Pode ser mera coincidência, mas não deixa de ser curioso. Em menos de 48 horas, o Itaú não apenas “abriu a carteira” e anunciou dois novos investimentos em startups, mas como fez isso em duas startups sediadas em Uberlândia. Na quarta (29), o banco divulgou um aporte na NeoSpace, especializada em modelos de IA para o setor financeiro. Um dia depois, o investimento foi na fintech Kanastra, de backoffice digital para fundos.
No caso da NeoSpace, o banco liderou uma rodada na qual adquiriu 15% do negócio e que totalizou US$ 18 milhões. O valor exato desembolsado pelo Itaú não foi aberto, pois a rodada também contou com os investidores Micky Malta, da Ribbit, Martin Escobari, da General Atlantic, Nigel Morris, da QED, e Hans Morris, da NYCA.
Entretanto, o que se sabe é que o Itaú está pronto para dobrar a sua aposta em IA para aperfeiçoar seus serviços. Atualmente, o banco já possui mais de 450 profissionais dedicados à essa área, e mais de 400 casos de uso de IA.
O acordo entre as duas empresas prevê o uso de modelos base da NeoSpace pelo Itaú, assim como o desenvolvimento de novos produtos que serão oferecidos ao mercado.
Em comunicado, a instituição destaca que quer utilizar a tecnologia da NeoSpace para aprimorar recomendações personalizadas aos clientes a partir de histórico e interesses, além de possíveis aplicações em seus modelos de análise.
“Estamos certos de que abriremos caminhos para um novo paradigma no mercado, mantendo como premissa fundamental o uso responsável dos dados”, destacou o CTO do Itaú, Ricardo Guerra, em comunicado.
Um dado interessante da NeoSpace é que a relação do Itaú com os seus fundadores, Bruno Pierobon, Felipe Almeida e Gustavo Debs, de longa data. Eles criaram a deeptech pouco tempo após venderem outro negócio que tinham fundado – a Zup, que foi comprada pelo (adivinha quem?) Itaú em 2019.
“São executivos com os quais já trabalhamos em parceria há muitos anos. Como já tínhamos esse contato próximo, conhecíamos essa nova iniciativa e vínhamos debatendo oportunidades de sinergia desde a fundação da NeoSpace, em novembro de 2023″, disse o CTO do Itaú, à Forbes.
Antes cliente, agora acionista
O ano de 2024 já tinha sido animador para a fintech uberlandense Kanastra. Especializada em soluções de backoffice para fundos estruturados e veículos de securitização, a companhia fechou em junho passado uma série A liderada pela Kaszek, no valor de de R$ 110 milhões.
Corta para janeiro de 2025, e o Itaú entra no captable com um cheque de valor não vulgado, por meio de seu fundo de Corporate Venture Capital, Kinea Ventures. Antes de ser acionista da Kanastra, o banco já era cliente da fintech, que também atende instituições como XP, Pátria, BV e outros.
“Felizes de darmos boas vindas ao Itaú Unibanco. Desde o início um grande parceiro de negócios, o Itaú Unibanco agora se junta como sócio minoritário da Kanastra, em um movimento que reforça a robustez, institucionalidade e governança da companhia”, destacou a Kanastra em nota no LinkedIn, que foi compartilhada pelo CEO da empresa, Gustavo Mapeli.
Em comunicado ao mercado, o gestor do CVC do Itaú, Philippe Schlumpf, destacou a posição da Kanastra no seu setor de atuaçãão, pontuando que ela “tem um diferencial pelo uso intensivo de tecnologia em seus produtos e serviços, o que a posiciona como uma empresa com amplo potencial de ser uma das protagonistas da evolução dessa indústria”.
No mercado há dois anos, a a Kanastra combina uma plataforma otimizada para originadores, investidores e gestores, automação de ponta a ponta de operações, além de ferramentas de dados e análises para acompanhamento dos veículos. No portfólio de serviços, oferece gestão, administração e custódia de FIDCs, securitização através de CRIs, CRAs, e CRs, e produtos bancários como contas escrow, CCB e boletos.
Agora com o poder do Itaú no seu captable, a Kanastra ganha força para competir no cada vez mais disputado mercado de tecnologia para o backoffice de produtos estruturados.
A Vórtx, que também fornece serviços de infraestrutura para dívida corporativa, fundos de investimentos e serviços bancários, recebeu no ano passado a sua licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD) para completar o chamado “ciclo do crédito”.
Já a QI Tech, que começou pelo caminho inverso sendo a primeira SCD a operar, comprou, em novembro de 2023, a Singulare, corretora especializada em FIDCs, reforçando a unidade de negócios ‘DTVM as a service’. Para completar, no ano passado a fintech estendeu a sua série B e virou um dos mais recentes unicórnios do país.
Uberlândia em evidência?
Apesar do selo de aprovação que uma dose dupla de investimentos do Itaú em tão pouco tempo pode trazer, não é de agora que Uberlândia vem chamando a atenção como um polo de inovação no país.
A cidade no interior mineiro foi pioneira no país com a criação de uma rede de startups – chamada Minas Startups – em 2011. O movimento foi uma das bases para a criação da Associação Brasileira de Startups (Abstartups).
Outro destaque é o Uberhub, rede que foi reconhecida em 2024 como a melhor comunidade de startups do Brasil pelo Startup Awards, e que já impactou mais de 350 startups, com 287 delas ativas atualmente.
Algumas startups de destaque na cidade são a já citada Zup (comprada pelo Itaú), Ipê Digital (adquirida pela Nuvini), Vitta (comprada pela Stone), Nagro (fintech também investida pela Kinea), e Espresso, HRtech adquirida no ano passado pela também uberlandense Sankhya, player de ERP que quer bater de frente com a TOTVS.