Rodrigo Roncaglio e Liana Chiaradia
Rodrigo Roncaglio e Liana Chiaradia, fundadores da Guia da Alma (Foto: Divulgação)

A startup Guia da Alma, especializada em benefícios de saúde mental para empresas, acaba de concluir uma rodada de R$ 2,4 milhões. O aporte teve participação da Bossa Invest, Anjos do Brasil e PoliAngels – todos em follow-on – e marca a entrada da Westwood Capital, que estruturou a operação ao lado de Quintal Ventures, Moni Capital e Valora Ventures.

Segundo Rodrigo Roncaglio, CEO e cofundador, a preparação começou no início de 2025, com os primeiros meses dedicados à estruturação do pitch, do business plan e do desenho da rodada. “Abrimos a rodada oficialmente em abril. Quando chegou julho, agosto, a gente já tinha um overbooking”, afirma. “A meta era captar 2 milhões, mas vendo o apetite dos investidores e entendendo que era bom ter capital a mais, expandimos para R$ 2,4 milhões.” 

Os recursos serão direcionados à tecnologia, marketing e vendas, com foco em escalar canais comerciais já validados e aperfeiçoar a experiência do usuário. Parte da rodada foi realizada no modelo Media for Equity, por meio de veículos ligados à rede Record no Paraná e em Santa Catarina.

Tracionada, sustentável e em expansão

Rodrigo destaca que, apesar dos ajustes do mercado e a retração dos investimentos de venture capital nos últimos anos, o Guia da Alma conseguiu se consolidar com fôlego, produto validado e estrutura para escalar. Segundo ele, a startup manteve as operações em breakeven durante todo o ano de 2025, mesmo com a expansão do time e o fortalecimento da estrutura interna.

Sem abrir números, o CEO afirma que o desempenho comercial segue consistente, especialmente no produto B2B voltado para PMEs, segmento em que a empresa considera estar consolidada. A startup mais do que dobrou sua receita em relação a 2024 e também duplicou a base de clientes ao longo de 2025. O plano agora é manter o ritmo: dobrar o faturamento ano a ano e alcançar aproximadamente mil clientes B2B até o fim de 2027.

Entre os canais de crescimento, a parceria com o Wellhub continua estratégica, permitindo que o Guia da Alma atenda mensalmente milhares de usuários pela plataforma.

Internamente, a companhia também passa por ajustes estruturais. A cofundadora Liana deixou o cargo de CMO para assumir como CSO (Chief Sales Officer), enquanto Chris Fedrizzi entrou como CPO (Chief Product Officer), responsável por toda a jornada de clientes, discovery e evolução de produtos, incluindo inovação e estabilidade da plataforma.

Mercado favorável

Para Georges Kalache Netto, managing partner da Westwood Capital, o investimento reflete um movimento crescente de atenção ao bem-estar corporativo. “A saúde mental é um problema real e crescente nas empresas, e precisa ser discutido com urgência. No centro de tudo estão as pessoas, que precisam de acolhimento, orientação e prevenção. O Guia da Alma atua justamente nessa jornada de cuidado e transformação”, afirma, em nota.

A rodada acontece em um cenário favorável ao setor, impulsionado por mudanças regulatórias. Desde maio de 2025, com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), o Ministério do Trabalho e Emprego passou a exigir que a gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) inclua a avaliação de riscos psicossociais – como estresse, assédio e sobrecarga. Esses fatores foram oficialmente reconhecidos como riscos ocupacionais, o que obriga as empresas a adotarem medidas de prevenção e mitigação, assim como já ocorre com os riscos físicos e ergonômicos.

Outras legislações reforçam a atenção ao tema. Com o aumento dos afastamentos e o agravamento dos transtornos psicoemocionais no trabalho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a síndrome de burnout na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), reconhecendo-a como um fenômeno ocupacional. Segundo a definição da OMS, trata-se de “uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. Além disso, a Lei nº 14.831 instituiu a concessão de selos e certificações para empresas que adotam práticas de bem-estar e cuidado com a saúde mental dos colaboradores.