O SoftBank vendeu a participação que tinha na WeWork Brasil, desfazendo de vez a joint venture que mantinha com a companhia por aqui. Com a compra da fatia de 49% do fundo japonês pela WeWork, a companhia, que já tinha os outros 51%, passa a ser a única acionista do negócio. A transação foi submetida ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na semana passada e aguarda aprovação. Os valores envolvidos não foram tornados públicos.
A WeWork chegou à América Latina em 2021 por meio de uma joint venture entre a WeWork Inc. e o SoftBank Latin America Fund, com o fundo japonês inicialmente detendo 71% do negócio. O Startups apurou que em meados do ano passado os sócios fizeram um acordo e a WeWork passou a ser dona sozinha dos negócios na América Latina. O Brasil ficou de fora, sendo mantido em uma estrutura diferente. Com o rearranjo, o SoftBank passou a ter 49% da operação no país..
Fontes próximas à operação contaram ao Startups que o modelo foi adotado porque a WeWork buscava vender a operação brasileira para um comprador estratégico. Essa negociação, inclusive, teria sido a razão de alguns dos soluços da operação no fim do ano passado. Mas a negociação não avançou, levando a empresa a comprar a fatia de seu sócio no negócio.
Procurado, o SoftBank não se manifestou. Já a WeWork afirmou que não comentará a transação enquanto o Cade não concluir sua análise. O escritório Mattos Filho representa a companhia junto ao órgão regulador.
“A Operação não acarreta sobreposições horizontais ou integrações verticais entre as atividades das Partes no Brasil. Como será demonstrado no presente formulário, a Operação não suscita quaisquer preocupações concorrenciais, e, portanto, as Partes respeitosamente entendem que a Operação deve ser analisada e aprovada sem restrições pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (“Cade”) sob o procedimento sumário, nos termos dos artigos 6 e 8, inciso VI, da Resolução CADE nº 33/2022”, escreveram os advogados do escritório
Crises e reestruturações
A saída do SoftBank ocorre após um período turbulento para a WeWork. Em 2019, a empresa tentou abrir seu capital na bolsa de Nova York, com um valuation de US$ 47 bilhões. No entanto, a desconfiança de Wall Street em relação à governança e às métricas financeiras impediu o sucesso da operação. O fundador, Adam Neumann, deixou o comando naquele ano, após pressão de investidores.
Nos anos seguintes, o desempenho da WeWork foi afetado pelo home office e pelas políticas de trabalho remoto durante a pandemia. Além disso, a redução de custos dos clientes, que buscavam cortar gastos em meio à alta da inflação e às incertezas econômicas locais, impactou os resultados da empresa. Ainda assim, a WeWork conseguiu realizar o seu IPO em 2021, por meio de uma fusão com a BowX Acquisition.
Em 2023, a WeWork entrou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, ao recorrer ao Chapter 11. Na época, a companhia correu para anunciar que o processo nos EUA não afetaria os negócios na América Latina pois eles não eram controlados pela empresa americana. Mas sim uma joint venture com a WeWork.
Isso, no entanto, não livrou a companhia de turbulências. No Brasil, ela enfrentou processos de despejo devido ao atraso no pagamento de aluguel de vários imóveis que ocupa. Ela também perdeu clientes importantes, como o Cubo Itaú, um dos primeiros grandes contratos no país. Em 1º de agosto de 2024, o prédio passou a ser administrado pela Itaú Gestão de Ativos (IGA), uma unidade do próprio banco.
Com o fim da sociedade com a SoftBank, a WeWork teve recentemente uma troca de comando. Claudia Woods, que atuava como CEO da WeWork na América Latina desde 2021 por indicação do fundo japonês, deixou a companhia para assumir o comando da British American Tobacco (BAT) em grande parte da América do Sul.