A economia circular é uma das saídas para reduzir os danos que causamos ao meio ambiente. E uma das formas de atuar nesse modelo é através da reutilização de resíduos. É o caso da Muush, startup paranaense de biotecnologia, que produz um tecido semelhante ao couro utilizando resíduos agroindustriais como serragem, palha, sabugo e até mesmo borra de café.
Esses resíduos são usados para cultivar uma espécie de fungo. O biocouro é feito a partir da raiz desses cogumelos, chamada de micélio.
A Muush faz parte do grupo Fungi Tecnologia, que engloba outras duas startups: a Mush, que substitui materiais como isopor e poliuretano, e a Typical, de proteínas alternativas. Ambas também utilizam o micélio como matéria-prima.
Fundada em 2019, a Muush ganhou tração a partir de 2020, quando também ganhou o reforço de Antonio Carlos de Francisco, professor permanente e voluntário do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Hoje CEO da Muush, Antonio Carlos afirma que a produção do biocouro utiliza menos metais pesados e água em comparação ao couro bovino, reduzindo os impactos ambientais. Segundo ele, o processo de tratamento do couro tradicional, de origem animal, usa cerca de 25kg de produtos químicos, enquanto o tecido de micélio usa apenas 5kg, que são taninos de casca de árvore.
“Nós emitimos hoje 7kg de CO2 para cada metro quadrado, enquanto o couro bovino emite entre 35kg e 40kg. Mas nosso objetivo é emitir ainda menos, pois quando a produção aumentar os nossos resíduos poderão ser reutilizados pela Mush para a produção de placas que substituem plástico e fibrocimento”, explica o CEO.
Segundo ele, a ideia é que em todas as etapas de produção do biocouro os resíduos possam ser aproveitados em outras indústrias.
“Se jogar fora a nossa placa ou biotecido, não vai fazer mal ao meio ambiente, porque é biodegradável. Mas o certo é fazer a destinação correta. No tratamento do couro bovino, por exemplo, um dos maiores problemas é a lama, o lodo que sobra. No nosso caso, quando tivermos uma produção maior, teremos compradores para o tanino e glicerol, que podem ser reutilizados na indústria química. Trabalhamos com a perspectiva de resíduo zero”, acrescenta Antonio Carlos.
A Muush captou em 2023 uma rodada de investimento-anjo no valor de R$ 1,8 milhão, mas quer expandir a produção antes de abrir uma nova rodada. Hoje, a startup produz cerca de 80 a 100 metros quadrados por mês de biocouro, e pretende aumentar para 200m².
Atualmente, a empresa ainda não comercializa o tecido, mas possui parceiros para desenvolver os produtos a partir do biocouro. As primeiras produções serão feitas com a Beatnik, marca de design brasileiro que produz mochilas, bolsas, malas e acessórios de viagem.
“Estamos de namoro com várias marcas, enviando amostras para que eles conheçam e comecem a trabalhar. Também estamos mandando para fora do país, já tem algumas marcas entrando em contato. Sempre tivemos paixão em unir ciência, tecnologia e meio ambiente em prol da sociedade. É possível gerar receita com o mínimo de impacto possível”, diz o CEO.