Na segunda-feira (26), o Banco Central definiu um limite máximo de 0,7% para a tarifa de intercâmbio em cartões pré-pagos, emitidos por fintechs. Na prática, a resolução altera toda a dinâmica de cartão pré-pago, limitando os ganhos das startups para uma porcentagem significativamente menor do que elas estavam costumadas a receber.
Executivos com familiaridade no assunto ouvidos pelo Startups afirmam que a mudança pode reduzir de 60% a 70% do faturamento de algumas fintechs, o que vai criar uma corrida para achar fontes alternativas de ganhar dinheiro.
Nesse contexto, o Startups procurou a Zetta, associação sem fins lucrativos fundada pelo Nubank e Mercado Pago, para discutir os impactos da resolução na operação das startups, espsecialmente fintechs. A organização reúne associados como Creditas, Dock, Cora, Hash, Movile, will bank e a empresa de benefícios Caju.
“As receitas de intercâmbio foram fundamentais para possibilitar a oferta pelas fintechs de mais de 90 milhões de contas digitais gratuitas ao longo do último ano”, diz a Zetta, em comunicado. “Acreditamos que a nova norma sobre o limite da tarifa de intercâmbio para cartões pré-pagos levou em consideração o importante papel dos cartões pré-pagos para a inclusão financeira.”
A visão mais otimista da Zetta está alinhada com o posicionamento da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). “A gente recebe essa publicação com bons olhos, porque trabalhamos muito para que não houvesse uma linha de corte muito baixa que prejudicasse em demasia as fintechs e nem tanto as instituições financeiras”, afirmou Diego Perez, presidente da ABFintechs, ao Startups.
Isso porque ao invés de igualar as taxas para o débito e crédito, o Banco Central fez uma distinção: crédito e pré-pago em 0,7%; débito em 0,5%. “O BC foi sábio em conseguir equilibrar os detalhes e as particularidades de um meio para o outro. Os ajustes souberam equilibrar a coexistência de fintech e instituições financeiras de maior porte”, pontua Diego.
A Zetta acrescenta que seguirá atuando na defesa da inclusão financeira, no uso da tecnologia e no aumento da competitividade como forma de gerar mais eficiência, transparência e reduzir os custos para os consumidores.
Possíveis impactos
“Embora seja difícil estimar o impacto em cada empresa, acreditamos que as mudanças devem ter um impacto positivo na aquisição de negócios, pelo menos no curto prazo e um impacto negativo no negócio de emissão de cartões”, afirma o UBS BB Investment Bank, no relatório Brazilian Payments.
Do lado da emissão de cartões, a companhia projeta um efeito abaixo de 1% da receita total do Mercado Pago e Stone. Para o PagBank, estima-se um impacto de 1-2% do total receitas em 2023. O Nubank afirmou em comunicado que se a resolução do BC estivesse em vigor em vigor desde 1º de julho de 2021, sua receita teria sido afetada negativamente em 2,9%.
Para empresas de benefícios corporativos, uma alternativa será reforçar as estratégias M&A para investir em ofertas multiproduto. Exemplo disso é a Flash, que adquiriu a ExpenseOn em julho deste ano para entrar no mercado de gestão de despesas corporativas.
Já as fintechs devem apostar na oferta de produtos de crédito, analisa Gustavo Souza, managing partner do fundo SaaSholic, especializado em investir em empresas SaaS latino-americanas em estágio inicial. Além disso, as startups devem focar cada vez mais em ofertas de software, cobrando assinaturas como outra avenida de monetização. Sem a criação de novos produtos, essas empresas terão que gerar um volume gigantesco de transações para compensar a redução da taxa de intercâmbio.
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