Sustentabilidade

Deeptech carioca usa resíduos orgânicos para capturar CO2

CarbonAir Energy lançou no fim de agosto o seu primeiro módulo capaz de remover até uma tonelada de CO2 da atmosfera por ano

Leitura: 4 Minutos
José Adolfo e Bianca Peres, sócios da CarbonAir | Foto: Divulgação
José Adolfo e Bianca Peres, sócios da CarbonAir | Foto: Divulgação

Uma deeptech carioca, residente na Incubadora de Empresas da Coppe UFRJ, desenvolveu uma tecnologia que consegue, ao mesmo tempo, reutilizar resíduos da indústria pesqueira, capturar CO2 da atmosfera e ainda produzir derivados, como carbonato de cálcio e metanol – insumos importantes para diversas indústrias. Depois de anos de pesquisa, a CarbonAir Energy lançou no fim de agosto o seu primeiro módulo capaz de remover até uma tonelada de CO2 da atmosfera por ano.

A solução já chamou a atenção de corporações de segmentos que são grandes emissores de carbono, como a indústria de petróleo, cosméticos, siderúrgicas, entre outros. A startup também participou de programas de inovação como Shell StartUp Engine e o NAVE ANP, além do Startup Rio 2020 e Doutor Empreendedor.

Chamada de Direct Air Capture (DAC), a tecnologia já é utilizada em outros países, mas o módulo desenvolvido pela CarbonAir Energy possui alguns diferenciais. O primeiro é que o material usado para adsorver o carbono é uma biomassa, um material orgânico feito com resíduos da indústria pesqueira, como exoesqueleto de crustáceos. Hoje, a CarbonAir Energy tem a patente do tratamento desses resíduos no Brasil.

“Existem concorrentes internacionais, mas lá fora eles usam materiais sólidos muito caros ou uma solução líquida que são aminas, derivadas do petróleo. O que a gente propõe é um material renovável, com consumo energético menor e um processo mais barato”, explica a sócia-fundadora da CarbonAir, Bianca Peres.

Outro diferencial da startup é que o mesmo módulo que captura o CO2 também converte em derivados. Hoje, a CarbonAir Energy produz apenas carbonato de cálcio, um insumo que é utilizado em indústrias de cimento, papel, agro, entre outras. No entanto, por meio do NAVE, o programa de empreendedorismo da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a deeptech está desenvolvendo um projeto para conversão em metanol e metano, insumos utilizados pela indústria de óleo e gás.

O módulo criado pela CarbonAir Energy tem menos de dois metros de comprimento, mas, segundo Bianca, é possível replicar o modelo em módulos maiores, como em containers. Em um contêiner de 10 pés, por exemplo, seria possível dobrar a capacidade de captura. Com o módulo atual, a captura de carbono equivale a 100 árvores por ano.

“A ideia é que a gente faça a instalação de uma fazenda de captura, movida a energia solar”, antecipa Bianca. Os módulos precisam de eletricidade para o motor que puxa o ar de fora. No entanto, a fundadora explica que o consumo é menor que de uma geladeira por mês.

Apesar das vantagens óbvias dessa tecnologia para o meio ambiente, Bianca afirma que ainda existem desafios do ponto de vista de atratividade para as empresas.

“Tem muita multinacional que tem uma exigência de atingir metas de redução ou compensação de carbono, mas a maioria ainda está pagando para ver quando se fala nas metas de 2030, 2050. Falta uma regulação no Brasil que incentive esse tipo de ação, que a maior parte das companhias ainda enxerga como gasto”, aponta.

Ela cita como exemplo de regulação a lei do ISS Neutro no Rio de Janeiro, voltado para empresas instaladas no município que desejam neutralizar suas emissões. Companhias que preenchem os requisitos do programa têm uma redução no imposto municipal, que passa de 5% para 2%.

“Muitas empresas que nos procuram se interessam pela propaganda em torno da sustentabilidade, mas uma regulação e programas de incentivo como o do ISS Neutro poderiam ajudar a fomentar esse mercado”, avalia Bianca.