
Enquanto a COP 30 debate ações contra a crise climática em Belém, no Pará, Brasil e Reino Unido uniram forças para lançar um programa binacional que promete destravar a próxima geração de tecnologias de descarbonização industrial. A ideia é atacar um dos principais desafios para a inovação climática: transformar ciência em escala comercial.
A iniciativa, anunciada na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo, nasce com um aporte inicial de US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 8 milhões) provenientes do governo britânico e mira startups early-stage.
Entre os executores do programa está o CINK Group, empresa baseada em Londres e com subsidiárias no Brasil. Segundo Felipe Cruz, CEO do grupo, a empresa trabalha em três vertentes — consultoria, economia real e capital — e viu na iniciativa uma oportunidade de facilitar a jornada de climate techs até a escala comercial.
Ele destacou que o programa lançado pelo Brasil e Reino Unido reúne desde assistência técnica até a criação de um ecossistema financeiro para viabilizar demonstrações industriais de tecnologias ligadas à transição energética ou remoção de carbono.
“Começa pela demanda da indústria, com a identificação das principais necessidades em metas de descarbonização em setores como aço, alumínio, vidro, cimento, petroquímica, e papel e celulose. Isso é bastante positivo porque o que a gente vê no mercado é muito investimento do lado do supply, então o fato de ser um programa industry led é um diferencial. Depois disso, vem a etapa de originação de soluções, que muitas vezes surgem dentro das universidades, mas encontram desafios para ir para o mercado”, explica Felipe.
Incubadora para descarbonização industrial
Batizado de Industrial Decarbonisation Incubator (IDIC), o programa terá duração de dois anos e busca habilitar pelo menos dois projetos de demonstração — com ambição de chegar a cinco — para validar soluções de alto impacto em ambiente industrial. Cada projeto terá investimento estimado entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões.
A incubadora é parte do Industrial Decarbonisation Hub (ID Hub), iniciativa lançada na COP 28 e estruturada como uma country platform para impulsionar a descarbonização em larga escala por meio de cooperação entre governos, agências multilaterais e empresas.
Fruto de cooperação entre o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) do Brasil e o Departamento de Segurança Energética e Emissões Líquidas Zero do Reino Unido (DESNZ), o projeto é coordenado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e executado pela Energy Systems Catapult (ESC). Além disso, conta com a participação do CINK Group, ABGI, KPTL e Neoventures, e suporte estratégico da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O processo começa com até 20 empresas selecionadas, que passarão por um funil de avaliação técnica e de negócios. Ao final, as 10 mais maduras e com maior potencial de implementação seguirão para a fase de incubação.
Felipe Cruz afirmou que o programa inclui pilotos de demonstração do tipo first-of-a-kind (FOAK) e que soluções deep tech, especialmente as baseadas em hardware, exigem diferentes tipos de capital. Por isso, o CINK atua na orquestração de instrumentos financeiros que vão de grants a crédito concessional, passando por equity e modelos de blended finance, utilizando capital público e de bancos de fomento para reduzir risco para fundos de venture capital e private equity — um fluxo que ele considera ainda tímido no setor.
O lançamento mobilizou representantes dos dois governos e de organismos multilaterais. Julia Cruz, secretária de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC, afirmou que a parceria reforça a descarbonização como pilar da reindustrialização brasileira. Para Katie White, ministra britânica do Clima, o programa abre novas possibilidades para empresas britânicas e globais no mercado brasileiro de energia limpa. Já Rana Ghoneim, diretora da UNIDO, apontou que a incubadora conecta tecnologia, políticas públicas e investimentos, fortalecendo a competitividade industrial de baixo carbono. Peter Weston, do ESC, destacou que desafios climáticos exigem soluções e aprendizados que ultrapassam fronteiras nacionais.