
Com uma infraestrutura sólida em ciência e tecnologia, a Suíça vem se consolidando como um destino estratégico para empreendedores que buscam conexões qualificadas, um ambiente estável para inovar e oportunidades de colaboração internacional. Parte desse movimento é impulsionada pela Swissnex, rede global do governo suíço que conecta o país a ecossistemas ao redor do mundo, promovendo parcerias em educação, pesquisa, inovação e empreendedorismo.
A Swissnex atua para facilitar a troca de conhecimento e experiências entre startups, universidades e indústrias. A organização promove iniciativas que incentivam a internacionalização de startups, a aproximação de talentos e o desenvolvimento de pesquisas colaborativas. “Nosso principal objetivo é conectar os pontos”, afirma Vincent Neumann, diretor de projetos da Swissnex Brasil. “Acreditamos na troca bilateral, com programas que gerem valor tanto para startups suíças quanto brasileiras”, completa.
O executivo destaca que, embora seja um país pequeno, a Suíça é altamente produtiva em conhecimento científico, o que atrai empreendedores de diversas partes do mundo. “Há uma forte colaboração entre indústria, academia e governo. Por isso, a região desenvolve muitas tecnologias de ponta, com várias deep techs surgindo nas universidades e, em pouco tempo, ganhando escala no mercado”, explica.
Cerca de 20% dos founders no país têm ligação com universidades, possuem mestrado/doutorado ou apresentam um alto nível de formação em pesquisa e conhecimento teórico-científico. A pauta da sustentabilidade também é central no ecossistema, com mais de 25% das startups locais endereçando temas ligados ao ESG.
Isabela Temístocles, gerente dos programas de startups e inovação da Swissnex Brasil, acrescenta que boa parte das startups suíças é fundada por estrangeiros. “A Suíça é um país muito colaborativo, em parte por sua localização estratégica e pelas quatro línguas oficiais, o que torna o país um ambiente propício para receber novas ideias e para que as startups já estejam internacionalizadas no coração da Europa”, pontua.
Fazendo a ponte Brasil-Suíça
Com escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo, a Swissnex está presente no Brasil desde 2014, promovendo programas e eventos que conectam fundadores brasileiros ao ecossistema suíço e ajudam empreendedores a entender melhor as dinâmicas de negócios de cada país. Entre as iniciativas, destaca-se o Academy Industry Training (AIT), criado para apoiar talentos emergentes com ferramentas, conteúdos e experiências voltadas à transformação de pesquisas aplicadas de alto nível em inovações sustentáveis e prontas para o mercado.
A organização também conduz o nexBio Amazônia, programa que reúne startups suíças e brasileiras para atuar em frentes da bioeconomia amazônica, capazes de melhorar a sustentabilidade e a eficiência das cadeias produtivas existentes. Outra iniciativa é o Pantanal Science Camp, em que os participantes vivenciam um acampamento científico com infraestrutura e suporte para conexão com pesquisadores, universidades e parceiros acadêmicos.
“Brasil e Suíça têm culturas muito diferentes”, observa Vincent. “No Brasil, até mesmo no mundo dos negócios, as relações tendem a ser mais pessoais, enquanto na Suíça as interações costumam ser mais transacionais. Além disso, empreendedores europeus que chegam ao Brasil se deparam com mais burocracia. Por isso, oferecemos treinamentos para ajudar os suíços que vêm empreender aqui a navegarem com mais facilidade nesse ambiente.”
Do outro lado, os brasileiros que escalam para a Europa muitas vezes enfrentam dificuldades para se enxergar naquele contexto. “São ambientes que as startups brasileiras podem e devem ocupar. No entanto, ainda existe o desafio de se perceberem como parte daquele ecossistema. É uma barreira que precisa ser superada, porque as startups brasileiras têm muito potencial para se tornarem internacionais”, analisa Isabela.
Outra diferença está na forma como cada país encara a expansão internacional. Na Suíça, ela é vista como uma necessidade: por ser um país pequeno, com cerca de 8 milhões de habitantes, é preciso buscar outros mercados para escalar um negócio. No Brasil, a internacionalização é tratada como uma estratégia para ampliar o alcance e a relevância das startups, que, mesmo em um mercado interno de grandes proporções, encontram novas oportunidades ao se posicionar globalmente.
Visão de longo prazo
“O Brasil tem grande potencial nos mercados de sustentabilidade e transição energética”, afirma Vincent. “Acreditamos que muitas soluções desenvolvidas na Suíça podem agregar valor à economia brasileira. Por isso, queremos fomentar essa parceria e enxergamos com bons olhos a abertura do Brasil para inovações vindas de fora.”
Apesar das oportunidades, Vincent reconhece um desafio comum entre os dois ecossistemas. “Captar investimentos ainda é um obstáculo para o crescimento das startups locais, e é algo que tem muito a evoluir tanto no Brasil quanto na Suíça”, pontua.
Com a COP30 se aproximando, a Swissnex planeja intensificar suas atividades no Brasil, promovendo eventos e iniciativas que conectem startups suíças e brasileiras com soluções voltadas à preservação da biodiversidade e ao combate às mudanças climáticas. “Estou ansioso para aproveitar a COP30 como ponto de partida para novos projetos na área de sustentabilidade entre Suíça e Brasil”, diz o executivo.
Os planos da Swissnex para o segundo semestre incluem ainda um programa de soft landing voltado para startups suíças em processo de expansão para o Brasil, além de uma iniciativa com startups que podem contribuir para desafios na infraestrutura do país.