
Em um mercado financeiro ainda dominado por planilhas, uma startup carioca vem ganhando espaço ao digitalizar o backoffice das gestoras de investimento. Fundada em 2023, a Maravi desenvolve softwares que centralizam todos os processos que fazem parte do dia a dia dessas casas, incluindo desde o cálculo de impostos e retornos, até a parte regulatória e monitoramento de risco do portfólio.
Em pouco mais de dois anos de operação, a Maravi já processa mais de R$ 150 bilhões em ativos sob gestão e atende a mais de 50 gestoras de asset e wealth. Entre elas, nomes como GV Atacama, Tarpon e Fator.
A Maravi nasceu da experiência de Verônica Taquette, engenheira de computação formada pela Coppe UFRJ, com mais de 15 anos de atuação no mercado financeiro e de tecnologia. Antes de fundar a startup, Verônica foi sócia da Inoa, empresa de software criada em 2009 que desenvolvia sistemas para diversos mercados.
“Naquela época era uma fábrica de softwares sem tanta personalidade, atendendo a diversos mercados. Eu, particularmente, atuei muito no segmento de entretenimento. Mas a empresa também atendia educação, saúde. Em 2013, foi um momento em que a gente decidiu focar apenas em mercado financeiro, porque percebemos que isso nos permitiria ser mais eficientes como empresa”, conta Verônica, em entrevista ao Startups.
A escolha de focar em gestoras de investimento surgiu a partir de uma oportunidade de mercado, que tinha pouca concorrência. Para softwares internacionais, o mercado brasileiro possuía um desafio de entrada, em razão das particularidades regulatórias, além dos produtos de renda fixa, menos comuns e mais complexos que em países como Estados Unidos e Europa.
“Havia alguns concorrentes brasileiros, mas fundados por pessoas de mercado e não de tecnologia. E aí, por mais que fossem produtos que embarcam muito conhecimento de mercado, do ponto de vista de inovação, de tecnologia, eram produtos muito deficientes”, avalia Verônica.
Segundo ela, houve ainda um terceiro ponto que fez a empresa decidir apostar de vez no mercado financeiro: “É um mercado que preza muito por excelência e está disposto a pagar por isso”.
Após mais de uma década atendendo algumas das principais instituições do país, Verônica e parte da equipe decidiram começar do zero – com uma base tecnológica moderna e foco total em escalabilidade. Assim surgiu a Maravi, em 2023, com um aporte Family & Friends de R$ 10 milhões. Além de Verônica, o time fundador conta com João Pedro Francese, Gabriel Azeredo e Fernando Sampaio.
Atualmente, o time é formado por cerca de 40 pessoas, sendo 15 sócios, e tem um DNA essencialmente técnico. Boa parte dos funcionários vem de cursos como Matemática, o que, segundo Verônica, faz com que eles tenham facilidade para compreender a complexidade dos conceitos financeiros. “Todos os fundadores vêm de tecnologia, mas com um aprendizado profundo de mercado adquirido na prática”, conta Verônica. “Eu mesma comecei sem nenhuma experiência em finanças, mas depois de atender mais de 100 gestoras, aprendi tudo – da matemática dos ativos às regras da CVM”.
Produtos
Os principais produtos da Maravi – BlueDeck e iDeck (Intelligence Deck) – automatizam a integração entre front e backoffice, com módulos que cobrem rotinas operacionais, controles de risco e compliance. As soluções são 100% aderentes às exigências regulatórias da CVM e da Anbima, o que tem sido um diferencial competitivo no setor.
Outro ponto que chama atenção é o modelo de atendimento. “O suporte é feito pelo próprio time técnico, que conhece o sistema e o negócio em profundidade”, diz a fundadora.
Além da tecnologia, a arquitetura das soluções foi construída do zero, com base em cloud native e APIs abertas, o que garante escalabilidade e facilidade de integração com outros sistemas.
IA longe do hype
A Maravi tem incorporado inteligência artificial de forma pragmática e longe do hype. “A gente usa IA onde faz sentido. Primeiro, como ferramenta de produtividade para os desenvolvedores. Depois, para o atendimento e, mais recentemente, embutida nas próprias funcionalidades do sistema”, explica Verônica.
Um exemplo é o módulo que lê automaticamente documentos regulatórios dos fundos e parametriza o sistema de acordo com suas regras.
“Antes de mais nada, você precisa de organização desses dados, centralização desses dados, para tirar proveito de IA. E isso a gente já entrega. E a segunda coisa que a gente entrega é a facilidade de ter API para tudo”, afirma a CEO da Maravi.
Mesmo com essa adoção crescente, a fundadora mantém o pé no chão. “A gente é cético com modismos. Só aplicamos quando há ganho real. IA é poderosa, mas não é bala de prata. Tem muito problema que computação tradicional resolve melhor.”
Crescimento sustentável
A Maravi atingiu o breakeven em maio de 2025 e, por enquanto, não pretende abrir rodadas de captação. “A gente está crescendo rápido, com média de três novos clientes por mês, e de forma sustentável”, diz Verônica.
O foco agora é consolidar a liderança como o principal software para as gestoras brasileiras. “Depois disso, podemos olhar para novas frentes, mas hoje nosso esforço está totalmente em execução e qualidade”.
O nome Maravi vem da expressão “mar à vista”, e simboliza a visão da equipe sobre o que vem pela frente: um futuro promissor e cheio de oportunidades.