Professores gastam cerca de metade do tempo deles fora de sala de aula preparando aulas e corrigindo provas. São tarefas periódicas e repetitivas que, no momento em que tanto de se fala de inteligência artificial, poderiam ser facilitadas. E é exatamente isso que a Teachy quer fazer.
Nascida em outubro do ano passado a edtech se propõe a reduzir em 80% esse tempo oferecendo correção automática de provas, gabaritos comentados, planos de aula, criação de listas e materiais complementares como vídeos, gráficos e artigos. Os conteúdos estão voltados aos ensinos fundamental e médio. “O professor tem acesso a partes disso por meio de diferentes ferramentas. Pode pesquisar conteúdos no Google e montar na mão. Mas se quiser tudo em um lugar só, de forma otimizado com auxílio de IA, é com a Teachy”, diz Pedro Siciliano, que fundou a companhia junto com Fábio Baldissera (ex-PipeRun e Foodcraft).
Pré-seed de responsa
Para tornar essa proposta uma realidade, a edtech levantou uma rodada pré-seed considerável: R$ 8 milhões. A captação foi liderada pelo fundo argentino NXTP e teve participação do americano Roble Ventures. Entraram também alguns investidores-anjo bem conhecidos e nomes de grandes empresas brasileiras.
Segundo Pedro, os recursos captados serão usados no desenvolvimento do produto e na criação de modelos de IA proprietários da companhia. “É o momento de criar os Googles que vão desenvolver tecnologia de ponta no Brasil”, crava Pedro. Essa busca por independência e por fomentar a criação de tecnologia Made in Brazil está expressa na composição do time fundador da Teachy: 80% da equipe é de profissionais técnicos, ou o que Pedro chama de “IME Máfia”, em uma referência à sua alma mater, o Instituto Militar de Engenharia. O time tem hoje 14 pessoas, sendo 10 em tempo integral e 4 em meio período.
A escolha dos fundos que colocaram dinheiro na companhia também é um reflexo dessa ambição. Tanto NXTP quanto Roble têm forte ligação com a universidade de Stanford, a grande referência mundial quando o assunto é inteligência artificial e onde Pedro está cursando seu MBA. A Roble também é investidora do Kahoot e da Udemy. “Eu já sabia que ia usar inteligência artificial antes do começo da onda”, garante Pedro. Para ele, o hype tem um saldo positivo. “Tem o contra de ter muita gente querendo construir coisas que não vao funcionar. E tudo bem. Acontece. Mas o número de soluções incríveis que vão tornar a vida mais fácil é enorme e vai mudar o mundo do software. As empresas que não usam IA vão sumir”, diz.
História e planos
O projeto da Teachy começou a se concretizar quando Pedro entrou no MBA em Stanford no ano passado. Mas a história é um pouco mais longa. “A educação mudou a minha vida”, conta ele, que viu a mãe lutar contra um câncer por 9 anos e foi estudar no IME para ajudar em casa.
Nessa época, ele montou um cursinho preparatório para vestibulares e foi onde percebeu a dor dos professores fora de sala de aula. Curiosidade. Das centenas de pessoas que passaram pelo cursinho, algumas trabalham na Teachy hoje. Saindo do IME, Pedro foi para a McKinsey e depois para o Descomplica, de onde partiu para Stanford e, agora, para empreender.
A estratégia da Teachy é ganhar escala vendendo para escolas. Atualmente 4 são clientes da plataforma. Mas, como o objetivo é ser uma ferramenta democrática, ela está disponível também para contratação individual pelos professores em um modelo freemium – com limitações de recursos e volume de uso na versão gratuita.
O plano Premium custa R$ 19,90 por mês. Com ele é possível usar todos os recursos de forma ilimitada. Neste patamar, Pedro diz acreditar que será possível impactar também os professores do ensino público. Atualmente com 500 usuários, o objetivo é chegar a 10 mil até o fim do ano que vem. “E pegar uma rodada seed mais cedo [do que os 18 meses que normalmente costumam separar as captações]”, diz Pedro.
Apesar de ter sido criada de olho nos 2 milhões de docentes brasileiros, a Teachy tem ambições globais. Começando pela América Latina. “O Alex Busse [sócio da NXTP responsável pelo aporte] confia muito em como a IA vai mudar a educação na região”, diz Pedro. Na América Latina, são 7 milhões de professores.