Em meio a um cenário de desalento e aversão a risco dos investidores, as captações de startups em estágios seed e early stage no Brasil tiveram alta no 1º semestre. O incremento foi de 21,5%, para US$ 1,68 bilhão, segundo balanço do período feito pelo Distrito.
O maior crescimento veio entre as startups que captaram rodadas anjo, pré-seed e seed: alta de 86%, passando de US$ 151 milhões entre janeiro e junho de 2021 para US$ 282 milhões no mesmo período de 2022. Nas séries A e B, o avanço foi de 14%, saindo de US$ 1,23 bilhão para US$ 1,39 bilhão.
Em termos de número de negócios, houve uma queda de 22% no seed, para 208 deals e de 5% em early, totalizando 77 investimentos.
Early + seed > Late stage
O crescimento abriu caminho para um fenômeno curioso, com os aportes em companhias mais novatas superando os dos negócios mais desenvolvidos. Tradicionalmente, isso não acontece porque, apesar de acontecerem em maior número, as rodadas seed e early têm cheques menores, que no total geral ficam abaixo do que poucos grandes nomes do mercado conseguem levantar por rodada.
Com a aversão ao risco de negócios que ainda não conseguiram se provar e queimam caixa, o late stage – rodadas de série C em diante – encolheu 68% para US$ 1,24 bilhão.
A manutenção da dinâmica de investimentos nas companhias mais novas já era uma expectativa de alguns especialistas, que acreditavam que a correção do mercado de venture capital ficaria mais concentrada nas companhias de maior porte.
O resultado apurado, no entanto, surpreendeu o pessoal do Distrito. “A gente esperava que houvesse uma correção um pouco maior no early stage”, disse Gustavo Araujo, cofundador e CRO do Distrito em encontro com jornalistas hoje (6).
Ele destacou que o movimento reforça a ideia de que quem investe nessa fase, está de olho no time, no produto, na validação de hipóteses, muito mais do que nas métricas, que é o cenário das companhias de late stage.
Gustavo pontuou que uma correção no seed e no early é esperada para os próximos meses, mas com uma intensidade mais baixa que a observada no late stage. “O mercado está se ajustando em ondas. Houve um ajuste forte no mercado público lá fora e aqui. Na sequência a onda é no late stage, empresas que têm comportamento mais parecido com as de capital aberto. Então dá para fazer pareamento de métricas e valuations”, disse.
“No early stage, deve haver uma correção de volume e quantidade de deals por causa desse comportamento, mas não vai sofrer igual porque não dá para comparar com empresas abertas. Mas é natural que fique mais difícil”, avaliou.
Queda no geral
Apesar de ser uma sinalização positiva, o avanço das captações no seed e early stage não foi suficiente para compensar a queda nas captações registrada pelas companhias de maior porte. Nem reverte o sentimento geral do mercado, que é de cautela.
Entre janeiro e junho, as startups brasileiras captaram US$ 2,92 bilhões em 327 deals. Em valores, foram 44% a menos. Em quantidade, 21%.
Gustavo fez questão de destacar que, apesar dos pesares, O ano ainda está muito acima do registrado em 2020. Na comparação em termos de valores, o 1º semestre de 2022 superou em 138% o registrado há 2 anos. O número de rodadas está 24% maior.
O 1º semestre de 2020 foi marcado pelo início da pandemia, que fez investidores ficaram mais receosos entre março e junho, mais ou menos. Depois disso, o mercado “destravou” e foi cresceu em ritmo acelerado surfando no excesso de liquidez no mercado. Essa euforia fez com que 2021 registrasse um recorde de investimentos ao redor do mundo, com a América Latina e o Brasil em destaque.
Como o 1º semestre não chegou a nem US$ 3 bilhões investidos, Gustavo disse que a expectativa inicial de que o mercado fechasse o ano com US$ 10 bilhões em aportes, superando os pouco mais US$ 9 bilhões de de 2021, não tem chance de acontecer. “2021 vai ficar como um outlier nas nossas medições”, disse.
Para ele as eleições não devem ter um impacto nas dinâmicas de investimento para o 2º semestre e o ambiente macroeconômico global é que deve ditar o ritmo por aqui. A expectativa é que o Brasil continue sendo um mercado que recebe bastante atenção, por conta dos inúmeros desafios estruturais enfrentados pelo país.