O FUNSES1, Fundo de Investimentos em Participações criado com recursos do Fundo Soberano do Governo do Espírito Santo, acaba de anunciar suas quatro novas investidas. As escolhidas foram: Multifidelidade, naPorta, Conecta e Frota 162. O valor aportado nas empresas soma cerca de R$ 2,7 milhões.
“O que mais chamou a atenção nessas startups foi a boa surpresa com relação ao ecossistema e ao nível do empreendedorismo capixaba. Tínhamos a expectativa de encontrar alguns projetos, mas o número de empreendedores motivados a desenvolver bons negócios de tecnologia e a maturidade já existente no ES foram uma boa surpresa”, afirma Marcel Malczewski, CEO da TM3 Capital, gestora de venture capital responsável pelos investimentos do FUNSES1.
A fintech Multifidelidade opera como um ecossistema de inteligência de dados, no qual o programa de fidelidade é uma conta de pagamento. A plataforma permite gerenciar e receber pagamentos online e presenciais de forma ágil e segura, entregando recompensas de forma instantânea. Já a Conecta trabalha com uma plataforma de unified commerce, integrando as principais ferramentas para um processo de venda digital.
A naPorta oferece serviços de logística para que empresas consigam entregar produtos de compras online feitas pelos moradores de comunidades e regiões com restrição, como favelas e periferias. Fechando o quarteto fantástico, a startup Frota 162 atua com transportadoras e locadoras de veículos para fazer a gestão de frotas automotivas.
O anúncio das novas investidas chega menos de um ano depois do FUNSES1 anunciar o investimento de R$ 3 milhões distribuído em cinco startups – Persora, Erathos, Presto, Kuke e Archa. O capital investido pelo FUNSES1 é direcionado a empresas de tecnologia que cumpram pelo menos um dos três critérios: ser uma empresa criada no Espírito Santo; ter ou vir a ter investimentos no estado do Espírito Santo; e ter sede fiscal no ES.
Pé no acelerador
Criado em 2019 com base nos recursos oriundos da exploração de petróleo, o FUNSES permite, a partir do investimento de receitas provenientes da indústria do petróleo e do gás natural, buscar a atração de novos negócios, gerando emprego e renda para a população local. O veículo de investimentos tem um total de R$ 250 milhões para apoiar startups de diversos portes, segmentos e áreas de atuação, com aportes em torno de R$ 500 mil cada.
Desde o seu lançamento, o fundo já investiu em torno de R$ 37 milhões. De acordo com Marcel, a expectativa para o ano é aumentar o ritmo de investimentos, aportando cerca de R$ 50 milhões em startups ao longo do ano. “Hoje, a TM3 tem um nível maior de conhecimento sobre o que podemos fazer no ES, o que nos dá segurança para acelerar o processo de investimento e fazer mais projetos do que no ano anterior”, explica.
Com o intuito de também apoiar startups de todo o país, o FUNSES1 anunciou recentemente a abertura das inscrições para o batch 5, programa de aceleração com duração de aproximadamente três meses. Além da aceleração, as selecionadas poderão receber aportes entre R$ 300 mil e R$ 800 mil. O objetivo é investir e acelerar até 50 empresas em cinco anos.
O programa de aceleração é desenvolvido pela ACE Ventures, que já realizou aportes em mais de 150 startups desde a sua fundação, em 2012, e concluiu o exit de 29 empresas do portfólio. “Temos uma expectativa muito otimista com o FUNSES1, acelerando os investimentos e trazendo mais startups para o fundo”, afirma Pedro Carneiro, Sócio e Diretor de Investimentos da ACE Ventures. “Muitas empresas que passaram pelas primeiras etapas agora são elegíveis para as próximas, então temos a oportunidade de fazer o primeiro investimento ou de fazer um investimento maior em uma empresa já acelerada, o que significa que estamos ajudando a mover o ecossistema.”
Segundo o executivo, o cenário atual do mercado de venture capital oferece algumas oportunidades interessantes. “Com o mercado um pouco mais frio, enxergamos cada vez mais startups com visão de sustentabilidade e que só sobrevivem se resolverem um problema muito relevante. A longo prazo, teremos empresas melhores para o mercado, o que é muito positivo”, avalia.
No entanto, Pedro reconhece que o momento traz também uma série de desafios. “Se a empresa não chega ao break even e ao momento de sustentabilidade, está cada vez mais difícil dela conseguir uma nova chance. Fica cada vez mais crítico que ela acerte sem ter que ficar testando muitas coisas, tem poucas chances para fazer aquilo funcionar, então precisa pensar muito bem. E isso é um paradoxo da inovação, porque de um lado o empreendedor precisa inovar e fazer experimentações, mas do outro precisa errar menos e tem menos tempo para acertar”, pontua.
Polo de inovação?
O Espírito Santo tem o potencial de se tornar um importante polo de inovação e tecnologia no Brasil nos próximos anos, apontam os executivos. “Apesar de já conhecermos cases de sucesso como Wine e PicPay, o ES nos surpreendeu com o nível de maturidade do ecossistema, não apenas na capital. Acreditamos que Vitória tem tudo para se tornar o próximo polo de atração de novos empreendimentos de tecnologia, com um ecossistema rico e pujante. O interior também tem muita gente desenvolvendo o ecossistema e promovendo eventos, e estou bastante otimista”, analisa o CEO da TM3 Capital.
Segundo Marcel, o principal desafio é mostrar para todo o Brasil e o exterior os potenciais do ES e atrair projetos empreendedores para a região. “Um ecossistema se faz com diversidade cultural, de idiomas, de pessoas e projetos. Há um grande potencial para o desenvolvimento de empreendimentos capixabas, mas para tornar o ES referência, será necessário atrair empreendedores e empreendimentos de fora para que venham até o estado e desenvolvam seus projetos localmente”, analisa.
Pedro Carneiro, da ACE Ventures, ressalta que a região tem muitos dos elementos necessários para se tornar um dos mais importantes pólos de inovação e tecnologia do país. “Tem capital humano qualificado e bem concentrado, além de um setor tradicional forte e rentável com commodities, agricultura, pedras ornamentais. Isso tudo dá um lastro bacana para a região e aumenta o nível de escolaridade e preparação das pessoas que estão lá. Além disso, há um ecossistema de startups e inovação que realmente está começando a mudar a mentalidade das pessoas com instituições como Base 27, TecVitória e Hub Fucape. O desafio é fazer todas essas frentes se chocarem. Ou seja, ligar as pontas que já estão bem formatadas para transformar isso em negócios que vão mudar a realidade”, finaliza.