Com uma solução que mudou a forma como muitos designers produzem suas peças gráficas, a australiana Canva se tornou uma das principais startups do mundo, valendo US$ 26 bilhões. Por sua vez, a brasileira Inner AI quer fazer algo parecido com sua plataforma de criação de conteúdo – colocando a inteligência artificial no centro de sua estratégia e carregando a bandeira do Brasil para se tornar uma solução de apelo global.
Contando com uma equipe de nove pessoas e baseada principalmente em São Paulo (SP), a empresa desenvolveu uma solução em que usuários podem transformar arquivos existentes em novos formatos de textos, imagens e vídeos. A plataforma é inteira otimizada para a utilização de recursos de IA, com criação e edição de textos, imagens, adição de vídeos, e geração de legendas e dublagens em diferentes idiomas, que podem ser editados cortando a transcrição.
Em atividade há menos de um ano, a plataforma da Inner rapidamente causou ondas, chamando a atenção de grandes empresas como Claro, Embraer, Mercado Livre e Bayer, que “compraram” a ideia da startup e passaram a utilizar a solução como parceiros de design. Agora, a companhia está pronta para dar um novo passo: depois de meses em beta, a Inner está lançando oficialmente a sua plataforma. De quebra, ela também anunciou uma rodada pré-seed de R$ 12 milhões.
O aporte foi liderado pela Canary com participação adicional da LASP Capital, Play9, Alexia Ventures, Crivo Ventures, Newtopia VC, entre outros. “O foco (com o aporte) é investir inicialmente em produto e tecnologia, caminhando de forma sustentável e desenhando o software para um formato em que a aceitação seja ainda mais ampla. Queremos desenvolvê-lo como uma solução global”, explica Pedro, CEO da Inner AI, em entrevista ao Startups.
Segundo Eduardo Mitelman, que atua como CRO, a entrada de fundos, como o argentino Newtopia, também contribui para esse plano que já contempla uma possível internacionalização. “A Newtopia é um fundo com muita expertise em levar tecnologia a nível global, assim como a Play9 tem muito conhecimento na parte de influenciadores. Conseguimos juntar um grupo de investidores que pode agregar muito ao negócio”, diz.
A empresa não deu informações sobre metas de faturamento ou de clientes para o ano, mas um dos planos, segundo o CEO, é ampliar o time de nove para 15 pessoas, olhando para o produto e afinando o product market fit. “Estamos com bons clientes e com um pipe em andamento, mas ainda estamos sentindo o mercado. O que nos está chamando a atenção, entretanto, é o interesse alto de empresas”, avalia Eduardo.
Foco nas empresas
A Inner AI tem como foco principal o B2B, atendendo grandes empresas que buscam soluções inteligentes para produzir conteúdos. Segundo Pedro, um dos primeiros setores atendidos nas companhias foi o RH, que utilizou a plataforma para criar materiais de onboarding, de treinamento, e outros.
A startup não desenvolve os modelos de linguagem, mas roda cerca de 20 LLMs diferentes em servidores próprios. “Utilizamos modelos como Mistral, Llama, ChatGPT e Stable Diffusion, mas as informações das empresas não passam pelos servidores deles para treinar o algoritmo”, explica Pedro. Segundo ele, foi essa configuração (com certificação de segurança SOC 2) que trouxe marcas de peso como a Embraer para atuar como parceiros de design.
Além disso, com a infra própria, a startup desenvolveu uma interface otimizada em cima dos modelos, calibrando data sets e entregando camadas extras de customização, um trabalho liderado por Pedro. “Temos dentro da plataforma prompts pré-definidos para ajudar a gerar conteúdos de acordo com as necessidades do usuário”, pontua o CEO.
Apesar de estar de olho no B2B, Eduardo afirma que impulsionar o B2C também está no roadmap. Inclusive, com o lançamento oficial, a companhia está colocando “na rua” sua versão para usuário final e pequenos criadores de conteúdo, custando uma mensalidade de R$ 29. No modelo enterprise, a Inner cobra um valor mensal por negócio e por número de usuários.
“Nossos clientes querem maneiras mais eficientes de criar material de treinamento para funcionários, criativos de marketing e realizar tarefas diárias com mais velocidade. Este financiamento nos permitirá acelerar essa visão para equipes que estão testando nossa plataforma e entregá-la a todas as empresas que ainda não nos descobriram”, conta Eduardo Mitelman.
Potencial global
Pedro Salles, 26 anos, programa software desde os 10 anos, tem experiência no Vale do Silício e fundou anteriormente uma agência de desenvolvimento de software, que tem se concentrado em soluções de machine-learning desde 2017. Já Eduardo Mitelman, 31 anos, anteriormente fundou a DNA, uma agência de criação de conteúdo que atendeu grandes empresas do Brasil e do mundo.
Os dois se uniram em janeiro de 2023, e inicialmente a solução que daria origem à Inner AI seria um projeto interno para a DNA. Entretanto, ao ver a solução pensada por Pedro, Eduardo viu o potencial de transformá-la em uma startup. “Vi minha produtividade dobrar como desenvolvedor nos últimos dois anos com a IA, enquanto nada mudou com filmes e criação de conteúdo. Me juntei ao Eduardo para mudar esse cenário”, dispara Pedro.
Perguntado sobre potenciais concorrentes para a Inner AI, Pedro admite que todos os principais LLMs (ChatGPT, Stable Diffusion etc) fazem coisas que estão dentro da sua plataforma, mas praticamente nenhuma delas oferece uma experiência integrada como eles conseguiram fazer, capaz de plugar outras fontes de dados e comunicação, como o Slack.
“Poucos players tem uma visão conectada de IA para geração de conteúdos. Os que já tem um ambiente mais integrado, como por exemplo a Microsoft, ainda fica fechada dentro de seu ecossistema”, pontua Pedro.
Para Florian Hagenbuch, sócio da Canary e co-fundador da Loft, o investimento na Inner AI (uma rodada alta para um pré-seed) reflete o compromisso da empresa em fomentar uma plataforma global de SaaS vindo do Brasil, mostrando o incrível talento e potencial do país.
“Prevemos uma mudança de plataforma com empresas nativas em IA, e acreditamos que o time da Inner AI, sendo veloz e orientado ao produto, está bem posicionado para essa oportunidade”, afirma.