Bill Gates | Foto: Reprodução; Shutterstock
Bill Gates | Foto: Reprodução; Shutterstock

A comunidade científica tem alertado há décadas para as consequências das mudanças climáticas no planeta. O aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes, queimadas, são alguns desses efeitos, com impactos principalmente na agricultura e nas condições de sobrevivência das populações mais vulneráveis. Cada vez que a temperatura da terra aumenta em 1ºC, esses efeitos são agravados. Para Bill Gates, porém, as mudanças climáticas não são o fim do mundo.

Em um post em seu blog, o bilionário fundador da Microsoft disse que, embora as mudanças climáticas sejam um problema sério, elas não levarão à extinção da humanidade (ah bom, ufa!). Para Bill Gates, o mundo deveria deixar de focar na redução da temperatura da Terra e buscar formas de mitigar os efeitos dessas mudanças.

“Embora as mudanças climáticas tenham consequências graves — especialmente para as pessoas nos países mais pobres — elas não levarão à extinção da humanidade. As pessoas poderão viver e prosperar na maioria dos lugares da Terra no futuro próximo”, diz a publicação.

A declaração, feita às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), que acontece em novembro em Belém, no Pará, chama a atenção por vir justamente de alguém que, até pouco tempo, militava a favor de políticas climáticas.

Uma das iniciativas de Bill Gates nesse sentido é a Breakthrough Energy, focada em transição energética. A organização possui também um braço de investimento em climate techs, o Breakthrough Energy Ventures.

Em março deste ano, a Breakthrough Energy anunciou que estava se afastando do trabalho de advocacy em políticas públicas, demitindo os times nos Estados Unidos e Europa. A medida veio em meio a retaliações do governo Donald Trump a iniciativas climáticas, com a concessão de incentivos para combustíveis fósseis e a revogação de políticas ambientais e de clima.

No texto, Bill Gates reconhece que seu novo posicionamento pode gerar críticas, mas defende que os maiores problemas da humanidade não são as mudanças climáticas, mas sim a pobreza e as doenças.

“Às vezes, o mundo age como se qualquer esforço para combater as mudanças climáticas valesse tanto quanto qualquer outro. Como resultado, projetos menos eficazes estão desviando dinheiro e atenção de esforços que terão maior impacto na condição humana: ou seja, tornar acessível a eliminação de todas as emissões de gases de efeito estufa e reduzir a pobreza extrema com melhorias na agricultura e na saúde”, diz.

Para o bilionário, aparentemente não há dinheiro suficiente no mundo para financiar o combate às mudanças climáticas E medidas de redução à pobreza. É preciso escolher um dos dois.

“A COP30 está ocorrendo em um momento em que é especialmente importante extrair o máximo de cada dólar gasto em ajuda aos mais pobres. O montante disponível para ajudá-los — que já representava menos de 1% dos orçamentos dos países ricos em seu nível mais alto — está diminuindo à medida que os países ricos cortam seus orçamentos de ajuda e os países de baixa renda estão sobrecarregados com dívidas. Precisamos pensar rigorosa e numericamente sobre como aplicar o tempo e o dinheiro que temos da melhor forma possível”, afirma.

Impactos das mudanças climáticas

Relatório Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) mostra que o aquecimento global provocado pelo ser humano atingiu aproximadamente 1°C acima dos níveis pré-industriais e está ocorrendo a cerca de 0,2°C por década. O documento recomenda que não se ultrapasse o aumento de 1,5ºC na temperatura.

Nesse cenário, o planeta enfrentará aumento na frequência e intensidade de ondas de calor, secas, chuvas extremas e enchentes, além de perdas severas de biodiversidade — com até 90% dos recifes de coral tropicais desaparecendo. No entanto, os riscos para a segurança alimentar, a disponibilidade de água e a elevação do nível do mar seriam substancialmente menores, permitindo maior capacidade de adaptação humana e ecológica. Também haveria menos mortes por calor, menores desigualdades sociais e menos populações expostas a eventos climáticos extremos.

Se o aquecimento global atingir 2°C acima dos níveis pré-industriais, os impactos se tornam muito mais graves e, em vários casos, irreversíveis, segundo o IPCC. Nesse cenário, as ondas de calor se tornam intensas e prolongadas, afetando centenas de milhões de pessoas; regiões tropicais e subtropicais podem enfrentar temperaturas letais em períodos do ano. A elevação do nível do mar pode ultrapassar 1 metro nos séculos seguintes, ameaçando cidades costeiras e ilhas inteiras. A produção de alimentos cai acentuadamente em várias regiões (especialmente na África, sul da Ásia e América Latina), e a escassez de água aumenta, afetando bilhões de pessoas.

Do ponto de vista ecológico, os efeitos seriam devastadores: mais de 99% dos recifes de coral desapareceriam, a Amazônia e outros ecossistemas poderiam sofrer colapsos parciais, e a taxa de extinção de espécies aumentaria de forma dramática. As enchentes, furacões e secas extremas se tornariam muito mais frequentes, e as perdas econômicas globais cresceriam exponencialmente. Além disso, milhões de pessoas seriam forçadas a migrar por desastres climáticos, fome e falta de água, gerando crises humanitárias e conflitos.