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Se liga Dr. Dre: Kuba quer levar seus fones de ouvido modulares para o mundo

Kuba fechou rodada de equity crowdfunding de R$ 3,3 mi e quer ampliar portfólio de produtos e começar a operar em Portugual ainda este ano

Se liga Dr. Dre: Kuba quer levar seus fones de ouvido modulares para o mundo

Em uma sala de 100 metros quadrados na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, o vai e vem de peças e embalagens tem ficado mais frenético nos últimos tempos. E a tendência é que a movimentação fique ainda mais intensa. Isso porque a dona do escritório, A Kuba Áudio, acaba de fechar uma rodada de R$ 3,3 milhões em uma oferta de equity crowdfunding na plataforma beegin. Com o aporte, a fabricante de fones de ouvido com alta qualidade de som, quer alimentar seu plano de ser uma referência global na área.

O negócio foi criado em 2014 por Leonardo Drummond e Eduarda Vieira, mas começou a operar oficialmente 3 anos depois por conta do processo de desenvolvimento do produto e seus diferenciais: um produto de alta qualidade, personalizável, feito à mão e definitivo, ou seja, que não precisa ser trocado de tanto em tanto tempo – au revoir, obsolescência programada? “Todo mundo já teve um fone de ouvido cujo cabo ficou com mal contato e teve que jogar o produto fora. Não conseguir trocar o cabo em um fone é como ter um carro em que não pode mudar o pneu”, explica Leonardo.

Foi por isso que a startup desenvolveu um produto modular, no qual todas as peças e os modelos são compatíveis entre si, possibilitando trocar qualquer componente, seja o cabo, o arco ou a almofada. “Não é comprar e jogar fora. O cliente pode fazer a manutenção do fone ao longo do tempo, personalizar e fazer atualizações”, diz o empreendedor. Hoje, 10% da receita vem da venda de peças e boa parte das vendas de fones tem o tiquete elevado pelo acréscimo de acessórios para personalização.

Atualmente, a startup oferece fones na versão Disco e Disco 2 – este com as variações clássico, pro e gamer. Os preços variam de R$ 549 a R$ 869. Uma edição limitada, feita em colaboração com o artista plástico Pierry Almeida sai por R$ 949. Cada aparelho é montado manualmente no escritório da companhia no Rio.

Rodada e use o proceeeds

A rodada seed foi liderada pela SdP Capital, unidade de investimentos em startups do grupo de inovação Sai do Papel, e contou com 296 investidores, entre pessoas físicas e jurídicas.

Com os recursos da captação, a startup pretende investir em marketing, dobrar o time para 20 colaboradores até o início de 2023 e aumentar o portfólio de produtos. O primeiro deles será um arco bluetooth, que deve sair ainda em 2022 – e que poderá ser comprado por quem já tem um fone da marca, para atualizar seu aparelho.

“A ideia era começar a vender no início do ano, mas a escassez de semicondutores, componentes necessários para a versão bluetooth, afetou a velocidade de desenvolvimento do produto”, explica Leonardo, acrescentando que neste período foi mais difícil encontrar fornecedores. “Agora, conseguimos dar uma boa avançada e estamos confiantes de que o produto chegue ao mercado no 1º semestre”, completa.

O objetivo, segundo o empreendedor, também é expandir o portfólio no mercado de áudio pessoal, com opções de caixas de som com e sem fio, microfones e outros produtos de áudio. “Quero que a Kuba esteja sempre presente quando as pessoas forem ouvir música, e isso envolve criar aparelhos dos mais diversos”, diz Leonardo. A marca tem um uma pegada de comunidade muito forte, com os consumidores inclusive sendo apelidados de kubanos. O nome Kuba, aliás, vem do hebraíco, que significa “aquele que substitui por ser melhor”.

Internacionalização

Ainda neste ano, a companhia deve começar a estruturar sua internacionalização, começando por Portugal. O diretor-executivo explica que, por ser um país de língua portuguesa, todas as avaliações e comentários dos clientes feitos no site da Kuba já estariam disponíveis e acessíveis para o público, o que facilita a entrada no mercado. “Além disso, Portugal tem sido bastante aberto para a entrada de empresas inovadoras, com uma série de programas de incentivo, e pode servir como uma porta de entrada para o restante da Europa”, completa. Se liga, Apple e Dr. Dre!

Os diferenciais acústicos e desenvolvimento de fone modular, atualizável e personalizável que destacam a Kuba da concorrência dentro e fora do país. Para Leonardo, o design sofisticado e qualidade sonora também trazem vantagens competitivas e melhor custo benefício. “Fizemos um teste cego com 27 voluntários, comparando nossos fones com marcas europeias e norte-americanas consagradas. 70% deles optaram pelo produto Kuba e 50% compraram nosso fone depois da experiência”, conta. Alguns dos concorrentes incluídos no teste eram Sennheiser, Meze e Sony.

O fone de ouvido Disco sendo montado no escritório da Kuba no Rio

Crescimento

Desde sua fundação, a empresa já vendeu cerca de 10 mil fones de ouvido e tem apresentado crescimento acelerado, aumentando o faturamento de R$ 350 mil em 2018 para R$ 650 mil no ano seguinte. A startup encerrou 2020 com R$ 2,4 milhões de faturamento, que saltou para R$ 3,4 milhões em 12 meses.

Com os lançamentos previsto, a meta é terminar 2022 com algo entre R$ 6 milhões e R$ 9 milhões de faturamento, avançando para a marca dos R$ 50 milhões em 2028. Uma série A deve acontecer nos próximos 2 a 3 anos, para impulsionar o desenvolvimento de novos produtos.

Segundo Leonardo, o apoio do Sai do Papel pode potencializar esse crescimento. Essa parceria começou em 2014, quando Carlos Junior, diretor-executivo do grupo, entrou como pessoa física na primeira rodada da Kuba, na qual a companhia levantou R$ 188 mil em investimento-anjo para lançar a empresa. “Foi uma mentoria constante, que nos ajudou a ter alguns insights importantes sobre o negócio”, diz o fundador da startup.

Um pouco de contexto 

Quando criaram a Kuba, Leonardo e Eduarda estudavam design de produtos PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). “Desde pequeno tenho uma relação forte com música, por influência dos meus pais, e sempre tive um ouvido chato, que ligava muito para a qualidade do som”, conta o diretor.

A paixão pela área vem praticamente do berço: com apenas 8 anos, ele já pedia emprestado o fone do Discman de sua mãe porque a peça tinha uma qualidade melhor do que a do fone que usava na época. Na adolescência, Leonardo começou a tocar baixo, fazer parte de bandas e gravar algumas músicas, o que aumentou o interesse por áudios de qualidade. “Sempre que eu viajava comprava um fone no aeroporto, mas nunca estava satisfeito. Quando fiz 18 anos, decidi gastar um pouco mais de dinheiro e comprei o meu 1º fone de ouvido realmente bom. Foi aí que entrei nesse universo de forma mais profissional.”

Experimentava tantos aparelhos que começou a compartilhar suas experiências no Orkut e, com o tempo, migrou para um blog pessoal. Em 2014, lançou suas apostas no YouTube, com a criação do canal Mind The Headphone, dedicado a avaliações de fones de ouvido de todos os tipos e preços, e explicações sobre as tecnologias envolvidas. Hoje, são mais de 158 mil inscritos e Leonardo já testou algo próximo de 300 aparelhos – com preços que variam de R$ 50 a impressionantes R$ 500 mil.

Na faculdade, quando chegou a hora de fazer o Trabalho de Conclusão de Curso, ele não teve dúvidas: criaria o próprio fone de ouvido. “Nessa época, conheci a Eduarda, que também sempre teve uma relação forte com música”, conta Leonardo. Com o diploma em mãos, pegaram o investimento-anjo de R$ 188 mil e acrescentaram mais R$ 112 mil de capital próprio para fabricar os primeiros 500 produtos.

O protótipo e o início da produção foram desenvolvidos com a Victum, empresa do Rio Grande do Sul especializada no desenho e desenvolvimento de projetos de produtos eletrônicos. Ela também fornece até hoje as peças plásticas usadas nos fones.

Desafios de mercado

“O início foi bastante desafiador em termos tecnológicos e financeiros. Precisávamos desse primeiro aporte para fazer as pesquisas, importar as peças e desenvolver o produto”, afirma Leonardo, acrescentando que a burocracia para criar a empresa e trazer as peças do exterior dificultaram ainda mais o processo.

O mercado global de fones de ouvido movimenta cerca de US$ 25 bilhões por ano – com uma participação brasileira de quase US$ 1 bilhão. Refletindo sobre o que falta para que o Brasil tenha mais empresas nacionais fabricantes do setor, Leonardo destaca a diminuição da carga tributárias.

“Benefícios como a Simples Nacional [criado para facilitar o recolhimento de contribuições das micro, pequenas e médias empresas] são muito importantes. Com a Kuba passamos por vários obstáculos de desembaraço alfandegário, burocracia e impostos e importação. A hostilidade do ambiente para empreender dificulta muitas coisas”, finaliza.