modelo de negócio escalável e está comprometida com sua sustentabilidade, com um modelo de negócio aderente à nova realidade do universo da inovação e tecnologia, sem distrações. Tudo isso nos fez confiantes para apoiar a continuidade dessa gestão”, comenta.
Mesmo capitalizada, a CredAluga descarta a tese de crescimento ao tentar virar um “guarda-chuva” de soluções tecnológicas imobiliárias. Na parte de produto, a tese de Daniel e seu sócio Guilherme Blumer é semelhante ao que a empresa já faz no trato com as imobiliárias: manter o foco no core business e buscar parcerias.
“Queremos priorizar a especialização no nicho de crédito para aluguel, e conectamos nossa solução a CRMs e ERPs parceiros. A gente chama de hiperfoco no aluguel com a imobiliária. O mercado é grande o suficiente para sermos os melhores nesse nicho”, finaliza.